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'Absurdo': trabalhadores criticam fila para cancelar taxa de sindicato no ES

'Absurdo': trabalhadores criticam fila para cancelar taxa de sindicato no ES

Profissionais da saúde reclamam de horário de atendimento e limitações para que carta de oposição seja aceita pelo Sintrasades

Publicado em 27 de outubro de 2023 às 10:58

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Isabelle Oliveira
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Trabalhadores da saúde têm enfrentado filas, em Vitória, para não ter o salário reduzido por uma taxa cobrada pelo sindicato da categoria. Para evitar o desconto no contracheque, os profissionais dizem que é preciso apresentar uma carta de oposição escrita à mão, além de documento de identidade, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Hospitais e Empresas de Saúde Filantrópicas e Privadas do Estado do Espírito Santo (Sintrasades), que fica na Cidade Alta.

A situação está sendo investigada pelo Ministério Público do Trabalho do Espírito Santo (MPT-ES), que informou que vem recebendo denúncias sobre a conduta do sindicato.

Muitos trabalhadores relatam que, após enfrentarem horas na fila — que circula vários quarteirões na região —, ainda voltam para casa sem conseguir anular a cobrança da taxa. Isso porque comprovantes digitais e documentos com mais de 10 anos de expedição não estão sendo aceitos pela entidade.

Foi o que aconteceu com a técnica de segurança do trabalho Taline Santos, que passou quatro horas na fila na última terça-feira (24) para ser atendida e, no fim, não resolveu a situação. Acabou tendo de voltar no dia seguinte.

Aspas de citação

Eu estive aqui ontem (terça) e, por conta da data de expedição da minha Carteira de Identidade, não foi possível realizar o que eu queria, que era o protocolo na minha carta de oposição (à cobrança da taxa). Aí, hoje (quarta) eu retornei para fazer novamente uma tentativa

Taline Santos
Técnica de segurança do trabalho
Aspas de citação
Taline Santos
Taline Santos enfrentou a fila duas vezes. Na primeira delas, a profissional aguardou por quatro horas. (Ricardo Medeiros)

A taxa cobrada pelo Sintrasades equivale a 1% de contribuição assistencial e seria descontada do salário dos profissionais todos os meses até outubro de 2024. Para não sofrer esse desconto, os trabalhadores chegam horas antes de o sindicato iniciar o atendimento, que vai das 13h às 16h.

“Hoje (quarta-feira) eu cheguei por volta de 10h40. Trabalhei 24 horas direto, saí do plantão, passei em casa e vim para cá. Cheguei bem cedo e fiquei aqui. Agora a fila está dando volta no quarteirão”, relatou o técnico em radiologia Adriano Ferreira.

Segundo os profissionais da saúde, próximo ao horário do fim do expediente, representantes do sindicato começam a entregar senhas para limitar o atendimento. A situação foi confirmada pelo advogado Diego Nunes, representante do Sintrasades.

Aspas de citação

A partir das 16h, a gente distribui 120 senhas para atendimento. Quando acaba, infelizmente, a gente fecha e aí só no dia seguinte

Diego Nunes
Advogado do Sintrasades
Aspas de citação
Fila para entregar documentos no Sindicato dos Trabalhadores em Hospitais
Fila para entregar documentos no Sintrasades. (Ricardo Medeiros)

O advogado atribui as longas filas ao fato de muitos trabalhadores pensarem que a data-limite para entrega dos documentos vai até esta sexta-feira (27). Segundo ele, o prazo termina na próxima terça-feira (31).

O representante do sindicato também afirma que não é preciso ir até a sede do sindicato para protocolar a carta de cancelamento da taxa. Segundo ele, o pedido também pode ser feito pelo e-mail da organização ([email protected]). O advogado diz que, a partir do envio da carta de oposição com a assinatura autenticada e do documento de identidade, o profissional de saúde receberá um protocolo, que pode ser apresentado ao RH da empresa onde trabalha como comprovante da não adesão à taxa.

Diego Nunes
Advogado Diego Nunes, representante do sindicato. (Ricardo Medeiros)

Apesar dessa explicação, os trabalhadores da saúde não escondem a revolta com a situação e culpam o sindicato pela falta de organização.

“Eles deveriam ter organizado de uma forma melhor para que a gente não precisasse passar por esse constrangimento de ficar em fila por longas horas até que venha a ser atendido”, disse Taline Santos.

A aglomeração de pessoas nas proximidades do sindicato acabou causando até uma briga, na tarde de quinta-feira (26). De acordo com informações da PM, que chegou a ser acionada, a confusão acabou sendo resolvida no diálogo entre as partes envolvidas.

MPT investiga a situação

O Ministério Público do Trabalho do Espírito Santo (MPT-ES) informou que vem recebendo denúncias sobre a conduta do sindicato desde o último dia 19. O órgão afirma estar tomando as providências necessárias para investigar a situação. Segundo o MPT-ES, grande parte das reclamações se referem à validade dos documentos de identidade e ao horário de atendimento para o recebimento das cartas de oposição.

Segundo o órgão, as cobranças e contribuições sindicais vinculadas ao Sintrasades foram discutidas na Justiça por anos. Até que, em 2021, foi firmado um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), no qual ficou acertado que o direito de oposição às taxas sindicais poderá ser feito por qualquer meio, inclusive eletrônico, até 10 dias após o efetivo desconto na folha de pagamento. O Ministério Público do Trabalha investiga se está havendo o descumprimento dessa TAC.

"Há procedimento novo instaurado com a notícia de que a nova convenção coletiva da categoria está em descompasso com o que prevê o termo de ajuste de conduta já citado, o que certamente será alvo de atuação firme do Ministério Público do Trabalho", diz um trecho da nota enviada à reportagem.

ISABELLE OLIVEIRA é aluna do 26º Curso de Residência em Jornalismo. Este conteúdo teve orientação e edição do editor Weber Caldas.

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