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Publicado em 3 de janeiro de 2021 às 13:12
- Atualizado há 5 anos
Um campo de futebol em meio à área do aeroporto. Um viaduto que liga nada a lugar nenhum. Uma barreira curiosa no mar de Vitória. Esses são alguns exemplos de curiosidades e mistérios que as imagens de satélite revelam sobre portos, aeroportos e ferrovias no Espírito Santo.>
Algumas são descobertas impressionantes, como o avião abandonado na mata do aeroporto da Capital e o cemitério de vagões na zona rural da Serra, já mostrados por A Gazeta. Mas a reportagem vasculhou as imagens do Google Earth e foi atrás de mais enigmas. Reunimos os sete principais abaixo. Confira:>
PORTO DE TUBARÃO, EM VITÓRIA
Próximo ao Porto de Tubarão, em Vitória, o satélite flagrou um objeto misterioso no mar que aparenta ser uma boia ou uma rede de cor vermelha. Trata-se, na verdade, de uma das barreiras de contenção que ficam perto dos terminais portuários para casos de vazamentos de óleo.>
Segundo a Transpetro, que opera no local o píer de abastecimento de navios com óleo bunker, essa estrutura fica próxima dos navios. Quando uma embarcação vai atracar, a barreira é deslocada para acomodar o navio que entra. Já na saída, ela é afastada para dar espaço para a movimentação. >
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Essas itens de contenção, semelhantes a boias, são comuns em portos e plataformas. Trata-se de uma medida preventiva para permitir que, caso algum acidente ambiental aconteça, o controle seja rápido, evitando a contaminação de outras áreas.>
É uma estrutura semelhante a que foi usada pela Samarco em 2015 em Regência, Linhares, na tentativa de conter a lama da barragem de Fundão, em Mariana, que chegou ao mar capixaba através do Rio Doce. >
AEROPORTO DE VITÓRIA
Em plena área do Aeroporto de Vitória, entre as duas pistas de pousos, terminal de passageiros e a mata que "protege" seu entorno, chama a atenção uma estrutura diferente para esse tipo de local: um campo de futebol society que fica próximo da rodovia Norte Sul.>
Trata-se de um campo que era da Associação dos Servidores da Infraero em Vitória (Assinfra), que tinha sede no local. Segundo a Zurich Airport, que assumiu a gestão do terminal em janeiro de 2019, a área pertence ao sitio aeroportuário e faz parte do contrato de concessão.>
A Zurich esclareceu ainda que já recebeu a área sem utilização e desmobilizada pelo clube e que o local "faz parte dos planos de desenvolvimento de real estate para o Aeroporto de Vitória", ou seja, é um espaço que pode receber novos empreendimentos em breve.>
ESTRADA DE FERRO VITÓRIA A MINAS, EM JOÃO NEIVA
Mesmo demolido há poucos meses, a imagem de um viaduto continua chamando atenção nas imagens de satélite. A estrutura podia ser vista também pela rodovia e de trem na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). Ficava na região de Monte Seco, em João Neiva, na divisa com Ibiraçu. E chamava atenção por ligar o nada ao lugar nenhum e porque passava por cima dos trilhos.>
No traçado original da BR 101, a rodovia passava por este viaduto. Só que esse trecho foi desativado há quase duas décadas após um desvio na estrada.>
Como já mostrou A Gazeta, a demolição do viaduto estava prevista como uma das obras que a Vale terá que fazer ao longo do traçado da EFVM no Espírito Santo. Segundo os documentos da renovação da concessão da linha férrea, a obra deve demandar R$ 3 milhões.>
O contrato previa que a retirada fosse feita em até um ano após a assinatura da renovação. A obra foi finalizada em agosto de 2021, conforme revelou A Gazeta.>
AERÓDROMO PRIMO BITTI, EM ARACRUZ
A Gazeta já mostrou que o Espírito Santo tem 11 aeroportos, sendo quatro privados. Um deles é o aeródromo Primo Bitti, em Aracruz, construído pela antiga Aracruz Celulose no início dos anos 2000. Hoje a estrutura é de propriedade da Suzano.>
Apesar de ter uma das maiores pistas de pousos do Estado, por ser um aeroporto privado, o local não recebe operações comerciais ou regulares. Diante disso, chama a atenção que o satélite flagrou duas aeronaves no pátio do aeródromo, sendo que uma delas inclusive aparenta ser de grande porte.>
A reportagem apurou que o aeródromo recebe operações da própria Suzano e de companhias parceiras, como a Imetame, que também tem como sede a cidade de Aracruz e que é uma das que mais utiliza o espaço. Esse avião maior que é visto pelo satélite, inclusive, seria da Imetame.>
A empresa confirmou que usa o aeródromo para o transporte corporativo aéreo de seus colaboradores numa aeronave ATR-72-600, que tem capacidade para 72 passageiros. O modelo é usado por companhias aéreas como a Azul para fazer voos regionais, como o voo Vitória - Governador Valadares, por exemplo. É também neste tipo de avião que a mesma aérea quer voar para Linhares.>
Segundo a Imetame, o avião é utilizado para o transporte de todos os colaboradores da empresa para prestar serviços fora do Estado, proporcionando mais conforto, segurança e bem-estar. A empresa fazer esse transporte aéreo desde 2012, sendo que o ART-72-600 é usado desde 2019.>
ESTRADA DE FERRO VITÓRIA A MINAS E RIO DOCE, EM COLATINA
Uma obra faraônica, que prometia ser um dos maiores investimentos federais no Estado, mas que acabou virando um verdadeiro monumento ao desperdício do dinheiro público. Trata-se da icônica ponte que ligaria o distrito de Itapina, em Colatina, à BR 259, passando por cima da Estrada de Ferro Vitória a Minas e do Rio Doce.>
A obra começou a ser construída nos anos 50, no governo de Juscelino Kubitschek. Era a época do boom do café, que fazia o distrito prosperar e ganhar protagonismo no Estado. Mas, com o declínio dos cafezais e a falta de interesse político em Brasília, Itapina e a ponte caíram no esquecimento. >
A Gazeta chegou a mostrar, em 2007, que a estrutura teve 60% dos serviços executados e que o canteiro de obras foi abandonado cerca de dois anos após o início e, depois, nada mais foi feito. A reportagem também mostrava que a edificação estava condenada.>
O gigantesco esqueleto sobre o Rio Doce, segundo a Prefeitura de Colatina, foi convertido em patrimônio histórico e é preservado por lei. A administração do município afirmou que tentou realizar um projeto para revitalização do local, mas que ele não foi aprovado em função do tombamento.>
A Vale, responsável pela ferrovia, não comentou sobre possíveis riscos que a ponte apresenta. A Secretaria de Estado de Cultura (Secult) também não respondeu sobre o tombamento da estrutura.>
AEROPORTO DE VITÓRIA
Além do campo de futebol, a área do Aeroporto de Vitória esconde outros segredos. Um deles é um avião abandonado em meio à mata, já mostrado por A Gazeta. Trata-se de uma aeronave de modelo Aero Commander, que foi trazida em 2006 para ficar no sítio aeroportuário da Capital e hoje está numa área próxima à Rodovia Norte Sul.>
O avião foi apreendido pela Receita Federal no interior de São Paulo e acabou vindo para o Estado para ser "guardado". Apesar de estar abandonada atualmente, a aeronave já teve utilidade prática em seus primeiros anos no aeroporto, segundo informações da Superintendência Regional da Receita Federal. Em seus dois anos iniciais em Vitória, porém, ele ficou desmontado.>
A aeronave foi destinada pela Receita para a Alfândega de Vitória em 2006, após a apreensão em São Paulo, para que fosse utilizada no treinamento de cães de faro e buscas em geral. Sem ter autorização para voar, a logística para trazer o equipamento para o Espírito Santo foi complicada, tendo sido necessário desmontá-lo na época.>
Fotos inéditas mostram avião perdido na mata do aeroporto virando lata-velha
Além de ter utilidade nos primeiros anos, a aeronave também era bem cuidada. Em 2010, ela passou por uma leve reforma na pintura, de acordo com a Receita. Mas, com os anos, foi deixando de ser usada nos treinamentos. Ela ficava nas imediações do antigo terminal do Aeroporto de Vitória. Isso até 2014, quando o avião foi removido para a mata próxima à pista de pousos e decolagens por solicitação da Infraero, que pretendia utilizá-la em "demonstrações de segurança aeroportuária".>
Porém, com as obras do novo aeroporto, que foram reiniciadas em 2015 e concluídas em 2018, o Aero Commander foi cada vez mais sendo deixado de lado e sua remoção para as proximidades da pista, de forma a ficar acessível para a realização dos treinamentos, foi prejudicada, permanecendo parado na mata do aeroporto até hoje.>
A Zurich Airport informou que o veículo não tem nenhuma serventia atualmente ao terminal e foi recebido pela empresa ao assumir a gestão da área em janeiro, sendo sua responsabilidade apenas guardá-lo em ambiente restrito de acesso.>
ESTRADA DE FERRO VITÓRIA A MINAS, SERRA
Uma mata em área privada na zona rural da Serra esconde um cemitério de vagões que pode ser visto pelas imagens de satélite. A reportagem de A Gazeta também já contou essa história e mostrou imagens impressionantes do que lembra um cenário pós-guerra, com dezenas de vagões e restos de maquinário de trens espalhados, sendo destruídos pela ação do tempo.>
Alguns vagões permanecem engatados, ainda em uma linha férrea, como se estivessem prontos para iniciar uma viagem, cujo destino se perde em meio à vegetação, rumo ao descarte e ao abandono. Outros estão descarrilados e tombados, envoltos pelo mato.>
Há ainda composições, que eram destinadas ao transporte de cargas, e que ainda estão carregadas com restos de ferro e de material que um dia foi utilizado na ferrovia. Peças pequenas e maiores também estão espalhadas por todo o canto. >
A Gazeta apurou que o descarte de vagões na região ocorre há mais de 20 anos, e que eles ficam no local até serem vendidos como sucata. Esse não é o único cemitério de trens e vagões do país. Há espaços semelhantes em várias cidades com operação de linha férrea. Locais onde a maioria das locomotivas definha com o passar do tempo.>
Cemitério de vagões
O cemitério de vagões está em área privada. A maior parte da terra pertence à Vale e é onde está sendo feito o descarte de um volume maior de composições. O restante é uma propriedade de um terceiro onde também está depositada parte do material. Próximo ao local, há um pátio de armazenamento de ferro-gusa. >
Por nota, a Vale informou que a área pertence à faixa de domínio ferroviária e que o local é utilizado para estocagem provisória de vagões em fase final de vida útil. Informou ainda que os “equipamentos nessa condição passam por um processo de inspeção e higienização, não oferecendo, portanto, risco ao meio ambiente”, diz o texto da nota. >
Já a VLI, empresa que opera a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) informou que mantém, em caráter temporário, nove vagões não-operacionais na faixa de domínio da ferrovia, na Região Metropolitana de Vitória, e que esses ativos serão destinados para reciclagem em breve.>
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