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Surto no Hospital Santa Rita pode ter sido causado por fungo histoplasma

Surto no Hospital Santa Rita pode ter sido causado por fungo histoplasma

Este tipo de fungo é encontrado em fezes de aves e morcegos, mas a investigação sobre o surto ainda não está concluída

Publicado em 3 de novembro de 2025 às 14:18

O surto de infecção registrado no Hospital Santa Rita de Cássia, em Vitória, pode ter sido causado por fungo histoplasma, segundo a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa). O fungo é geralmente encontrado em fezes de aves e morcegos, mas o resultado ainda não é conclusivo e a investigação continua.

Em uma amostra retirada de um bebedouro também foi encontrada uma bactéria (Burkholderia cepacia), mas o secretário da Saúde, Tyago Hoffmann, avalia que ela traria casos mais graves do que os apresentados pelos contaminados. Por isso, na visão dele, a causa mais provável seja o fungo histoplasma, embora a investigação continue.

Surto no Hospital Santa Rita pode ter sido causado por fungo histoplasma
Hipóteses levantadas durante investigação sobre o surto no Santa Rita Crédito: Sesa

Análises no Lacen-ES e na Fiocruz

O diretor do Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen-ES), Rodrigo Rodrigues, explicou que os testes realizados no Estado e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, ainda não permitem afirmar de forma definitiva a origem do surto. Ele destacou, porém, que o quadro clínico dos contaminados é compatível com a histoplasmose, doença causada pelo fungo Histoplasma capsulatum, encontrado em fezes de aves e morcegos.

Segundo Rodrigues, o Lacen realizou uma série de exames, desde análises diretas até testes genômicos, em amostras de profissionais e pacientes do Hospital Santa Rita. Nenhum dos testes feitos no Espírito Santo indicou presença de patógenos. A hipótese é de que parte das amostras tenha chegado alterada ao laboratório devido ao uso prévio de medicamentos pelos pacientes, o que pode ter interferido nos resultados.

Já as análises realizadas pela Fiocruz detectaram o fungo histoplasma em uma das 11 amostras enviadas. Todas as coletas foram feitas com funcionários do hospital. “Apesar de apenas uma amostra ter dado positivo, o quadro clínico dos pacientes é compatível com a histoplasmose, e por isso essa é a principal linha de investigação”, explicou o diretor da instituição.

E como houve contato com o fungo?

Ainda não está claro nem comprovado, mas a coordenadora de Controle de Infecção Hospitalar do Santa Rita, a infectologista Carolina Salume, acredita que o contato com o fungo pode ter relação com frestas ou vedações ineficientes de janelas. Para a especialista, é baixa a chance da entrada do fungo ter acontecido pelo ar-condicionado. 

"Todo o ar-condicionado do hospital passou por manutenção e limpeza de filtro pouco antes do surto. Além disso, as amostras recolhidas nele foram negativas. Por isso existe a possibilidade de ter vindo pelas janelas, alguma fresta que tenha ficado aberta inadvertidamente. Isso porque as janelas de hospital não são abertas. É hipótese, mas acreditamos que ocorreu contato do meio externo com o meio interno do hospital", explicou Salume. 

A especialista afirma que toda vedação necessária para evitar a entrada de partículas foi feita de acordo com os protocolos. "Nós temos comissão de obra, inclusive no hospital. A gente segue todas as diretrizes junto à engenharia e à CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar), mas aconteceu alguma coisa que a gente ainda não sabe explicar", destacou.

Arquivos & Anexos

Surto no Santa Rita: a investigação

Documento divulgado pela Sesa nesta segunda-feira (3)

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Bactéria em bebedouro seria caso isolado

O diretor do Lacen-ES reforçou que o caso segue em apuração e que novas coletas serão realizadas. O objetivo é verificar se, com o tempo, os pacientes desenvolveram anticorpos que confirmem o contato com o fungo. Durante as análises ambientais, também foi identificada uma bactéria (Burkholderia cepacia) em uma amostra de água de um bebedouro da enfermaria. No entanto, Rodrigo afirmou que nenhum outro ponto da rede de abastecimento apresentou contaminação e nenhum paciente testou positivo para a bactéria. Por isso, o resultado é tratado como um caso isolado.

Os técnicos do Lacen e da Fiocruz seguem realizando exames complementares, incluindo novas culturas e testes ambientais. “A investigação é complexa, pois envolve muitos casos suspeitos e uma janela de tempo extensa. Mas o conjunto de dados clínicos e laboratoriais reforça a possibilidade de que o fungo seja o agente mais provável”, afirmou Rodrigues.

O último boletim da Sesa apontou que havia 93 casos suspeitos, estando cinco pessoas internadas — duas delas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). De todos os casos, há 76 funcionários do Hospital Santa Rita, seis pacientes e onze acompanhantes. Entre os internados, quatro são colaboradores da unidade e um é paciente.

Novas amostras 

A coordenadora de Controle de Infecção Hospitalar do Santa Rita, infectologista Carolina Salume, explicou que novas amostras foram coletadas no sábado (1º) para aumentar a precisão dos exames. Ela afirmou que parte das coletas anteriores pode não ter sido suficiente para detecção dos anticorpos.

Segundo Salume, o exame sorológico, responsável por identificar a resposta imunológica do organismo, exige um intervalo mínimo de dias após o início dos sintomas. Como algumas amostras foram enviadas antes deste período, os resultados podem ter sido negativos mesmo em pessoas infectadas. “Acreditamos que as coletas recentes estejam mais qualificadas e possam confirmar a presença do fungo”, explicou.

Situação controlada e restrita

A infectologista destacou que o surto está controlado e restrito à ala oncológica do hospital, especialmente no setor E. “Tomamos todas as medidas necessárias para conter a disseminação ambiental e observamos queda no número de notificações”, disse.

Salume ressaltou que é seguro manter o funcionamento dos outros setores e relatou melhora no quadro de saúde dos internados. Dos dois pacientes em UTI, um é paciente oncológico e o outro, colaborador do hospital. “A funcionária, que era o caso mais grave, evoluiu bem, já caminha e respira sem auxílio de oxigênio”, informou.

Apelo aos pacientes oncológicos

O secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann, afirmou que a principal preocupação agora é com os pacientes oncológicos que suspenderam o tratamento por medo de contaminação. Ele reforçou que as demais áreas do Hospital Santa Rita seguem seguras e sem risco de infecção. 

O subsecretário de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso, destacou que o hospital seguiu todos os protocolos previstos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde o início do surto. 

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Surto no Hospital Santa Rita pode ter sido causado por fungo histoplasma

Entenda o caso

Quando começou?
Em 19 de outubro, funcionários da ala oncológica do Hospital Santa Rita começaram a apresentar sintomas semelhantes aos de uma pneumonia — momento em que começou a investigação sobre a "infecção misteriosa"

Quais são os sintomas?
Febre, tosse, dores musculares ou de cabeça e alteração em exames de raio-x do tórax.

O que foi feito?
Diversas medidas foram tomadas para garantir a segurança de pacientes e de profissionais da área da saúde. A Sesa enviou nota técnica a todos os municípios capixabas para detalhar características e orientações caso chegassem casos suspeitos nas unidades hospitalares pelo Estado.

 ■ É contagioso?
Apesar de quase 100 casos suspeitos, a Sesa esclareceu que a contaminação não se espalhou e reforçou que não há risco para a população já que não havia evidências de transmissão de pessoa para pessoa.

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