Repórter / [email protected]
Repórter / [email protected]
Publicado em 23 de maio de 2024 às 20:49
A servidora investigada por participar de um esquema de desvio de recursos públicos da saúde do Espírito Santo pedia cerca de 5% de propina a cada contrato para favorecer um grupo empresarial em licitações para a compra de materiais para o Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória. A informação é da Polícia Federal (PF), que chegou ao esquema após a apreensão de um bilhete manuscrito com pedidos de propina encontrado dentro de uma gaveta, no local de trabalho da servidora. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) afastou a funcionária, que, segundo a PF, é uma farmacêutica concursada.>
A PF deflagrou a Operação Manuscrito, na manhã desta quinta-feira (23), com a participação de 24 policiais federais e dois auditores da Controladoria Geral da União (CGU), para cumprimento de cinco mandados de busca e apreensão, expedidos pela 2ª Vara Federal de Vitória, em endereços na Capital, em Vila Velha e na Serra. Foram apreendidos documentos, celulares, manuscritos e agendas nas residências da servidora e de três empresários investigados.>
De acordo com a Polícia Federal, o objetivo das investigações é desarticular um esquema de desvio de recursos públicos e recolher provas para subsidiar e aprofundar as investigações em curso relativas a compras de materiais hospitalares. >
O inquérito policial foi iniciado em junho de 2023, quando a Polícia Federal apreendeu o bilhete com a solicitação de propina. Os fatos em apuração envolvem pelo menos dois grupos empresariais e o Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória, situado no bairro Santa Lúcia, na Capital.>
>
"Observamos que uma determinada empresa que era contratada pelo hospital pagava propina para alguns servidores para ser beneficiada. Verificamos que havia um conluio entre uma determinada servidora desde o processo de contratação até o pagamento de insumos hospitalares que eram vendidos por essa empresa. E havia bilhetes manuscritos, daí o nome da operação, em que a servidora fazia solicitação de propina na ordem de 5% de cada nota de empenho que era paga", disse o delegado federal Arcelino Damasceno.>
De acordo com o delegado, a servidora manteve essa relação com a empresa ao ser transferida do Hospital São Lucas – o atual Hospital Estadual de Urgência e Emergência – para o Hospital Infantil de Vitória.>
"O que já podemos afirmar é que, quando a servidora foi transferida de hospital, a empresa também veio junto, sugerindo um conluio entre ela e a empresa. Ao ser transferida para o Hospital Infantil de Vitória, a empresa teve um aumento significativo nos contratos com o Hospital Infantil", destaca Arcelino.>
O delegado ainda afirma que, entre 2019 e 2023, o valor contratado por uma das empresas investigadas no esquema triplicou.>
“Analisamos contratos de 2019 até 2023 e observamos que a primeira empresa teve um aumento significativo nas contratações e no recebimento de valores provenientes da Secretaria de Saúde. Em 2019, essa empresa contratava cerca de R$ 200 mil. Ano a ano, a empresa foi ganhando mais contratos, chegando em 2023 a fornecer materiais no valor de R$ 700 mil a R$ 800 mil por ano”, relata Arcelino Damasceno.>
O delegado acrescenta que não é possível, até o momento, afirmar como a propina era paga. Mas adianta que o objetivo é pedir o bloqueio dos valores pagos de forma ilícita à servidora. "O que sabemos é que a servidora recebia valores, que estavam em manuscritos e entravam em suas contas. Qualquer valor mencionado agora pode não ser preciso", aponta.>
Arcelino Damasceno
Delegado da Polícia FederalSegundo a PF, a corporação, em conjunto com a CGU, analisou uma série de contratos onde foram encontrados favorecimentos à empresa. Com o aprofundamento das investigações, novos indícios de outros possíveis delitos surgiram no hospital, como direcionamento das contratações em detrimento de processos regulares de licitação em proveito das empresas. >
As análises revelaram a potencial prática de crimes contra administração pública, dentre eles corrupção ativa e passiva e direcionamento de licitação. "Além disso, podem ser detectados outros crimes, como advocacia administrativa, já que a servidora atuava em interesse da empresa, e possivelmente peculato, se houver desvio de produtos hospitalares. A pena pode ser bem alta", afirma Arcelino.>
Segundo o delegado, a investigação vai continuar, a fim de avaliar a possível participação de outras empresas e servidores no esquema. "A cada fase descobrimos outras pessoas e empresas envolvidas. Evitamos falar o nome porque a operação ainda está em sigilo e continua em andamento. Pode ser que, com o tempo, mais empresas estejam envolvidas", explica.>
Segundo a Secretaria de Saúde, a servidora envolvida no esquema foi afastada. A identidade da mulher não foi divulgada nem pela Polícia Federal, nem pela Sesa.>
A pasta estadual confirmou que a investigação mira a Central de Compras e estoque da Farmácia (CAF) do Hospital Infantil. Em nota enviada para A Gazeta, a Sesa disse que reafirma seu compromisso com a transparência e a legalidade que regem a gestão pública, colocando-se à disposição das autoridades competentes para colaborar integralmente com a investigação em curso, fornecendo todas as informações e documentos necessários.>
"No encerramento do ano de 2023, a direção do HINSG identificou a necessidade de aprimorar o controle de estoque na CAF. Em resposta, foi constituída uma comissão interna, com o objetivo de realizar o levantamento detalhado do estoque existente e se havia inconformidades. O relatório resultante desse levantamento já foi concluído e será devidamente entregue às autoridades responsáveis", diz a nota da Sesa.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta