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Paciente terminal deve escolher se quer ou não sedação, defende médica

Paciente terminal deve escolher se quer ou não sedação, defende médica

Autora do livro "A morte é uma vida que Vale a Pena Viver", a geriatra Ana Claudia Quintana Arantes diz que médicos precisam estar mais bem preparados para tratar o paciente no momento da morte

Publicado em 4 de outubro de 2021 às 16:33

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Hospital
Médica afirma que  paciente deve ser ouvido sobre como gostaria de passar seus últimos momentos em vida. (Pixabay)

Na contramão do tratamento tradicional, os cuidados paliativos prometem oferecer qualidade de vida a pacientes terminais e são defendidos pela geriatra Ana Claudia Quintana Arantes, autora do livro "A morte é uma vida que Vale a Pena Viver". Ela acredita que o excesso de sedações tira a dignidade do paciente, causando desconforto, apesar da ideia de prolongar a vida das pacientes em estado terminal.

Especialista em cuidados paliativos e suporte ao luto, a médica explica que essa alternativa de tratamento não consiste em abandono, significa ouvir o paciente, saber de suas dores e como ele gostaria de passar os últimos momentos em vida.

Segundo Ana Claudia, o tratamento passa muito pela preparação dos médicos e o ideal seria fazer um bom uso dos recursos oferecidos pela medicina, dando aos profissionais de saúde o conhecimento necessário para atuar nesses cenários.

Envolvendo a dor do paciente e a angústia de familiares e amigos, a médica explica que o excesso de sedações não é garantia de dignidade, sobretudo quando vai contra a vontade do indivíduo em estágio terminal. A geriatra afirma que seu livro "A morte é uma vida que Vale a Pena Viver", lançado em 2016, contém observações que seguem o contexto vivido por ela ao conviver com pacientes terminais e seus familiares. Ana Claudia diz que o livro pode contribuir com os profissionais da área.

"Com o livro, encontrei um espaço de acolhimento entre as pessoas em geral, não apenas profissionais de saúde. Seja enfrentando uma doença que ameaça a vida ou cuidando de uma pessoa amada que está nessa situação, encontram uma fonte de compreensão do processo, sem nenhum tipo de julgamento. O nome do livro traz uma curiosidade, algumas pessoas acham o título mórbido. Quem abre consegue entender o que a expressão quer dizer", relata.

Em entrevista ao jornalista Mário Bonella, apresentador do programa CBN Cotidiano, da CBN Vitória, Ana Claudia ressalta a importância de escutar o paciente.

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O paciente tem o direito de escolher se ele gostaria de permanecer consciente ou não durante o momento da morte. Algumas pessoas ouvem os familiares, que reclamam da dor, do sofrimento. Mas é importante se direcionar ao paciente, que muitas vezes não pede a sedação. Ele quer manter a consciência para usufruir da alegria de viver e estar próximo de quem ama

Ana Claudia Quintana Arantes
Médica geriatra
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Entrevista - Autora de "A morte é um dia que vale a pena viver" fala sobre cuidados paliativos

PROFISSIONAIS DEVEM SER ENSINADOS A LIDAR COM A SITUAÇÃO

Médico temporário
Ana Claudia reforça que o ensino pode facilitar a atuação dos médicos. (Pixabay)

A especialista no assunto explica que, por falta de conhecimento, alguns médicos acreditam que a única maneira de aliviar a dor e o sofrimento do paciente é tirando a consciência. Por isso, ela destaca ser importante a discussão do tema nas faculdades da área da saúde, sobretudo na Medicina.

"Mais de 90% das dores podem ser resolvidas ou aliviadas com medicações, que podem ser ajustadas a um padrão de consciência muito bom. Mas como os médicos não aprendem a controlar a dor, acreditam ser necessário dar uma dose muito alta [da medicação]", afirma.

De acordo com Ana Claudia, o uso de cuidados paliativos não significa abreviar a vida da pessoa. Para ela, o sofrimento e o desconforto podem, sim, abreviarem a vida de um indivíduo. A médica pontua que a diferença está na qualidade de vida garantida ao paciente.

CUIDADOS PALIATIVOS: SIGNIFICA ESCOLHER O MOMENTO DA MORTE?

Corredor de Hospital
Cuidados paliativos prometem mais dignidade aos pacientes. (Pixabay)

A médica explica que não é sobre escolher o momento em que vamos morrer, mas como iremos enfrentar aquela situação. Ela lembra que no Brasil não há autorização para a eutanásia ou suicídio assistido. Desta forma, o tratamento pode corresponder com a opção. "Com o real cuidado paliativo, a percepção da família não é prolongar o sofrimento, mas de uma presença na vida", comenta.

Ela finaliza destacando que os cuidados paliativos dependem também do corpo do paciente, se a saúde oferece condições mínimas de suportar determinado estado.

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