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Sem transporte, cadeirantes de Vitória vivem drama para estudar e se tratar

Sem transporte, cadeirantes de Vitória vivem drama para estudar e se tratar

O serviço oferecido pela Prefeitura de Vitória, exclusivo para pessoas com deficiência, atendia mais de 400 cadeirantes, mas está paralisado desde março

Publicado em 26 de abril de 2022 às 11:03

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Serviço Porta a Porta é suspenso em Vitória
Lívia, Bárbara e Pedro, são alguns cadeirantes que enfrentam dificuldades nas ruas da Grande Vitória para se locomoverem. (Fernando Madeira)
Gabriela Molina
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A suspensão do serviço Porta a Porta, voltado para pessoas com deficiência, tem atrapalhado o dia a dia de mais de 400 cadeirantes em Vitória, que dependem do transporte para ter acesso a tratamentos de saúde, escola e trabalho.

O serviço disponibilizado pela Prefeitura de Vitória está paralisado desde março. Os veículos saíram de circulação após a empresa que atuava nessa atividade se recusar a renovar o contrato.

De acordo com a prefeitura, o edital de credenciamento continua aberto sem apresentação de propostas. Ou seja, não há interessados em atuar no serviço. Assim, não há previsão de quando as viagens serão retomadas.

A professora Luciana Ferrari é mãe da Lívia, de 12 anos, que não anda por causa de uma paralisia cerebral. Ela conta que utilizava o serviço de segunda a sexta-feira para levar a filha à escola e, três vezes na semana, para a fisioterapia.

Pessoas cadeirantes estão com dificuldades para se locomoverem, é o caso da Lívia, filha da professora Luciana
A professora Luciana utilizava o transporte todos os dias para se locomover com sua filha Lívia. (Fernando Madeira)

No dia 12 de março, Luciana recebeu uma mensagem pelo WhatsApp da equipe Porta a Porta, informando que a partir do dia 13 de março as viagens do transporte estariam suspensas e apenas os atendimentos de hemodiálise seriam realizados pela Secretaria de Saúde.

Para a professora, o serviço prestado pelo Porta a Porta é essencial, pois é um veículo espaçoso, adaptado para receber pessoas em cadeira de rodas, e oferece os acessórios necessários para a segurança do usuário durante o percurso.

"Enfrentamos dificuldades para transportá-la em um carro convencional. Soma-se a isso o peso da cadeira de rodas que precisa também ser levada no veículo. Apesar de algumas limitações relacionadas ao aplicativo por meio do qual fazemos o agendamento das viagens pelo Porta a Porta, como alguns atrasos nos compromissos agendados e alguns cancelamentos de viagens, o serviço funcionava de modo bem satisfatório e, logo, tornou-se essencial para o transporte da minha filha à escola e às sessões diárias de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia,” ressalta Luciana.

A suspensão do serviço também pegou Bárbara Eloah Lopes, de 32 anos, de surpresa. Ela usava o transporte há mais de 10 anos.

Pessoas cadeirantes estão com dificuldades para se locomoverem, é o caso da Bárbara Eloah
Estudante Bárbara Eloah Lopes. (Fernando Madeira)

“Moro em um local com difícil acesso ao ponto de ônibus e estudo na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Com o retorno das aulas presenciais me deparo novamente com o problema de locomoção para estudar”, diz Bárbara Eloah Lopes, que é estudante do curso de Letras em Libras.

Bárbara utilizava o transporte do Porta a Porta todos os dias para se locomover e conseguir cumprir com seus compromissos.

Com a volta das aulas presenciais na faculdade, a estudante conta que não sabe como continuará estudando, já que são muitas as situações que os cadeirantes enfrentam quando dependem dos transportes públicos e privados (serviço de aplicativos).

“A cadeira de rodas nunca me impediu de fazer nada ou de ir a lugar nenhum. Mas, sem o único serviço que consigo utilizar, com segurança e confiança, para fazer as minhas atividades e prosseguir com os meus estudos, me deixa com sentimento de impotência. Como um pássaro preso na gaiola”, desabafa a estudante.

Pedro Henrique dos Santos, de 12 anos, tem baixa visão, obesidade mórbida e má formação cerebral, o que faz com que ele dependa de uma cadeira de rodas para se locomover. De acordo com a costureira Geiza Santos, mãe da criança, ela utilizava o serviço Porta a Porta já há oito anos.  

Pessoas cadeirantes estão com dificuldades para se locomoverem, é o caso do Pedro Henrique, 12, filho de Geiza Santos
Pedro está longe de suas atividades desde a suspensão do serviço Porta a Porta. (Fernando Madeira)

Pedro faz parte do projeto Despertar Para Vida e dependia do transporte todos os dias da semana para fazer suas atividades e ter o acompanhamento com a fonoaudióloga, endocrinologista e neuro. Desde a paralisação do serviço, Geiza não consegue levar o filho para as atividade e teme perder os benefícios.

"Hoje, eu só consigo levar o Pedro para a escola pois moramos ao lado. Para os outros compromissos não consigo levá-lo, inclusive estou com medo dele perder a vaga das atividades. Até tentei algumas vezes sair de ônibus, mas sempre tem um problema na rampa ou já tem um cadeirante no ônibus", desabafa a costureira.

Se tratando de transporte público, tanto Geiza, quanto Bárbara, e Luciana afirmam que o serviço não atende a população com deficiência como deveria. Para elas, os ônibus adaptados são ótimas opções, porém, quando as rampas funcionam, sem contar também com o constrangimento que passam quando elas não funcionam, já que muitos passageiros não entendem a situação.

O que diz a Prefeitura de Vitória

A Secretaria de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana de Vitória (Setran) informa que a empresa que prestava o serviço não teve interesse em renovar o contrato, o que provocou sua interrupção. Ressalta, ainda, que o edital de credenciamento para os interessados em prestar o serviço continua aberto e eles poderão manifestar interesse imediato junto ao órgão.
A expectativa é que o serviço seja retomado o quanto antes, com valores que serão reajustados no novo credenciamento.
Enquanto o processo tramita, os usuários da Região Metropolitana podem contar com o serviço Mão na Roda, administrado e oferecido pela Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Espírito Santo (Ceturb).
Os usuários cadastrados no serviço Porta a Porta que precisam realizar hemodiálise estão sendo atendidos por transporte oferecido pela Secretaria Municipal de Saúde. Com a volta do serviço oferecido pela Prefeitura, demais usuários cadastrados pelo município também serão atendidos.
A Setran informa, ainda, que estão cadastrados 419 usuários aptos a utilizar o transporte, porém, em média, 120 utilizam regularmente quando em uso. O sistema é exclusivo para pessoas com deficiência e que usam cadeiras de roda. As motivações para uso, além de saúde, são educação, lazer e trabalho.
Os requerentes devem fazer a solicitação presencialmente. São necessários CPF, Carteira de Identidade, comprovante de residência. É importante apresentar o laudo médico e o telefone para informações e agendamento é o telefone é 3382.6450 ou pelo 156 para que seja feita a solicitação.

SERVIÇO MÃO NA RODA

De acordo com a Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Espírito Santo (Ceturb), atualmente, 2.577 cadeirantes estão cadastrados no serviço Mão na Roda que é destinado a pessoas totalmente dependentes de cadeiras de roda, de forma permanente ou temporária. O serviço é operado por 25 veículos adaptados com elevadores hidráulicos, conduzidos por motoristas treinados para realizar o transporte com conforto e segurança, uma vez que receberam aulas de direção defensiva, relacionamento interpessoal e trato com pessoas com deficiência.

Para se cadastrar, agendar ou cancelar viagens, basta acessar o portal do Serviço Especial Mão na Roda (gvbus.org.br).

Os agendamentos também podem ser feitos por telefone (0800 038 7077) com 48 horas de antecedência da data da viagem. Pelo site, esse prazo é de até 14 dias de antecedência.

Quem ainda não é cadastrado no Mão na Roda, deve acessar o site e clicar em "Quero me cadastrar", preencher a ficha com os dados pessoais do beneficiário e anexar os documentos pedidos para a perícia. São aceitos laudos e receitas médicas. Caso seja menor de idade, a documentação do responsável também deverá ser enviada, nos campos específicos. Feito isso, basta aguardar o retorno da equipe técnica da Ceturb-ES, que poderá deferir ou não, conforme a análise de cada caso.

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