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Alta da Selic impacta investimentos e torna empréstimo mais caro; entenda

Alta da Selic impacta investimentos e torna empréstimo mais caro; entenda

O Copom anunciou novo reajuste da taxa básica de juros para tentar conter a inflação. Reflexos são percebidos nas taxas de financiamento e até na rentabilidade de aplicações como a poupança; saiba mais

Publicado em 22 de setembro de 2021 às 20:33

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É o quinto aumento da Selic em 2021, desde que a taxa deixou a mínima histórica de 2%. (Pexels)

Em um movimento já antecipado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil reajustou nesta quarta-feira (22) a taxa Selic, que passou para 6,25% ao ano, após elevação de 1 ponto percentual. É o quinto aumento em 2021, desde que a taxa deixou a mínima histórica de 2%, mantida por um período de sete meses. É também o patamar mais elevado desde junho de 2019 (6,5%).

A Selic é a taxa de juros básica do Brasil, ou seja, é usada no pagamento da dívida pública pelo governo. Ela também é utilizada como ferramenta para controlar a inflação, que está em alta no país diante de elevação do câmbio, da pressão das commodities, dos reajustes nos preços de combustíveis e da severa crise hídrica e energética, que tem encarecido a produção de diversos bens de consumo, assim como serviços e gastos com habitação.

Para este ano, o centro da meta de inflação do país é de 3,75%, com teto de 5,25%. Contudo, já está estabelecido que não há possibilidade de o objetivo ser cumprido. Segundo último boletim Focus — sondagem do BC com agentes do mercado financeiro —, divulgado na segunda-feira (20), a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) deste ano é de 8,35%.

Neste contexto, o mercado prevê que a Selic deve continuar subindo nos próximos meses, e pode chegar a 8,25% ao ano, até o final de 2021.

Entre outras áreas, a taxa básica também influencia as taxas de juros cobradas pelos bancos, como as aplicadas em empréstimos, financiamentos imobiliários e cartões de crédito, além de alterar a rentabilidade de algumas aplicações como a poupança e outros investimentos mais conservadores, chamados de renda fixa.

ENTENDA OS IMPACTOS DA ALTA DA SELIC NA ECONOMIA

Consumo

A Selic é usada pelo Banco Central como ferramenta de controle da inflação. Em linhas gerais, quando a inflação está baixa, os juros caem para estimular o consumo. Quando está alta, os juros sobem para reduzir o consumo e forçar uma queda nos preços. Com a alta da taxa, os juros de crédito, parcelamento e cheque especial ficam maiores, o que faz com que as famílias comprem menos.

“O objetivo por trás da correção da Selic é justamente conter a inflação no médio prazo, o que pode refletir, inclusive, na redução dos preços dos produtos importados, por exemplo. A tendência é que, aumentando a taxa de juros, haja maior atração de dinheiro estrangeiro, o que impacta no câmbio e torna os preços um pouco mais equilibrados”, observou o assessor de investimentos da Valor Investimentos, Leonardo Perini.

Financiamento imobiliário

Perini pontua ainda que os financiamentos imobiliários são uma das linhas de crédito mais rapidamente afetadas pela alta da Selic. Com o aumento da taxa básico, os bancos costumam reajustar a cobrança quase imediatamente. "Fica mais caro tomar crédito, fazer financiamentos. E deve haver um impacto."

Apesar da pandemia, o setor imobiliário teve crescimento no ano passado, motivado justamente pela queda das taxas de juros e pelo maior incentivo para a aquisição de imóveis para moradia ou investimentos. Os financiamentos com recursos das cadernetas de poupança atingiram R$ 123,97 bilhões no ano passado, alta de 57,5% em relação a 2019, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Acebip).

A alta dos juros torna o crédito mais caro e tende reduzir a demanda, desacelerando as atividades do setor imobiliário, principalmente no médio prazo, uma vez que são esperados novos reajustes da Selic no futuro.

Crédito para empresas

O aumento dos custos de financiamento também tem impacto negativo sobre as empresas, uma vez que, com a Selic mais alta, os bancos reajustam taxas em geral e o crédito fica mais caro. A mudança tende a dificultar a vida dos empresários que, em meio à crise, muitas vezes precisam pegar dinheiro emprestado para salvar seus negócios.

Dívida pública

Atualmente, a dívida da União já ultrapassa os R$ 5,395 trilhões, segundo dados do Tesouro Nacional, sendo que, deste total, R$ 761 bilhões foram contraídos no ano passado - o maior montante anual da série histórica, que começou em 2004. 

Como agravante, boa parte da dívida pública — que é emitida pelo Tesouro para pagar despesas que ficam acima da arrecadação com impostos e tributos — é indexada à Selic.

Assim, com a alta da taxa, é mais difícil que o governo central se financie e pouco resta para despesas não obrigatórias, como investimentos em infraestrutura e na expansão de programas sociais, como o novo Bolsa Família, que deve ser lançado em novembro.

Poupança

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Poupança rende, atualmente, o equivalente a 70% da taxa Selic, mais a TR. (Pexels)

Segundo especialistas, a nova alta da Selic não significa que guardar dinheiro na poupança já vale a pena. Quando a taxa é maior ou igual a 8,5% ao ano, a poupança tem rendimento de 0,5% ao mês mais a TR (taxa referencial). Quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano, a poupança rende o equivalente a 70% da taxa básica. Ou seja, o rendimento que estava em 3,675% ao ano com a Selic em 5,25%, passou para 4,375% ao ano com a elevação dos juros.

Ainda assim, conforme observou o sócio-fundador da Pedra Azul Investimentos, Lélio Monteiro, a rentabilidade segue abaixo da inflação, e, apesar de ser um investimento considerado seguro, não é vantajoso para o investidor, que pode encontrar outras opções de baixo risco mais lucrativas.

“O rendimento que interessa é o rendimento acima da inflação. Tudo que rende abaixo da inflação significa perda de valor. E temos a Selic ainda abaixo do IPCA, que está rodando em torno de 8% a 9% ao ano. Na prática, o BC não está elevando a taxa nominalmente, mas correndo atrás da inflação.”

Outras opções de renda fixa

Com o aumento da Selic, os títulos da dívida pública (Tesouro Direto), que são mais seguros, devem apresentar uma rentabilidade maior que a atual. O mesmo ocorre com os rendimentos da categoria renda fixa pós-fixadas, que são atreladas à taxa básica de juros.

Na medida em que novos aumentos vão sendo implementados, os investimentos se tornam mais vantajosos. É o caso, por exemplo, do Certificado de Depósito Bancário (CDB), que é um título emitido pelos bancos para captar recursos de investidores.

Outro exemplo é a Letra de Câmbio, um título de renda fixa da mesma família do CDB e das LCIs/LCAs (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio). Contudo, em vez de ser um título emitido por bancos, é utilizado por financeiras para captar recursos no mercado e emprestar aos clientes. Frequentemente, essas opções pagam mais que os CDBs.

"São opções que têm risco semelhante ao da poupança e podem ter uma rentabilidade melhor, dependendo da negociação com o banco, que às vezes paga 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, que é um título que serve como lastro de empréstimos entre os bancos), ou até um pouco mais. Somente se o banco pagar 80% do CDI, por exemplo, e ainda descontar o Imposto de Renda, deixa de ser vantajoso", observou o assessor de investimentos da Valor Investimentos, Leonardo Perini.

Lélio Monteiro, da Pedra Azul Investimentos, pontua, porém, que assim como a poupança esses investimentos pré-fixados estão "correndo atrás da inflação" e é preciso avaliar cada caso para definir se o investimento é mesmo vantajoso.

Investimentos em renda variável

No ano passado, a redução da Selic à mínima histórica de 2% causou uma migração de investidores para a Bolsa de Valores em busca de ativos de renda variável, que embora sejam mais arriscados, também são mais rentáveis.

A avaliação de especialistas é que o patamar atual da Selic, por si só, ainda é insuficiente para reverter esse movimento, considerando a alta da inflação. Por outro lado, há uma tendência de que, conforme novos reajustes forem sendo aplicados, investir em renda variável se torne menos atrativo.

“No momento em que você tem uma rentabilidade maior em investimentos mais seguro, há uma menor procura por investimentos de risco. Mas é claro que não é só a Selic que pesa sobre a decisão de manter ou não um investimento do tipo. Temos o cenário internacional, político, cenário fiscal do governo, pode ser vantajoso para um investidor que tenha uma visão de longo prazo, e considerando sempre aquela máxima de diversificação de investimentos”, observou Leonardo Perini.

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Já Monteiro considera que, enquanto a Selic não ultrapassar a margem da inflação, o impacto sobre a renda variável será apenas marginal.

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