O Brasil é um dos países com a maior diversidade de espécies de maracujá do mundo, com mais de 150 já conhecidas. Um novo exemplar identificado no Espírito Santo e em Minas Gerais, porém, foi adicionado a essa lista. O maracujá-das-pedras, cujo nome científico é Passiflora ita, recebeu este nome por sua característica até então única: a planta cresce em rochas.
Espécie de maracujá que nasce em pedras foi identificada no ES
Um dos responsáveis pela descoberta da nova espécie é Ricardo Ribeiro, pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica. Ele contou que a descoberta surgiu a partir de um estudo conduzido por Paulo Gonella, professor da Universidade Federal de São João Del Rei, em Minas Gerais, que visava explorar a fauna e a flora do conjunto de montanhas que formam a Serra do Padre Ângelo, no município mineiro.
A expedição teve início em junho de 2020 e foram catalogadas várias espécies de plantas e animais, principalmente aves. A nova espécie de maracujá, porém, chamou atenção dos pesquisadores. O material foi enviado para a professora Doutora Ana Carolina Mezzonato, da Universidade Federal de Juiz de Fora, especialista de maracujás, que identificou tratar-se de uma nova espécie.
"Então, começamos o intenso estudo descrição da planta. Nós começamos a olhar coleções, chamadas de Herbários, onde ficam depositadas amostras de plantas para ciência e percebemos que também havia sido coletado esse maracujá, até então ainda sem nome, no Mestre Álvaro, em Santa Leopoldina e no Alto Misterioso, em São Roque do Canaã. Fizemos mais expedições em Minas Gerais e coletamos em outras serras ao Lado da Serra do Padre Ângelo Também", disse Ricardo.

Depois de fazer o mapeamento da espécie, era necessário escolher um nome. Os pesquisadores, então, decidiram batizá-la de Passiflora ita, uma vez que a palavra "ita", em tupi-guarani, significa "pedra". Maracujás possuem como seu habitat natural, na maioria das vezes, florestas. Ricardo explicou que a característica dessa nova espécie não é comum, mas que, mesmo em formações rochosas, há condições para crescimento das plantas.
Ricardo Ribeiro
Pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica
"Não é muito comum encontrar maracujás nesses ambientes extremos, é mais comum em florestas e restingas, por exemplo. Isso, por si só, já é bem raro!"
"Isso não é muito comum nesse grupo de plantas. Mas que sabemos que essa rochas ou pedras, chamados de ecossistemas rupícolas, pães de açúcar, inselbergs ou campos rupestres, são ambientes extremos e, para especies ocorrerem ali, elas tem que que ter varias adaptações evolutivas. Ainda não sabemos quais são essas adaptações para os maracujás. Esse ambiente lá em cima tem fissuras, terra, até água, então é possível espécies viverem lá em cima, desde que não haja muita interferência", disse.
ESPÉCIE AMEAÇADA
Apesar de ser recém-identificado, o maracujá-das-pedras já pode ser considerado ameaçado de extinção. Isso porque, segundo Ricardo, as áreas onde essa espécie está presente não são Unidades de Conservação e, por se tratarem de regiões sensíveis e com altos índices de exploração, podem ser facilmente destruídos.
"Como esse locais são bem sensíveis e abrigam muitas espécies, ideal é que alguns desses lugares se torne uma Unidade de Conservação no futuro, para que a gente possa proteger efetivamente essa espécie e tantas outras espécies raras que só ocorrem nesses locais. As principais ameaças são fogo, gado e invasão de outras espécies exóticas, por exemplo", acrescentou.

Ricardo narrou que, em um dos locais nos quais a espécie foi identificada, na região da Serra do Padre Ângelo, em Minas Gerais, uma queimada atingiu uma grande área três meses depois da descoberta. Ele alegou que há poucas Unidades de Conservação que efetivamente protegem as serras.
"Vale lembrar que o Instituto Nacional da Mata Atlântica, sediado em Santa Teresa, tem um projeto que foca estudar especificamente essas rochas e entender o porquê de essas espécies ocorrerem lá, como proteger elas, inicialmente focado na catalogação dessas serras. Esse achado também faz parte desse projeto", argumentou.
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