O momento em que um dos 44 alunos de uma escola estadual de Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo, é testado para tipagem sanguínea com a mesma agulha compartilhada com outros colegas foi filmado. O caso chocou o Estado pelo perigo à saúde dos estudantes, que acabaram expostos ao risco de contaminação.
O procedimento foi realizado na sexta-feira (14) por um professor de Química durante a aula de Práticas Experimentais em Ciências. Ele teve o contrato encerrado e a Polícia Civil investiga a situação. O nome da instituição e do professor não serão mencionados em conformidade ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
De acordo com a Secretaria da Educação (Sedu), os alunos fazem parte das turmas de 2ª e 3ª série do Ensino Médio e têm idades entre 16 e 17 anos. O vídeo, obtido com exclusividade pelo repórter Enzo Teixeira, da TV Gazeta, mostra a mão do professor enluvada e segurando a agulha.
Na sequência, uma estudante segura a própria mão esperando pela perfuração. Quando a ferramenta pontiaguda fura o dedo, começa a sair o sangue, o que deixa os estudantes surpresos. Segundo os alunos que conversaram com a reportagem da TV Gazeta, o professor limpava o objeto com álcool antes de utilizá-lo novamente em outra pessoa.
Além da demissão e investigação policial, a corregedoria da Secretaria de Estado da Educação (Sedu) disse que abriu procedimento para apurar o ocorrido. Todos os alunos fizeram teste rápido de diagnóstico de infecção, que deu negativo para todas as doenças testadas. A Sedu informou que os alunos estão bem e frequentando as aulas normalmente.
Pais de 44 alunos se sentem revoltados e preocupados com o caso. Em entrevista ao repórter Enzo Teixeira, da TV Gazeta, uma das mães contou como soube do caso.
“A gente ficou sabendo através da minha menina, que ligou e falou que eles estavam indo para o hospital para fazer o exame porque o professor tinha furado eles com uma agulha, todos eles com a mesma agulha. Ele (o professor) levou (os alunos) para fazer uma aula de Química no laboratório, só que não passou para a diretora a aula que ia dar. E aconteceu isso aí, dele furar o dedo de todos com a mesma agulha, uma lanceta”, disse uma mãe de aluna.
O pai de outra aluna disse que, apesar de a escola ter feito exames nos alunos, e estes indicarem que todos passam bem, ele fará um exame particular. "A gente se preocupa, porque a gente acompanha nossos filhos desde pequenos, com as vacinações certas, e a gente tem que se preocupar. Eu vou fazer um exame particular na minha filha para ter uma segurança maior".
Em nova nota publicada nesta terça-feira (18), a Prefeitura de Laranja da Terra, reafirmou que a Secretaria Municipal de Saúde está prestando todo apoio e acompanhamento aos alunos e seus familiares, garantindo assistência e amparo necessário. "Foi montada força-tarefa para atendimento dos adolescentes na sexta-feira e refeito testes na presente data", frisou.
O diretor-geral da Polícia Civil capixaba, José Darcy Arruda, explicou que a corporação está ouvindo testemunhas e irá intimar o professor em questão. "O que se apresenta é um crime de exposição a perigo. Então vamos apurar para ver se de fato se consuma", destacou.
Considerando a repercussão nacional do ocorrido na escola da Rede Estadual de Ensino, viemos reafirmar que a Secretaria municipal de Saúde está prestando todo apoio e acompanhamento aos alunos e seus familiares, garantindo assistência e amparo necessário.
Foi montada força tarefa para atendimento dos adolescentes na sexta-feira e refeito testes na presente data. Vale ressaltar que cabe à Secretaria Estadual de Educação, juntamente com outros órgãos estaduais, esclarecer os detalhes sobre o ocorrido dentro da unidade escolar, uma vez que se trata de uma instituição da Rede Estadual de Ensino.
Estamos consternados com o ocorrido e acompanhando medidas que estão sendo devidamente tomadas pelos órgãos estaduais.
Nesta quinta-feira (20), em nota, a defesa do professor declarou que “a única preocupação dele é o bem-estar dos alunos e da comunidade escolar envolvida nesta situação”.
O advogado Enoc Joaquim da Silva disse que “nos últimos dias fora divulgada a informação de que o professor não teria sido localizado pela autoridade policial", o que segundo a defesa não procede, "vez que desde a última terça-feira a defesa do professor fez contato com a assessoria do Ministério Público e com a Autoridade Policial de Laranja da Terra, se colocando à disposição para qualquer esclarecimento necessário".
“Imperioso destacar que o professor sempre desenvolveu seu trabalho com zelo e ética, buscando sempre o melhor caminho para o aprimoramento educacional de seus alunos, sendo profissional da área há pelo menos 13 anos”, disse o advogado, na nota.
A defesa informou que o professor prestou depoimento na quarta-feira (19) à polícia em Laranja da Terra, apresentando o que chamou de “verdadeira narrativa dos fatos”. O advogado confirmou que a demissão do professor se deu de forma unilateral pela Secretaria de Estado de Educação (Sedu).
Segundo a defesa, não será detalhado o teor do que o professor demitido disse à polícia “a fim de não trazer prejuízo ao trabalho investigatório”.
“A aula prática com os alunos não se tratou de realização de exame para identificação do tipo sanguíneo dos alunos e sim de visualização de células em microscópio, tendo o professor se cercado de todos os cuidados necessários (de acordo com os materiais que tinha a sua disposição) para evitar qualquer tipo de prejuízo ou risco aos alunos", informou a defesa do professor.
Por fim a defesa disse que a participação dos alunos no experimento “se deu de forma voluntária, não havendo qualquer imposição ou constrangimento para a participação dos mesmos nas atividades desenvolvidas", que as "atividades se deram em Laboratório de Ciência existente na própria instituição educacional”, e que o professor está à disposição para “qualquer esclarecimento”.
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