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O que tem nas águas de praias impróprias no ES e o que acontece ao entrar nelas

O que tem nas águas de praias impróprias no ES e o que acontece ao entrar nelas

Estas águas carregam bactérias e fungos que podem causar diversas doenças nos seres humanos; especialistas recomendam que se evite o contato e olhar a balneabilidade do local

Lucas Gaviorno

Estagiário / [email protected]

Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 17:10

Balneabilidade
Placas como a da foto acima indica que o mar está impróprio para o banho naquele determinado ponto Crédito: Vitor Jubini

A estação mais quente do ano chegou com tudo e com ela vem a preocupação: as águas impróprias nas praias do Espírito Santo. Mesmo com o aviso nas placas indicando a contaminação, muitos banhistas ignoram e mergulham no mar. Mas, você sabe quais são os impactos que essa atitude causa na saúde humana? Muitas doenças são transmitidas através da água suja, causando sintomas como vômito, diarreia, entre outros. Por conta disso, a reportagem de A Gazeta procurou duas especialistas para mais detalhes sobre os riscos envolvidos.

Uma das doenças que podem surgir após um simples mergulho no mar impróprio é a hepatite A, uma infecção perigosa no fígado e altamente contagiosa. A médica infectologista Tania Reuter, membro do comitê científico de hepatites virais da Sociedade Brasileira de Infectologia, disse que a doença pode surgir ao colocar a água contaminada na boca, além de outras formas. "Uma simples brincadeira de colocar água na boca e cuspir, por exemplo, já é suficiente para deixar a pessoa doente", disse.

Segundo a especialista, os sintomas da hepatite não aparecem imediatamente, podendo surgir a partir de sete dias após o contato com a água. São eles:

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O que tem nas águas de praias impróprias no ES e o que acontece ao entrar nelas

  • Mal-estar;
  • Enjoo;
  • Diarreia leve.

A infectologista ainda orientou que se o banhista estiver com algum destes sintomas, é necessário procurar uma unidade de saúde para a realização de exames, que devem apontar se é hepatite A ou não.

Doenças de pele

A pele também fica exposta quando o banhista entra na água contaminada. De acordo com a dermatologista Patrícia Friço, diversas doenças cutâneas podem aparecer após o contato. "As mais comuns são dermatites de contato, foliculites bacterianas, micoses superficiais (como frieira e pano branco), impetigo, larva migrans cutânea e infecções por bactérias como Staphylococcus e Pseudomonas, especialmente em praias com saneamento inadequado", disse a médica.

Essas doenças são mais comuns entre crianças e idosos, que possuem uma pele mais sensível. "Esses grupos têm a barreira cutânea mais vulnerável ou imunidade reduzida, o que facilita a penetração de microrganismos e o agravamento de dermatites, micoses e infecções bacterianas".

Além da própria água contaminada, algumas infecções — como a micose — podem ser transmitidas através da areia da praia. Patrícia explicou que ambientes quentes e úmidos favorecem a proliferação dos fungos, causando lesões em seres humanos. Outras doenças também são mais comuns em ambientes nestas condições: "O calor aumenta a sudorese e a maceração da pele, enquanto a umidade facilita a proliferação de fungos e bactérias, reduzindo a defesa natural da pele e prolongando ou agravando as lesões", aponta.

As bactérias e fungos podem entrar na pele via feridas, sejam elas grandes e/ou extremamente pequenas. A médica alerta ainda sobre os riscos das pequenas lesões.

É uma porta de entrada de bactérias, vírus e fungos. Pode dar micoses nas unhas, onicomicoses, infecções nas cutículas por bactérias. Isso pode causar vermelhidão, inchaço, pus e dor local. Além disso, podem surgir até de verrugas nos dedos, porque o vírus penetra na pele por meio de pequenas feridas

Patrícia Friço

Médica dermatologista

A especialista destacou que os sintomas aparecem entre 24 horas e sete dias após o contato, dependendo do agente causador da infecção. Alguns já são conhecidos, como:

  • Vermelhidão persistente;
  • Coceira intensa;
  • Ardor;
  • Surgimento de bolhas;
  • Pústulas;
  • Feridas com secreção;
  • Crostas;
  • Manchas descamativas ou lesões que aumentam de tamanho nos dias seguintes ao contato.

Classificação de balneabilidade

Balneabilidade é a capacidade que um local tem de possibilitar o banho e atividades esportivas nas águas, ou seja, é a qualidade das águas destinadas à recreação de contato primário. A balneabilidade é determinada a partir da quantidade de bactérias do grupo coliforme presentes na água.

Resolução CONAMA 274/00 estabelece a concentração dos indicadores "própria" ou "imprópria".

Veja onde consultar a balneabilidade das praias da Grande Vitória:

VITÓRIA - veja aqui

VILA VELHA - veja aqui

SERRA - veja aqui

Quando a praia está imprópria?

As águas serão consideradas impróprias quando, no trecho avaliado, for verificada uma das seguintes ocorrências:

  • O valor obtido na última amostragem for superior a 2500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 2000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 mililitros;
  • Incidência elevada ou anormal, na região, de enfermidades transmissíveis por via hídrica, indicada pelas autoridades sanitárias;
  • Presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, inclusive esgotos sanitários, óleos, graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a recreação;
  • Entre outros fatores.

  • 01

    Coliformes fecais (termotolerantes)

    Além de presentes em fezes humanas e de animais, podem também ser encontradas em solos, plantas ou quaisquer efluentes contendo matéria orgânica. São bactérias pertencentes ao grupo dos coliformes totais caracterizadas pela presença da enzima beta-galactosidase e pela capacidade de fermentar a lactose com produção de gás em 24 horas à temperatura de 44-45 °C em meios contendo sais biliares ou outros agentes tenso-ativos com propriedades inibidoras semelhantes.

  • 02

    Escherichia coli

    A Escherichia coli é abundante em fezes humanas e de animais, tendo, somente, sido encontrada em esgotos, efluentes, águas naturais e solos que tenham recebido contaminação fecal recente. Bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae, caracterizada pela presença das enzimas beta-galactosidase e beta-glucuronidase. Cresce em meio complexo a 44-45 °C, fermenta lactose e manitol com produção de ácido e gás e produz indol a partir do aminoácido triptofano. 

  • 03

    Enterococos:

    A maioria das espécies dos Enterococcus são de origem fecal humana, embora possam ser isolados de fezes de animais. Bactérias do grupo dos estreptococos fecais, pertencentes ao gênero Enterococcus (previamente considerado estreptococos do grupo D), o qual se caracteriza pela alta tolerância às condições adversas de crescimento, tais como: capacidade de crescer na presença de 6,5% de cloreto de sódio, a pH 9,6 e nas temperaturas de 10° e 45 °C. 

Com informações de Amanda Monteiro, em entrevista realizada com a médica infectologista Tania Reuter, membro do comitê científico de hepatites virais da Sociedade Brasileira de Infectologia, em 2023

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