Repórter / iarruda@redegazeta.com.br
Publicado em 28 de abril de 2022 às 14:27
A vida real não é como a história do personagem Pinóquio, idealizado pelo pai, um carpinteiro, como um menino de madeira cujo nariz crescia toda vez que ele mentia. Infelizmente, na prática, não é tão fácil assim perceber se o outro está ou não mentindo. `Em entrevista à jornalista Fernanda Queiroz, da CBN Vitória, o neurocientista Fabiano de Abreu ensinou o caminho para reconhecer um mentiroso.
Será a mentira uma doença em todos os casos? Segundo o neurocientista, o ato de mentir é, por antemão, uma defesa criada pelo cérebro humano para evitar sofrer algum tipo de dor, seja simbólica ou real. Mas mentir de forma exagerada traz prejuízos mentais, ao criar uma espécie de círculo vicioso por conta da liberação de um neurotransmissor chamado dopamina, explicou o entrevistado.
O professor e doutor em Neurociências pela Logos University International (UniLogos) afirmou que mentir nunca é bom. “A mentira não é boa, especialmente no mundo que vivemos hoje, na era do virtual. Estamos formatando uma estrutura abstrata, somos semânticos, logo, a mentira acaba fazendo parte do que não é real. O melhor é aprendermos a lidar com a verdade e não com algo inexistente. Lidando com a verdade, conseguimos melhores conquistas reais”, iniciou.
Inicialmente, é preciso entender que a mentira parte de uma insegurança entre as pessoas. “Isso acontece principalmente na relação com as crianças, já que elas têm medo da resposta, querem conquistar os pais, são dependentes, precisam ser aceitas. Se os pais não dão a atenção devida, elas acabam mentindo achando que assim serão aceitas”, disse.
Fabiano de Abreu
NeurocientistaÉ muito comum ouvir “eu não menti, apenas omiti”, mas será que isso procede? Para Abreu, isso pode fazer sentido. Isso porque, este pode ser um recurso utilizado para evitar magoar alguém. Com o tempo, pode ser que a pessoa repense a situação e decida falar sobre o assunto, com mais calma. “Pode ser uma forma melhor de conviver em sociedade, já que nem toda verdade deve ser dita. Mas não é exatamente a mentira, esta já tem, por trás, uma intenção de uma ação que sabidamente terá um resultado”, explicou.
No caso da mentira propriamente dita, há também o caso da pessoa que mente e passa a acreditar na mentira. Para o especialista, neste caso, é possível entender como um comportamento doentio, já que esta compulsividade altera a forma do cérebro trabalhar.
Fabiano explica que há um mecanismo orgânico de liberação do neurotransmissor ligado à recompensa quando uma pessoa mente. “Ele é ativado quando o outro acredita naquilo. Vem uma sensação boa, que acaba criando um círculo vicioso. É como quem coloca algo fictício nas redes sociais e faz os outros acreditarem. Ao criar expectativa de que aquilo seja verdade no outro, quem mentiu se sente recompensado e tende a continuar fazendo, já que aumenta a ansiedade de se sentir satisfeito de novo”, definiu.
Com o aumento desse comportamento, o neurocientista acredita que a sociedade está criando uma cultura da mentira. “São relações distantes, principalmente com as redes sociais. Aquele que está atrás de uma tela, faz as pessoas acreditarem em qualquer coisa. Começamos, por vezes, com mentirinhas bobas, as pessoas aplaudem e daqui a pouco isso se transforma em um problema muito mais sério. Sempre digo que quem fala a verdade não merece castigo e que toda mentira é descoberta em algum momento”, acrescentou.
Questionado sobre se há sinais para detectar o mentiroso, o estudioso diz que o conhecimento sobre a neurolinguística pode ser um divisor de águas. Mas é possível perceber quem mente mais ansioso, com mudança de feições, até porque sabe que está mentindo e que precisa convencer o outro.
Apesar de muitos acreditarem que seja um indício, o ato de não olhar nos olhos do interlocutor nem sempre indica mentira. “Às vezes a pessoa não olha nos olhos porque tem vergonha ou insegurança. Temos que separar isso. A pessoa quando mente está com a ansiedade ativada, pode ser que não encare o outro, mas nem sempre isso é um sinal claro”, disse.
Sobre a existência do equipamento “detector de mentira”, Abreu confirmou a funcionalidade e disse ainda que a tecnologia empregada está cada vez mais aprimorada. “Funciona e os Estados Unidos até usam para prender pessoas, está muito desenvolvido. É mais difícil em alguns casos, como, por exemplo, dos psicopatas, que naturalmente são mais frios, sem remorsos e acabam contando a história de maneira que o aspecto emocional fica oculto”, afirmou.
Ainda no caso da psicopatia, ele garante que a mentira compulsiva não torna um indivíduo um psicopata, mas que este já nasce assim. Mas a questão de mentir constantemente, para o especialista, é uma situação que pode ser resolvida por meio do autoconhecimento. “Quando somos bons o suficiente para nós mesmos, não temos porque mentir para o outro. E o que é pior é enganar a si mesmo, fazendo com que a própria consciência nunca esteja plena”, finalizou.
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