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Na luta contra a Covid-19, eles comandam os respiradores que salvam vidas

Na luta contra a Covid-19, eles comandam os respiradores que salvam vidas

Nas UTIs dos hospitais,  são os fisioterapeutas intensivistas os responsáveis por ajustar e adequar os equipamentos de ventilação às necessidades dos pacientes

Publicado em 16 de maio de 2020 às 06:00

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Thais Gomes Metzker, Luana Veiga, Ricardo Simão, Flávia Bressanelli, Karine César Romano, fisioterapeutas do Hospital Jayme Santos Neves
Thais Gomes Metzker, Luana Veiga, Ricardo Simão, Flávia Bressanelli, Karine César Romano, fisioterapeutas da equipe do Hospital Jayme Santos Neves. (Arquivo pessoal)

“A gente respira pelos pacientes”. O relato da fisioterapeuta Luana Veiga, de 24 anos, revela que por trás dos tão desejados e disputados respiradores estão os profissionais, cujo comando dos equipamentos garantem aos pacientes o que deles o novo coronavírus tirou: a capacidade de respirar. Uma especialidade pouco divulgada e que tem se tornado fundamental na recuperação dos que foram contaminados na pandemia da Covid-19, principalmente para aqueles que evoluem para um estado mais grave.

Assim como os demais profissionais da saúde - médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem - que atuam nos vários hospitais e UTIs que atendem pacientes com a doença, os fisioterapeutas enfrentam uma rotina de plantões exaustivos, marcados pelo crescente número de pacientes graves, com desfechos nem sempre positivos.

Presenciando verdadeiras “cenas de guerras”, com alas com dezenas de pacientes intubados, eles temem ainda o risco de contaminação, que já alcançou vários de seus colegas, e de levar a doença para seus familiares e amigos. Dilemas que A Gazeta apresenta nesta reportagem como forma de homenagear e agradecer os agentes que estão na batalha contra esse inimigo microscópico.

Thais Gomes Metzker, Luana Veiga, Ricardo Simão, Flávia Bressanelli, Karine César Romano, fisioterapeutas do Hospital Jayme Santos Neves
Thais Gomes Metzker, Luana Veiga, Ricardo Simão, Flávia Bressanelli, Karine César Romano, fisioterapeutas do Hospital Jayme Santos Neves. (Arquivo pessoal)

CONTAMINAÇÃO

Uma das grandes preocupações de todos, é com a contaminação. Para evitá-la, é necessário o uso de muita paramentação, que torna a rotina ainda mais desgastante. “É preciso estar muito atento, principalmente na hora de retirar o paramento ou parte dele, o que em algumas UTIs acabam sendo mais frequentes em decorrência de uma maior número de pacientes”, relata Ricardo Biancardine, 40 anos, é o responsável técnico pelas UTIs do Hospital Santa Rita e a do Hospital Jayme Santos Neves.

Quase todos relatam casos de colegas que tiveram que se afastar por apresentar sintomas da doença. O próprio Biancardine está em isolamento por um quadro gripal, mas ainda aguarda o resultado do seu teste para o vírus.

De acordo com o Conselho Regional de Fisioterapia no Estado (Crefito-15), pelo menos 35 fisioterapeutas já se contaminaram com o novo coronavírus em todo o Estado. Dentre as 15 especialidades da fisioterapia, um total de 4.500 profissionais atuam no Espírito Santo.

Com o afastamento dos profissionais, a jornada acaba ficando mais pesada, uma vez que faltam profissionais no mercado. “Temos nos mobilizado para suprir a ausência dos colegas afastados e não deixar furos nos plantões. Ajudamos com plantões extras, mesmo com a carga horária que não é pequena”, relata Luana Veiga.

Seu colega, Ricardo Simão, 42 anos, além dos plantões, ministra cursos para profissionais que estão sendo contratados para suprir as demandas das UTIs. “Me coloquei à disposição para ajudar no que fosse preciso”, conta.

Segundo Eunice Silva e Souza, presidente do Crefito-15, uma das lutas da categoria tem sido a ampliação da jornada de trabalho prevista em lei. “Atualmente a legislação determina que as UTIs tenham fisioterapeutas por 18 horas diárias, queremos ampliar para 24h”, explicou.

Luana Veiga, de 24 anos, atua como fisioterapeuta intensivista do Hospital Jayme Santos Neves
Luana Veiga, de 24 anos, atua como fisioterapeuta intensivista do Hospital Jayme Santos Neves. (Arquivo pessoal)

MUITO ALÉM DO REMÉDIO

Segundo Karina Veiga, 32, a fisioterapia é fundamental no tratamento da Covid-19, sendo aplicada muito antes do paciente chegar a precisar de um respirador. "Só o remédio não faz milagre", destaca. 

A atuação do fisioterapeuta intensivista vai de avaliação clínica, avaliação de exames, realização da titulação (quantidade) de oxigênio que o paciente deve receber, até técnicas e aplicação de manobras torácicas com o intuito de expandir e aumentar a capacidade pulmonar do paciente.

É ainda função do fisioterapeuta avaliar o sistema respiratório para identificar, principalmente, a repercussão nas trocas gasosas, que é a principal função do sistema respiratório. Um monitoramento para identificar o momento em que o paciente pode vir a precisar de ajuda de equipamentos para respirar. Ela explica que nos casos de Covid-19, a piora do quadro do paciente pode ocorrer em um curto intervalo de tempo. 

São ainda os fisioterapeutas que auxiliam os médicos no momento da intubação e que controlam os ventiladores mecânicos, os respiradores, ajustando e adequando o equipamento ao paciente, de forma que o tratamento posso auxiliá-lo a vencer a doença.   

“Os parâmetros do respirador são regulados e adaptados ao paciente pelo fisioterapeuta. Sem ele o equipamento não funciona adequadamente. É como um carro, sem motorista”, explica Eunice Silva e Souza, presidente do Crefito-15. 

Vanessa Rodrigues Gomes,  34 anos, dez deles como fisioterapeuta, atua na UTI do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam)
Vanessa Rodrigues Gomes, 34 anos, dez deles como fisioterapeuta, atua na UTI do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam). (Arquivo pessoal)

Não é à toa que Luana Veiga relata que os fisioterapeutas “respiram pelo paciente”. “O respirador oferta mais oxigênio, faz pressão para respirar, faz com que ocorram as trocas gasosas, para suprir as necessidades do paciente”, explica.

E quando eles deixam o equipamentos, começa a etapa da reabilitação, quando vai aprender a respirar da forma correta. A eles são aplicados vários exercícios para que possa voltar a respirar com a capacidade pulmonar anterior. 

Eunice Silva e Souza, presidente do Conselho Regional de Fisioterapia no Estado (Crefito-15)
Eunice Silva e Souza, presidente do Conselho Regional de Fisioterapia no Estado (Crefito-15). (Arquivo pessoal)

EMOÇÃO

Mas é também uma rotina que tem sido marcada por muita emoção, principalmente quando os pacientes conseguem vencer a doença e recebem alta. E até mesmo quando, apesar de muito doentes, apresentam uma melhora após a realização de alguma manobra fisioterapêutica. “Toda a equipe comemora. Vibramos muito”, conta Vanessa Rodrigues Gomes, 34, após a realização de uma manobra chamada pronação, onde o paciente é virado de barriga para baixo.

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Uma doença, como relata Thais Gomes Metzker, 30 anos, que está nos revelando a nossa fragilidade e o quanto precisamos mudar. A experiência a ela mostrou que todos podem ser alvos desta doença, que tem ensinado que não existe diferença social, de classe, gênero, personalidade, se é rico pobre, branco negro. “Somos todos iguais, frágeis, e vamos sair transformados desta pandemia, descobrindo o que de fato tem valor.”

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