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Tudo o que você precisa saber sobre acusações e condenação de Georgeval

Tudo o que você precisa saber sobre acusações e condenação de Georgeval

A Gazeta relembra os principais pontos do crime ocorrido em Linhares, desde a morte das crianças, passando pelas acusações até o julgamento do ex-pastor

Publicado em 20 de abril de 2023 às 18:54

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Georgeval Alves
Georgeval foi condenado pelas mortes de Kauã e Joaquim. (Fernando Madeira/ Arte: Geraldo Neto)

O ex-pastor Georgeval Alves Gonçalves foi condenado a 146 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de homicídio qualificado, estupro de vulnerável e tortura contra o enteado, Kauã Sales Butkovsky, de 6 anos, e o filho Joaquim Alves Sales, 3 anos. O crime completa 5 anos nesta sexta-feira (21), e a sentença foi emitida na noite de quarta-feira (19), no segundo dia de júri, em Linhares.

A Gazeta relembra os principais pontos do crime, desde a morte das crianças, passando pela prisão e pelas acusações, até o julgamento e a condenação de Georgeval.

O crime

A morte dos meninos Kauã e Joaquim chocou o Espírito Santo em 2018. Na madrugada de 21 de abril, os dois meninos morreram queimados em um incêndio que atingiu o quarto onde eles dormiam, numa casa situada em Linhares.

Na hora do incêndio, apenas Georgeval estava na residência com as crianças. A mãe dos meninos, Juliana Sales, estava em Teófilo Otoni, Minas Gerais, em um evento da igreja que frequentava. Ela havia viajado com o filho mais novo do casal, que tinha um ano e meio, à época.

Em sua versão, Georgeval disse ter sido acordado pela babá eletrônica, de onde ouvia os gritos dos filhos. Ele afirma que foi até o quarto, onde se deparou com muita fumaça. Disse ainda que chegou a colocar a mão sobre o beliche onde as crianças estavam, mas não conseguiu localizá-las. Em função do forte calor, saiu do local e foi para a rua pedir socorro. O Corpo de Bombeiros chegou em 10 minutos à residência, mas o quarto já estava totalmente destruído.

Em entrevistas e depoimentos à polícia, o ex-pastor declarou que acreditava que o fogo teria começado no aparelho de ar-condicionado do quarto das crianças. Durante o trabalho de investigação, entretanto, a polícia notou algumas contradições entre a história contada por Georgeval e as evidências.

Prisão de Georgeval

Uma semana depois do incêndio, Georgeval foi preso. De acordo com a polícia, ele estava atrapalhando a investigação sobre o caso. Começaram a aparecer inconsistências. . O exame de lesão corporal mostrou que o ex-pastor teve apenas uma queimadura, do tamanho de uma moeda, somente em um pé. A Polícia Civil também constatou que ele não apresentava lesões de quem teria tentado socorrer duas crianças em um fogo intenso.

Ao todo, seis perícias foram feitas na casa. Provas técnicas descartaram a versão de Georgeval. E a Polícia concluiu que o ex-pastor estuprou, agrediu e queimou o filho e o enteado vivos.

Para o Ministério Público, Georgeval ainda usou a morte das crianças para se promover na igreja onde era pastor. Segundo o MP, com a "explosão de fiéis" os cultos ficaram lotados, e a igreja arrecadou mais dinheiro.

A história da tragédia em Linhares que vitimou Kauã e Joaquim foi contada em uma série de podcasts produzida por A Gazeta.

Situação da mãe dos meninos

Durante a investigação, Juliana Sales, mãe das crianças, chegou a ser presa duas vezes. Primeiro, foi detida em 19 de junho de 2018 e conseguiu a liberdade em 7 de novembro do mesmo ano. Uma semana depois, foi novamente presa provisoriamente, sendo solta em 30 de janeiro de 2019. Desde então, não voltou mais para a prisão

Juliana foi denunciada pelo Ministério Público do Espírito Santo por duplo homicídio simples, fraude processual e estupro de vulnerável na forma omissiva. Esse último termo significa que ela supostamente sabia das violências sexuais e não agiu para impedi-las. A Justiça, porém, determinou que não havia indícios nos autos que indicassem que ela teria cometido algum desses crimes. Assim, ela não virou ré no processo.

O delegado Romel Pio de Abreu Junior afirmou que Juliana Sales, mãe das crianças e esposa de Georgeval na época, não acreditava nas acusações contra o marido em um primeiro momento. "Quando nós apresentamos para ela (Juliana) as provas, as conversas, parece que a ficha dela começou a cair.”

Em 31 de março deste ano, declarações dadas por Juliana ao MPES, em 2019, sobre o crime se tornaram públicas e foram divulgadas por A Gazeta (veja no vídeo abaixo). Nelas, a mãe das crianças afirmou acreditar na hipótese de que Georgeval “surtou, enlouqueceu” e "fez alguma coisa".

Julgamento foi adiado mais de uma vez

Desde então, Georgeval permaneceu preso, à espera de julgamento. Inicialmente, o júri tinha sido marcado para o dia 13 de março deste ano, no Fórum de Linhares. Naquela ocasião, a defesa de Georgeval seria feita por um advogado dativo, que é um defensor pago pelo Estado. Ele havia pegado o caso após a recusa de outros dois advogados.

Depois que a data do júri foi marcada, o ex-pastor decidiu contratar uma defesa particular. O novo advogado, então, pediu para que o julgamento fosse adiado, porque teria de fazer uma cirurgia na data prevista. O júri foi remarcado para o dia 3 de abril, mas novamente não aconteceu porque os advogados de Georgeval abandonaram o plenário, alegando ameaças e comprometimento dos jurados.

Júri durou dois dias

O julgamento foi finalmente retomado na manhã de terça-feira (18), no Fórum de Linhares, e teve duração de dois dias. Agentes da Polícia Penal reforçaram a segurança no local.

Georgeval foi julgado pelas acusações de cometer três crimes diferentes: duplo homicídio qualificado, duplo estupro de vulnerável e tortura. Todas as acusações contra ele foram duplicadas por serem duas vítimas.

Delegado narrou versão de Georgeval

O delegado Romel Pio de Abreu Junior foi a primeira testemunha de acusação a ser ouvida. Ele presidiu o inquérito na época e participou da investigação. Durante o depoimento, ele narrou a versão dos fatos dada por Georgeval:

"Ele informou que estava sozinho com as crianças, que a esposa dele na época havia feito uma viagem. Disse que saiu com as crianças para alguns locais, passou na sorveteria e depois foi para casa ver filme. Uma delas dormiu e ele levou até o quarto, o enteado continuou e depois foi levado também para o quarto para dormir. Algum tempo depois, ele disse que se deparou com imagens de chamas na babá eletrônica e as crianças pedindo socorro. Quando ele foi até o quarto, colocou a mão na beliche, ouviu gritos das crianças, tentou colocar a mão na parte de baixo e não achou as crianças. O fogo se intensificou e ele foi para fora pedir ajuda. Na versão dele, ele tentou o tempo todo salvar as crianças, o que foi descartado nas provas testemunhais e periciais", afirmou Romel Pio.

Mudança na versão

O próprio Georgeval confirmou que mudou a versão sobre ter tentado salvar as crianças posteriormente. “Eu menti porque essas pessoas começaram a falar que eu deveria ter entrado, deveria ter me jogado e feito alguma coisa", afirmou. "Os pastores começaram a falar para mim que não era bom passar a imagem. Fiquei com medo de ser julgado, de não ter salvo meus filhos, de ter sido covarde. Esse foi o motivo (de ter mentido)".

Georgeval chorou durante o júri

Georgeval chorou em mais de um momento durante o júri. O primeiro enquanto o advogado de defesa Pedro Ramos questionava a psiquiatra sobre indícios de psicopatia. E, depois, quando o psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro relembrou a vida do pastor, citando conflitos familiares do passado e a perda de uma filha antes da morte de Kauã e Joaquim. Também chorou em outros momentos.

Pastor negou que tenha cometido crimes

Durante depoimento, na madrugada de quarta-feira (19), Georgeval negou ter feito mal ao filho e ao enteado. "Eu tenho uma perspectiva de futuro de que eu possa provar a minha inocência para que eu não deixe esse legado para meus filhos de um monstro de um abusador, por que eu não sou essa pessoa. Quero provar que tudo isso não passa de um engano, um erro. Eu não cometi esse crime. Eu não abusei dos meus filhos. Não coloquei fogo neles. Não quero deixar esse legado de uma história que não é verdadeira. Eu não sou essa pessoa", afirmou.

Provas indicam que crime foi premeditado

Na sentença, o juiz Tiago Fávaro Camata destacou que as provas mostram que o crime foi premeditado, “tendo o réu se aproveitado exatamente do momento em que a genitora da vítima estava em viagem para a prática do delito, não se tratando, portanto, de uma decisão irrefletida”.

Condenação por três crimes

Georgeval Alves Gonçalves foi considerado culpado e condenado por três crimes. Veja abaixo:

  • Homicídio qualificado: foi fixada pena-base em 25 anos e seis meses. Foram considerados agravantes de motivo torpe, crime cometido para ocultação de outro crime, meio cruel e contra descendente. Além disso, como foi cometido contra menor de 14 anos, a pena para o crime de homicídio ficou em 40 anos para cada uma das crianças.

  • Estupro: foi fixada pena base em 12 anos, 4 meses e 15 dias. Com o agravante de uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e como foi praticado contra menores de 14 anos, a pena ficou em 22 anos e seis meses para cada criança.

  • Tortura: 10 anos e 8 meses para cada criança. No total, a pena somada foi de 146 anos e 4 meses, que deve ser cumprida, inicialmente, em regime fechado.

Família de Kauã comemorou condenação

Amigos e familiares do pequeno Kauã, de seis anos, morto com o irmão Joaquim, de três, comemoraram a condenação de Georgeval Alves em frente ao Fórum de Linhares, na região Norte do Espírito Santo.

O pai do menino, Rainy Butkovsky, destacou que, apesar da demora do julgamento, a justiça finalmente foi feita. "Demorou cinco anos, mas, enfim, chegou. 146 anos, creio que seja uma das maiores penas que já teve no nosso Estado. É pouco pelo que ele fez. Tudo vai ser pouco, mas pelo menos a justiça da Terra foi feita. A gente só tem a agradecer a Deus por esse momento de saber que minha mãe vai poder colocar a cabeça no travesseiro mais tranquila.”

Defesa diz que vai recorrer

Georgeval, que está preso desde 2018 no Complexo Penitenciário de Viana, ainda pode recorrer para anular o júri ou para reduzir a pena.

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