> >
Pandemia afeta a saúde mental de crianças e adolescentes; como lidar

Pandemia afeta a saúde mental de crianças e adolescentes; como lidar

Em entrevista à Rádio CBN Vitória (92,5 FM), a médica psiquiatra Janine Moscon explicou como o comportamento restrito por conta da pandemia impactou negativamente na rotina diária dos jovens; veja algumas dicas

Publicado em 9 de fevereiro de 2021 às 16:30- Atualizado Data inválida

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
Pandemia afeta a saúde mental não só dos adultos, mas também de crianças e adolescentes
Pandemia afeta a saúde mental não só dos adultos, mas também de crianças e adolescentes. (FaustFoto | Freepik)

Pessoas de todas as faixas etárias foram afetadas de alguma forma pela pandemia do novo coronavírus, inclusive as crianças e os adolescentes — que tiveram suas vidas viradas de cabeça para baixo, com profunda mudança de rotina e relações. Para muitos, o convívio social, escola e relacionamento foram reduzidos ao quarto e às telas.

Em entrevista à Rádio CBN Vitória (92,5 FM) nesta terça-feira (9), a médica psiquiatra Janine Moscon explicou como o comportamento restrito por conta da doença, que nos obriga a ficar isolados, impactou negativamente na rotina diária dos jovens.

De acordo com a profissional, os adolescentes têm um comportamento de grupo e imitam mais esses grupos do que os próprios pais. "Como estão ficando isolados, sem esse contato pessoal, qual é a única forma que sobra? Através das telas. O que identifiquei nos atendimentos é muito relato de briga, conflitos em casa por conta do tempo de tela: celular, computador, tablet, redes sociais. Isso trás uma série de consequências", disse.

Quanto às crianças, Janine diz que falta atividade física. Consequentemente, se alimentam mal, ganham peso, ficam irritadas, ansiosas e às vezes até deprimidas. Ela conta que atendeu casos de adolescentes que acabaram evoluindo para casos de depressão importantes, e que inclusive precisaram ser medicados. "Eles reagem de formas diferentes. Podem estrar tristes, mas demonstrar irritabilidade. Trocam o dia pela noite, passam a noite jogando. As queixas de insônia mais que dobraram para todas as faixas etárias", disse.

As consequências da pandemia, além de afetar a todos, foram muito grandes para todas as faixas etárias, segundo a médica psiquiatra. A principal briga entre os pequenos e os pais ou responsáveis é a tentativa de que os adultos controlem o chamado "tempo de tela" e uso de eletrônicos. "Observei na prática que esse foi o principal motivo de brigas, motivo de conflito até físico. Atendi um caso de adolescente agredindo mãe e pai para se manter ligado, plugado, conversando em aplicativos de mensagens", detalhou Janine.

Além do aumento dos conflitos familiares, a médica aproveita para lembrar um fato importante agravado pela pandemia: a maioria dos casos de abuso sexual acontece por parte de pessoas conhecidas pela família da vítima. "Mais de 75% são conhecidos. O fato de estar em casa ainda expôs esses adolescentes a estarem pertos dos abusadores", apontou a médica.

COMO ESTABELECER UMA ROTINA

A pedido dos ouvintes da Rádio CBN, Janine explicou o que fazer para estabelecer uma rotina. Com relação a tempo de tela, ela explica que existem orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria, e que crianças de até 2 anos não devem ser expostas à tela, nem de forma passiva.

  • Crianças de 2 a 5 anos: o tempo máximo de tela indicado é de 1 hora;
  • Crianças de 6 a 10 anos: o tempo máximo de tela indicado é de 2h;
  • Crianças/adolescentes de 11 a 18 anos: o tempo máximo de tela indicado é de 3h.

Em média, a médica psiquiatra disse que tem visto adolescentes passando do período indicado e ficando em frente às telas de oito a dez horas por dia, ou seja, três vezes mais do que o recomendado. "Agora na pandemia, quem ficou na aula online, o que acontecia muito era que a criança ficava na hora de aula, deixava a aula rolando e ia dormir. Quanto mais tarde a gente abordar isso, depois que completa 15 ou 16 anos e você tenta apertar o cinto, fica mais complicado", indicou.

A recomendação, segundo Janine, é que os pequenos sejam "controlados" e monitorados desde recém-nascidos. "Muitas vezes, essas crianças e adolescentes vão estar muito tempo nas telas porque estamos ocupados. O que mais se perdeu foi a rotina: seja alimentar, de sono, de atividade física. Isso compromete não só o crescimento do corpo físico, mas altera toda a questão mental". E para estabelecer uma rotina, a profissional deu algumas dicas.

Para o ritual do sono: cérebro precisa entender que anoiteceu. Quando exposto à iluminação na rua, em casa, luz radioativa que vem da tela, cérebro entende que ainda está de dia, e a produção da melatonina (hormônio do sono) não acontece.

  • 01

    Tenha um ritual antes de dormir, para que o corpo comece a entender que está chegando a hora de deitar

     

  • 02

    Se quiser, faça uma leitura leve. Pode ser com uma luz indireta. Um abajur pode ajudar

     

  • 03

    Ouça uma música calma, suave para acalmar os ânimos

     

  • 04

    Durante o dia, tente reservar um tempo para fazer atividade física, até mesmo em casa

     

  • 05

    Busque ter um horário fixo para dormir. Se cada dia uma pessoa dorme em um horário diferente, os hormônios "ficam bagunçados"

     

Por fim, a profissional diz que tem visto prejuízo na saúde mental por conta da perda do estilo de vida que todos eram acostumados. "Temos um cérebro analógico vivendo em um mundo digital. Ainda não sabemos lidar com tanta tecnologia, luz e recomendação. A indicação é: tenham uma alimentação regular, coma de tudo. Faça atividade física para contribuir no controle da ansiedade. Tome sol. A imunidade baixa pode causar até mau-humor", finalizou.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais