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As histórias escritas por negros no ES, no Brasil e no mundo

As histórias escritas por negros no ES, no Brasil e no mundo

Da princesa angolana que lutou pela liberdade no Estado ao primeiro negro eleito presidente dos Estados Unidos, A Gazeta destacou 14 personalidades

Publicado em 18 de novembro de 2020 às 10:46

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A história escrita por negros no ES, no Brasil e no mundo
Zacimba Gaba, Barack Obama, Albuíno de Azeredo, Angela Avis, Laura Felizardo, Kamala Harris e Machado de Assis  . (Arte A Gazeta)

A história dos negros não começou com a escravidão. A escravidão interrompeu parte da história dos negros. Apesar de direitos básicos negados - não só nos 338 anos em que foram sequestrados e escravizados, mas também no reflexo desse crime através das injustiças sociais até os dias de hoje, muitas foram as conquistas do povo preto ao longo dos anos. Essas conquistas, porém, pouco foram contadas nos livros de História e até hoje são desvalorizadas. 

Da princesa angolana que precisou lutar pela liberdade no Espírito Santo, Zacimba Gaba, ao primeiro negro eleito ao cargo de presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, A Gazeta destacou 14 personalidades que fizeram história no Estado, no Brasil e no mundo.

  • Natural de Angola, foi no Espírito Santo que Zacimba Gaba precisou lutar para sobreviver e salvar outras pessoas

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    Zacimba Gaba

    Natural de Angola, foi no Espírito Santo que Zacimba Gaba precisou lutar para sobreviver e salvar outras pessoas. Com o título de princesa da nação Cabinda, ela foi sequestrada junto ao povo para o Porto da Aldeia de São Mateus, no Norte do Estado. Lá, foi vendida como escravizada para o fazendeiro português José Trancoso. Após ser cruelmente torturada para revelar que fazia parte da corte em Angola, sofreu constantes estupros. Durante os anos de violência, traçou o plano de fuga e vingança: proibiu que os negros tentassem libertá-la até que ela conseguisse envenenar os torturadores aos poucos. Após conseguir, fugiu com outros negros e criou o próprio quilombo. Ela passou o resto da vida libertando pessoas escravizadas em solos capixabas, atacando os navios que os traziam para o Espírito Santo. Como uma princesa guerreira, morreu em uma dessas ações. Apesar de histórias da luta negra em 338 anos de escravidão pouco ser contada nos livros, existem vários outros líderes abolicionistas além de Zacimba. Alguns deles são: Esperança Garcia que, em 2017, recebeu o título de primeira mulher advogada do Brasil por, em 1770, ter enviado uma carta ao governador do Piauí denunciando maus-tratos de negros escravizados; além de Elisiário, considerado o “Zumbi da Serra”, um dos líderes do principal movimento contra a escravidão no Espírito Santo: a Insurreição de Queimado, em 1849.

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    Kamala Harris

    A primeira mulher eleita para o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos é  negra. Filha de um jamaicano e uma indiana, Kamala Devi Harris é formada em Direito e Artes. Anteriormente, foi a primeira mulher procuradora-geral do Estado, na Califórnia, e a primeira senadora de origem afro-americana e indiana. Em agosto de 2020, foi escolhida por Joe Biden como sua companheira de chapa e, em novembro, derrotaram Trump e Mike Pence. Sua posse na vice-presidência está prevista para 20 de janeiro de 2021. Durante e após a campanha, Kamala se posicionou contra o racismo: “Vamos ser claros: não existe vacina contra o racismo. Nós temos que fazer o trabalho.” A questão racial faz parte dos momentos mais emocionantes dos discursos da senadora. Ela já chegou a afirmar que os grupos minorizados, como os negros, morrem de forma desproporcional. “Isto não é uma coincidência. É o efeito do racismo estrutural. Das desigualdades em educação e tecnologia, saúde e habitação, segurança no emprego e transporte. A injustiça na atenção à saúde reprodutiva e materna. No uso excessivo da força pela polícia. E em nosso sistema de justiça criminal mais amplo."

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    Ruby Bridges

    Se hoje crianças negras têm o direito de estudar em qualquer escola, isso teve início com a ativista estadunidense Ruby Bridges. Nascida em 1954, em Mississippi, ela foi a primeira criança preta a estudar em uma escola primária caucasiana, em Louisiana. Tudo teve início quando a mãe da menina convenceu o marido de que deveriam aceitar o pedido da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP) para que a filha participasse da integração do sistema escolar de Nova Orleans. Para ela, era uma oportunidade de Ruby ter uma educação melhor e de dar um passo à frente, em nome de todas as crianças afro-americanas. Antes do primeiro dia de aula, a mãe pediu que a filha não tivesse medo. E Bridges pareceu escutar o conselho. Ela foi a única criança negra a ingressar na Escola Elementar William Frantz e a família sofreu constantes ataques de moradores, pais e alunos brancos. Em entrevista para o jornal PBS NewsHour, em 1997, ela lembrou do primeiro dia de aula: "Havia uma grande multidão fora da escola. Eles estavam jogando coisas e gritando." Ameaçada de morte, a criança precisou de escolta policial para estudar. Em 2017, o site de notícias My Hero recordou a história com uma fala do ex-vice-diretor do Serviço de Delegado de Polícia dos Estados Unidos, Charles Burks: ‘Ruby mostrou muita coragem. Ela nunca chorou. Ela não choramingou. Ela só marchava como um soldadinho. E nós temos muito orgulho dela", disse. Atualmente, Bridges é presidente da Fundação Ruby Bridges, fundada em 1999 para promover o respeito e a valorização das diferenças. Em 15 de julho de 2011, Bridges encontrou-se com o presidente Barack Obama na Casa Branca. Durante a exibição do quadro "The Problem We All Live With" (O problema com o qual todos convivemos, em português), feito pelo artista Norman Rockwell em homenagem à Ruby em 1964, Obama lhe disse: "Eu acho que é justo dizer que, se não fosse por você, eu poderia não estar aqui e nós não estaríamos olhando para isso juntos." Em 2014, uma estátua de Bridges foi levantada no pátio da Escola Elementar William Frantz.

  • Natural da República Democrática do Congo, o médico ginecologista congolês Denis Mukwege ganhar o Nobel da Paz após intensa luta contra o abuso sexual de mulheres

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    Denis Mukwege

    É coisa de preto: ganhar o Nobel da Paz após intensa luta contra o abuso sexual de mulheres e dedicação no tratamento das vítimas. Natural da República Democrática do Congo, o médico ginecologista congolês Denis Mukwege já atendeu mais de 30 mil vítimas com ferimentos graves no Congo. Muitas das violências que acompanhou foram por consequência da guerra civil no país, que registra milhões de mortos e estupros contra milhares de mulheres. Inspirado na própria história, quando quase morreu logo nos primeiros dias de vida por uma série de erros durante o parto, e indignado com a alta taxa de mortalidade infantil, especializou-se em pediatria. Logo, percebeu também a alta mortalidade materna em decorrência das péssimas condições de parto. Vendo que não seria possível cuidar das crianças sem antes atender as mães, especializou-se em ginecologia e obstetrícia. Mas a primeira paciente de Panzi não foi até ele para dar à luz, e sim uma vítima de um estupro cruel. Ao ver que o caso não era isolado, e que mulheres eram constantemente vítimas de grupos armados como tortura psicológica e física à determinada comunidade, especializou-se no tratamento de mulheres que foram violadas por milícias na guerra civil, sendo um dos maiores especialistas mundiais na reparação e tratamento de danos físicos provocados por violação. Conhecido pela frase “justiça é responsabilidade de todos”, o médico montou um hospital com 350 leitos financiados pelo Unicef e outros doadores. O hospital já atendeu mais de 55 mil vítimas de violência sexual, realizou mais de 50 mil cirurgias em mulheres vítimas de estupro e o médico chegou a fazer mais de dez cirurgias por dia em turnos de trabalho com mais de 18 horas. Ele também criou uma unidade voltada para o atendimento móvel, um sistema para oferecer microcrédito para as vítimas reconstruírem as vidas e sofreu consequências como atentados de grupos armados. As iniciativas fizeram de Denis o ganhador do Nobel da Paz 2018, ao lado de Nadia Murad, ativista de Direitos Humanos que sobreviveu ao tráfico sexual de mulheres.

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    Machado de Assis

    Embora tenha tido a imagem embranquecida durante muito tempo nos livros de História, Machado de Assis, um dos grandes nomes da Literarura Brasileira, era negro. Nascido no Rio de Janeiro e de família pobre, desde pequeno Assis demonstrou interesse pelos livros e, assim, aprendeu francês. Durante a vida, foi funcionário público em vários ministérios, publicou crônicas e contos em jornais e escreveu nove romances fundamentais para a nossa literatura, como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL), sendo o primeiro presidente, teve um importante papel na divulgação da língua portuguesa do Brasil. A discussão sobre o embranquecimento de Machado de Assis não é recente. Diversas pesquisas e livros publicados reúnem evidências de que o autor era negro e foi tomado como branco pela elite intelectual da época. O assunto ganhou nova força em 2019, quando um pesquisador encontrou uma foto de Assis em um exemplar de 1908 da revista argentina Caras y Caretas, onde era possível vê-lo como um homem visivelmente negro, bem diferente daquele de pele clara e cabelos lisos que vemos em alguns livros. Uma nova versão dessa imagem tomou as redes sociais e jornais na campanha “Machado de Assis Real”, realizada pela Faculdade Zumbi de Palmares, que coloriu a famosa foto do escritor. Segundo o texto publicado no site da iniciativa, trata-se de uma “errata histórica feita para impedir que o racismo na literatura seja perpetuado." A nova imagem do autor está disponível para download em diversos tamanhos no site, para que leitores imprimam e colem sobre a versão antiga em seus livros. Além disso, a faculdade iniciou um abaixo-assinado on-line para que as editoras parem de imprimir e publicar edições com a foto embranquecida de Machado.

  • Laudelina de Campos Melo entrou para a política na década de 30, época em que esse cenário era quase totalmente formado por homens e brancos

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    Laudelina de Campos Melo

    Você sabia que os direitos dos trabalhadores domésticos no Brasil foram impulsionados por uma mulher negra? Nascida em Poços de Caldas, em Minas Gerais, desde muito cedo Laudelina de Campos Melo auxiliava a mãe com trabalhos domésticos e fazendo doces para ajudar no sustento da casa. Aos 16 anos, viu a matriarca da família ser agredida fisicamente após negar-se a fazer um serviço na casa de uma família branca. Ao ver a cena, a jovem decidiu lutar pelos direitos das mulheres e trabalhadoras domésticas. No mesmo ano, foi eleita presidente do Clube 13 de Maio, que promovia atividades recreativas e políticas entre a população negra. Laudelina começou a participar de associações culturais e filiou-se ao PCB na década de 30, em uma época em que a política era quase totalmente formada por homens e brancos. Mudou-se para São Paulo e,  ao perceber anúncios preconceituosos, que davam preferência às empregadas brancas, protestou nos jornais da época. Laudelina também integrou o Movimento Negro de Campinas, participando de eventos que visavam levantar a autoestima da comunidade negra, com teatros e palestras, e promovendo o baile de debutantes Pérola Negra, no Teatro Municipal de Campinas. Durante a luta pela valorização da cultura negra e do trabalho doméstico, fundou a primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do Brasil. Mil e duzentas trabalhadoras estiveram no ato da inauguração da associação, e Laudelina foi convidada para participar da organização de diversos sindicatos da categoria em outros Estados, participando também de movimentos negros e feministas. Em 1988, a associação se tornou o Sindicato das Empregadas Domésticas. Durante toda a vida, Laudelina organizou manifestações e abaixo-assinados com o propósito de pressionar os legisladores a tornarem públicas leis favoráveis ao trabalhador doméstico e combateu a discriminação contra a classe.

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    Albuíno Cunha de Azeredo

    Um dos primeiros governadores negros da história do país era capixaba. Nascido em Vila Velha, antes de ingressar no ensino superior, Albuíno Cunha de Azeredo trabalhou como vendedor ambulante, comerciante, peão de pedreira e jogador do Atlético de Vitória. Depois, conseguiu ingressar no curso de Engenharia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Durante o curso, estagiou na Vale (antes, Companhia Vale do Rio Doce), trabalhou no local após a graduação e fundou a Enefer, empresa de consultoria no ramo do transporte ferroviário. Dividindo as atividades empresariais com a política, foi eleito governador do Espírito Santo no segundo turno das eleições de 1990. Duas visitas internacionais marcaram os anos de governo de Albuíno Azeredo. A primeira ocorreu no dia 4 de agosto de 1991, quando o ex-presidente sul-africano e ativista do movimento negro Nelson Mandela seguiu para a Residência Oficial do governo do Estado, na Praia da Costa, em Vila Velha, onde foi recebido por Albuíno. Em outubro do mesmo ano, foi a vez do papa João Paulo II, que visitou a Capital. Além da missa na Enseada do Suá, no lugar hoje conhecido como Praça do Papa, o pontífice fez uma celebração em São Pedro, Vitória. Após cumprir integralmente o mandato como governador até 1994, Albuíno retornou às atividades empresariais e, em 1997, foi nomeado secretário de Planejamento do município de Cariacica. Convidado pelo governo do Rio de Janeiro, presidiu a Rio Trilhos (responsável pelo metrô) e a Companhia Fluminense de Trens Urbanos (Flumitrens). Depois, foi nomeado  presidente da Companhia Estadual de Engenharia, Transportes e Logística (Central). Albuíno morreu em 2018, aos 73 anos, em Vila Velha.

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    Barack Obama

    Com origens queniana e norte-americana, Barack Hussein Obama fez história sendo o primeiro afro-americano presidente dos Estados Unidos, de 2009 a 2017. Nascido em Honolulu, no Havaí, Obama foi criado longe do pai e conseguiu graduar-se em Ciência Política pela Universidade Columbia e, em Direito, pela Universidade de Harvard, onde presidiu a Harvard Law Review. Antes de entrar na política, já mostrava espírito de liderança como organizador comunitário, advogado na defesa de direitos civis e ensinando Direito Constitucional na escola de Direito da Universidade de Chicago. Na política, Obama representou por três mandatos o 13º distrito no Senado de Illinois, entre 1994 a 2004. Após vencer o primeiro mandato, em 1994, foi convidado para fazer o discurso principal da Convenção Nacional Democrata, recebendo atenção nacional da mídia. Depois, foi eleito senador com quase 70% dos votos. Dando início à campanha presidencial em 2007, derrotou seus oponentes. Nove meses depois de tomar posse da presidência, em 2009, ganhou o Nobel da Paz pelos esforços para reforçar o papel da diplomacia internacional e a cooperação entre os povos. Durante o primeiro mandato, Obama sancionou propostas de estímulo econômico e outras iniciativas em resposta à crise financeira. Outras importantes iniciativas nacionais neste período incluem a aprovação e sanção da Lei de Proteção e Cuidado ao Paciente. Ele foi reeleito presidente em novembro de 2012. Durante o segundo mandato, Obama promoveu políticas internas relacionadas com o controle de armas, em resposta ao tiroteio na escola primária de Sandy Hook e outros massacres, e defendeu a igualdade LGBTQI+. Ao deixar a presidência, em janeiro de 2017, Obama tinha um índice de aprovação de 60% entre o povo americano, com o governo também sendo bem avaliado entre os historiadores e acadêmicos.

  • Carolina Maria de Jesus: mulher, negra, favelada, compositora, poetisa e escritora de sucesso.

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    Carolina Maria de Jesus

    Mulher, negra, favelada, compositora, poetisa e escritora de sucesso. Nascida na cidade de Sacramento, em Minas Gerais, Carolina Maria de Jesus cresceu em uma comunidade rural, com pais analfabetos. Conseguindo frequentar a escola apenas por dois anos, após receber ajuda, aprendeu a ler e a escrever, desenvolvendo o gosto pela leitura. Em busca de uma vida melhor, foi para São Paulo, na favela de Canindé, onde construiu a própria casa usando materiais como madeira, lata ou papelão. Sozinha, sustentou os três filhos através do trabalho com reciclagem. Enquanto isso, escrevia em um diário todos os dias difíceis que enfrentava, em uma luta pela sobrevivência e contra a fome. No final da década de 1950, o jornalista Audálio Dantas, da Folha da Noite, foi fazer uma matéria em Canindé para falar do deslocamento da favela por conta da especulação imobiliária. Ao conhecer a autora e ler as anotações dela, ele afirmou que a matéria já estava pronta, escrita pela própria Carolina, em uma linguagem crua, poética e emocionante. O jornalista auxiliou a escritora a publicar as anotações, que tornaram-se o livro “Quarto de Despejo”. A publicação virou um sucesso imediato e já foi traduzida para 29 idiomas. Com o sucesso das vendas, Carolina deixou a favela e pouco depois comprou uma casa no Alto de Santana. A autora recebeu homenagens da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo, além do título honorífico da Orden Caballero del Tornillo, na Argentina, em 1961. Ela ainda publicou outros trabalhos, como “Provérbios”, “Diário de Bitita” e "Pedaços da fome". Anos depois, não recebendo muitos benefícios pelo sucesso e tendo poucas oportunidades como escritora, voltou a trabalhar com reciclagem.

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    Angela Davis

    Angela Yvonne Davis nasceu no Alabama, nos Estados Unidos, e tornou-se uma dos principais mulheres negras na luta pelos direitos civis na década de 1960 e 1970. Ela cresceu em um dos Estados do sul americano, onde a segregação racial era mais dura e organizações civis como a Ku Klux Klan tinham o hábito de perseguir, linchar e enforcar pessoas negras. Desde cedo, conviveu com humilhações de cunho racial. Leitora voraz quando criança, aos 14 anos participou de um intercâmbio colegial que oferecia bolsas para estudantes negros sulistas em escolas integradas do norte do país, o que a levou a estudar Filosofia em Nova Iorque. Ela passou a militar em favor dos direitos civis, igualdade de gêneros, entre outras causas. Aos 20 anos, associou-se ao partido dos Panteras Negras, chegou a ser uma das dez pessoas mais procuradas no país pelo FBI, mas depois foi inocentada de todas as acusações. Em 1977, ganhou o Prêmio Lênin da Paz, pela luta a favor dos negros e das mulheres. Angela lecionou por 17 anos no Departamento de História da Consciência na prestigiada Universidade da Califórnia, recebeu o título de professora emérita da mesma instituição e se aposentou em 2008. Após a aposentadoria, continuou a rotina de palestras e cursos em diversas universidades e centros culturais por todo o mundo. Em 2019, passou a integrar o "National Women’s Hall of Fame" dos Estados Unidos. Até hoje, ela é símbolo de resistência negra e acadêmica respeitada nos estudos étnicos e de gênero.

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    Laura Felizardo

    Matriarca da cultura Bantu no Espírito Santo, Laura Felizardo é uma das personalidades mais lembradas do congo capixaba. Em pesquisas feitas pelo filho de Dona Laura, o bailarino e coreógrafo Paulo Fernandes, foi o avô de dela, Colodino Felizardo, um dos que trouxe os ritmos do congo da África para o Estado, implantando a cultura na comunidade Morro do Feijão, em João Neiva. Com uma infância difícil devido à falta de oportunidade para negros e negras, Laura trabalhou como empregada doméstica desde muito cedo. Após criar o filho, ela largou o trabalho pesado e foi incentivada por ele a atuar na cultura do Espírito Santo, não apenas através do congo, mas também no teatro. Nos últimos anos, Laura residiu no Centro de Vitória e recebeu diversas homenagens nas Câmaras de Vereadores, Assembleia Legislativa e instituições acadêmicas. Conhecida por caminhar pelo Centro de Vitória, sempre ao lado do filho e usando tecidos africanos, Dona Laura morreu em junho de 2020, aos 92 anos. A imagem dela, porém, continua presente em artes e homenagens de artistas pelas ruas da Capital. “Além dessas artes já presentes pelo Centro, também estou elaborando um monumento com a imagem dela. A ideia é valorizar não apenas a minha mãe, mas tantas outras mulheres negras capixabas que enfrentam preconceitos, direitos negados e precisaram comandar uma família - na maioria das vezes, sozinhas. É um reconhecimento que dá visibilidade histórica e cultural, proporcionando conhecimento, consciência e autoestima”, explicou Paulo.

  • Quando se fala em Geografia, um dos maiores nomes no mundo é de um homem negro e brasileiro: Milton Santos.

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    Milton Santos

    Quando se fala em Geografia, um dos maiores nomes no mundo é de um homem negro e brasileiro. Nascido na Bahia e filho de professores, Milton Santos começou a dar aulas de matemática no ginásio em que estudava, com apenas 13 anos. Mais tarde, formou-se em Direito. Mas, apaixonado por Geografia, concluiu um doutorado no curso pela Universidade de Estrasburgo, na França. Paralelamente às atividades acadêmicas, realizou trabalhos no Jornalismo e na política, chegando a ser preso pela ditadura militar e conseguindo exílio na França. Milton ficou 13 anos fora do Brasil dando aulas e fundando laboratórios na França, Inglaterra, Nigéria, Venezuela, Peru, Colômbia e Canadá. Ele ganhou mais de 20 títulos de doutor honoris causa no Brasil e no mundo, e é o único geógrafo latino-americano a ser homenageado com o prêmio Vautrin Lud, em 1994, considerado o Nobel da Geografia. No mesmo período, ganhou um Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, pelo livro "A Natureza do Espaço". Além de geógrafo, jornalista, advogado e professor universitário, Milton também fez carreira como escritor e cientista. Destacou-se por trabalhos como os estudos de urbanização do terceiro mundo e a globalização nos anos 1990. Também foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil, ocorrida na década de 1970. Ele apresentou obras de posicionamento crítico ao sistema capitalista e seus pressupostos teóricos dominantes na geografia. Apelidado de "Cidadão do mundo", Milton Santos publicou mais de 40 livros e mais de 300 artigos científicos. Ele morreu em 24 de junho de 2001.

  • Pouca gente sabe, mas a Parada LGBTQI+ como é conhecida hoje em dia teve início através de uma travesti negra: Marsha P. Johnson

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    Marsha Johnson

    Pouca gente sabe, mas a Parada LGBTQI+ como é conhecida hoje em dia teve início através de uma travesti negra. Marsha P. Johnson foi uma ativista e drag queen dos Estados Unidos, conhecida como uma das personalidades que iniciou a Rebelião de Stonewall, em 1969. Nascida em 24 de agosto de 1945, em Nova Jérsei, Marsha passou pela transição de gênero aos cinco anos de idade. Nesse período, começou a usar vestidos, mas precisou parar devido ao assédio dos garotos do bairro onde morava. Para ela, a ideia de ser LGBTQI+ era um sonho que não parecia possível. Aos 17 anos, sofrendo com preconceito dentro da própria família, mudou-se para Nova Iorque com apenas US$ 15 dólares e uma mala de roupas. Na cidade, trabalhou como garçonete e finalmente acreditou que era possível ser abertamente quem era. Fundadora da Frente de Libertação Gay, cofundou, ao lado de Sylvia Rivera, a organização de apoio aos direitos gays e transexuais S.T.A.R. (Street Transvestite Action Revolutionaries). De 1987 a 1992, Johnson lutou contra a Aids e aderiu ao movimento ACT UP, cujo objetivo era erradicar a pandemia da doença. Em 1969, pessoas LGBTQI+ curtiam a noite no Stonewall In, um dos poucos bares que vendiam bebida alcoólica para a comunidade, o que era considerado ato indecente e passível de multa na época. Por essa razão, o bar – assim como muitos bares em Nova York – era clandestino. Uma noite, guardas invadiram o estabelecimento, arrastando clientes para fora. Foi quando Marsha P. Johnson resolveu reagir. Recebendo apoio, houve o início da Revolta de Stonewall, que durou três dias. Sabe-se que manifestações por direitos LGBTQI+ já existiam, mas não de forma tão aberta, o que passou a acontecer depois desta noite. Nas ações, para evitar represálias e discriminação, ativistas escondiam seus rostos. Desde então, paradas de orgulho LGBTI+ de formato similar passaram a ser realizadas em diversos países. Mas, sem condições de se manter, Marsha viveu nas ruas sobrevivendo pela prostituição. Entre 1990 e 1992, quando morreu, Johnson viveu com uma amiga, que a tirou da rua em uma noite extremamente fria. No ano de 2016, a ativista Elle Hearns fundou o Instituto Marsha P. Johnson (MPJI) para apoiar a comunidade transgênera, principalmente as mulheres negras trans. Em 2017, foi ao ar um documentário dirigido por David France, que narra a vida de Marsha e Sylvia Rivera entre 1960 até 1990. O objetivo era exigir maior investigação sobre a morte de Marsha, que foi tratada como um suicídio, alegação não aceita por personalidades. Em 2018, o governo de Nova Iorque deu início ao projeto "She Built NYC", para reduzir a disparidade entre monumentos de homens e mulheres na cidade. Em maio de 2019, foi anunciada a construção de um monumento homenageando Marsha e Sylvia Rivera.

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    Patricia Bath

    Conhecida como uma das mulheres que mudaram o mundo, Patricia Bath é uma oftalmologista pioneira que inventou uma técnica que revolucionou a cirurgia de catarata. Mas como uma mulher afro-americana, o que era raro em seu campo, enfrentou ódio, segregação e racismo à medida que se destacava. "Eu tive alguns obstáculos, mas tive que me livrar deles. Ódio, segregação, racismo, esse é o barulho que você tem que ignorar e manter os olhos focados no prêmio, é como o Dr. Martin Luther King disse, então foi o que eu fiz", disse Patrícia em entrevista à Robin Roberts, âncora do Good Morning America. Bath era bolsista da National Science Foundation quando chegou ao ensino médio, e sua pesquisa sobre o câncer rendeu-lhe um artigo de primeira página no New York Times. Depois de se formar em Medicina pela Howard University, especializou-se em oftalmologia, um área em que eram raras as mulheres afro-americanas. Ela tornou-se a primeira mulher oftalmologista no Jules Stein Eye Institute da UCLA, em 1974. Uma de suas pesquisas revelou que, quando comparados aos outros pacientes, os negros tinham oito vezes mais possibilidades de desenvolver glaucoma e duas vezes mais riscos de ficarem cegos com a doença. Ela buscou, então, desenvolver um processo para aumentar o atendimento oftalmológico para pessoas incapazes de pagar por tratamento. Hoje, essa iniciativa chama-se oftalmologia comunitária e opera em todo o mundo. Em 1981, Bath trabalhou em uma grande invenção: uma sonda a laser que tratava com precisão as cataratas com menos dor ao paciente. Com isso, ela conseguiu restaurar a visão de pessoas que estavam cegas havia 30 anos. A técnica revolucionária foi chamada "Laserphaco Probe" - uma abreviação de "cirurgia de catarata fotossensível a laser". Sabendo que era uma descoberta inovadora, a oftalmologista imediatamente registrou uma patente para essa nova tecnologia. Com isso, se tornou a primeira médica negra a receber uma patente. Bath melhorou a visão de milhares de pessoas no mundo. Depois que se aposentou, em 1993, continuou defendendo os menos favorecidos clinicamente, concentrando-se no uso da tecnologia para oferecer serviços médicos em regiões remotas. Em 2009, sua defesa dos cegos foi reconhecida pelo presidente Barack Obama, que a nomeou para sua comissão de acessibilidade digital para cegos.

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