Publicado em 16 de maio de 2020 às 06:00
A gente respira pelos pacientes. O relato da fisioterapeuta Luana Veiga, de 24 anos, revela que por trás dos tão desejados e disputados respiradores estão os profissionais, cujo comando dos equipamentos garantem aos pacientes o que deles o novo coronavírus tirou: a capacidade de respirar. Uma especialidade pouco divulgada e que tem se tornado fundamental na recuperação dos que foram contaminados na pandemia da Covid-19, principalmente para aqueles que evoluem para um estado mais grave. >
Assim como os demais profissionais da saúde - médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem - que atuam nos vários hospitais e UTIs que atendem pacientes com a doença, os fisioterapeutas enfrentam uma rotina de plantões exaustivos, marcados pelo crescente número de pacientes graves, com desfechos nem sempre positivos.>
Presenciando verdadeiras cenas de guerras, com alas com dezenas de pacientes intubados, eles temem ainda o risco de contaminação, que já alcançou vários de seus colegas, e de levar a doença para seus familiares e amigos. Dilemas que A Gazeta apresenta nesta reportagem como forma de homenagear e agradecer os agentes que estão na batalha contra esse inimigo microscópico. >
Uma das grandes preocupações de todos, é com a contaminação. Para evitá-la, é necessário o uso de muita paramentação, que torna a rotina ainda mais desgastante. É preciso estar muito atento, principalmente na hora de retirar o paramento ou parte dele, o que em algumas UTIs acabam sendo mais frequentes em decorrência de uma maior número de pacientes, relata Ricardo Biancardine, 40 anos, é o responsável técnico pelas UTIs do Hospital Santa Rita e a do Hospital Jayme Santos Neves.>
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Quase todos relatam casos de colegas que tiveram que se afastar por apresentar sintomas da doença. O próprio Biancardine está em isolamento por um quadro gripal, mas ainda aguarda o resultado do seu teste para o vírus.>
De acordo com o Conselho Regional de Fisioterapia no Estado (Crefito-15), pelo menos 35 fisioterapeutas já se contaminaram com o novo coronavírus em todo o Estado. Dentre as 15 especialidades da fisioterapia, um total de 4.500 profissionais atuam no Espírito Santo.>
Com o afastamento dos profissionais, a jornada acaba ficando mais pesada, uma vez que faltam profissionais no mercado. Temos nos mobilizado para suprir a ausência dos colegas afastados e não deixar furos nos plantões. Ajudamos com plantões extras, mesmo com a carga horária que não é pequena, relata Luana Veiga.>
Seu colega, Ricardo Simão, 42 anos, além dos plantões, ministra cursos para profissionais que estão sendo contratados para suprir as demandas das UTIs. Me coloquei à disposição para ajudar no que fosse preciso, conta.>
Segundo Eunice Silva e Souza, presidente do Crefito-15, uma das lutas da categoria tem sido a ampliação da jornada de trabalho prevista em lei. Atualmente a legislação determina que as UTIs tenham fisioterapeutas por 18 horas diárias, queremos ampliar para 24h, explicou.>
Segundo Karina Veiga, 32, a fisioterapia é fundamental no tratamento da Covid-19, sendo aplicada muito antes do paciente chegar a precisar de um respirador. "Só o remédio não faz milagre", destaca. >
A atuação do fisioterapeuta intensivista vai de avaliação clínica, avaliação de exames, realização da titulação (quantidade) de oxigênio que o paciente deve receber, até técnicas e aplicação de manobras torácicas com o intuito de expandir e aumentar a capacidade pulmonar do paciente. >
É ainda função do fisioterapeuta avaliar o sistema respiratório para identificar, principalmente, a repercussão nas trocas gasosas, que é a principal função do sistema respiratório. Um monitoramento para identificar o momento em que o paciente pode vir a precisar de ajuda de equipamentos para respirar. Ela explica que nos casos de Covid-19, a piora do quadro do paciente pode ocorrer em um curto intervalo de tempo. >
São ainda os fisioterapeutas que auxiliam os médicos no momento da intubação e que controlam os ventiladores mecânicos, os respiradores, ajustando e adequando o equipamento ao paciente, de forma que o tratamento posso auxiliá-lo a vencer a doença. >
Os parâmetros do respirador são regulados e adaptados ao paciente pelo fisioterapeuta. Sem ele o equipamento não funciona adequadamente. É como um carro, sem motorista, explica Eunice Silva e Souza, presidente do Crefito-15. >
Não é à toa que Luana Veiga relata que os fisioterapeutas respiram pelo paciente. O respirador oferta mais oxigênio, faz pressão para respirar, faz com que ocorram as trocas gasosas, para suprir as necessidades do paciente, explica. >
E quando eles deixam o equipamentos, começa a etapa da reabilitação, quando vai aprender a respirar da forma correta. A eles são aplicados vários exercícios para que possa voltar a respirar com a capacidade pulmonar anterior. >
Mas é também uma rotina que tem sido marcada por muita emoção, principalmente quando os pacientes conseguem vencer a doença e recebem alta. E até mesmo quando, apesar de muito doentes, apresentam uma melhora após a realização de alguma manobra fisioterapêutica. Toda a equipe comemora. Vibramos muito, conta Vanessa Rodrigues Gomes, 34, após a realização de uma manobra chamada pronação, onde o paciente é virado de barriga para baixo.>
Uma doença, como relata Thais Gomes Metzker, 30 anos, que está nos revelando a nossa fragilidade e o quanto precisamos mudar. A experiência a ela mostrou que todos podem ser alvos desta doença, que tem ensinado que não existe diferença social, de classe, gênero, personalidade, se é rico pobre, branco negro. Somos todos iguais, frágeis, e vamos sair transformados desta pandemia, descobrindo o que de fato tem valor.>
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