Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 19:29
Com 46 anos de jornalismo, a carreira de Abdo Chequer está totalmente entrelaçada à história da Rede Gazeta. Começou a trabalhar na empresa em agosto de 1979, quatro anos após a TV Gazeta ser fundada por Cariê Lindenberg, ou doutor Carlos, como Abdo o chamava.
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Juntos, o empresário apaixonado por comunicação e o repórter recém-formado foram aprendendo a fazer jornal na televisão. No início da década de 1980, foi de Cariê a ideia de preencher o tempo de calhau (espaço de publicidade que não foi comercializado) com jornalismo. >
“Por sugestão dele, elaboramos um jornal de três minutos, entre o Jornal Nacional e o Jornal da Globo, que eu editei e apresentei”, relembra Abdo. >
Era o início de uma parceria que durou quatro décadas e escreveu um capítulo importante da imprensa capixaba. >
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Cariê também escolheu Abdo para apresentar o Bom Dia Espírito Santo, que estreou na programação da TV Gazeta em 1983 e permanece na grade há 42 anos. >
“Quando o Bira, chefe de operações e programação da TV da época, disse que eu ia fazer o Bom Dia, eu respondi: ‘De jeito nenhum. Alguém vai querer levantar às sete da manhã para ver jornal?’ Até que um dia, Bira me falou: 'Conversei com um tal de Cariê e ele disse que quem vai fazer o novo jornal é você’”, conta Abdo. >
Ele não tinha como recusar o desafio do chefe, mas impôs uma condição. Ao seu lado, queria a editora Marisa Sampaio, com quem dividiu a bancada do jornal por mais de 20 anos. >
No Bom Dia Espírito Santo, o âncora acumulou experiências e ganhou notoriedade, deixou de ser o Abdo Chequer para ser o Abdo Chequer da Gazeta.>
Transformou a bancada do jornal matinal em um fórum de debates importantes e fez do jornalismo instrumento para questionar injustiças e denunciar irregularidades em momentos decisivos da história do Espírito Santo.>
Durante uma entrevista com o então governador José Inácio, em 2001, foi surpreendido com ataques do entrevistado, que invadiu o estúdio para se defender contra denúncias de corrupção. >
“O governador tinha sido convidado a explicar as denúncias de corrupção, mas fomos informados de que quem comentaria seria o José Tasso, secretário da Casa Civil. Quando já estávamos todos posicionados para a entrevista, o governador abre a porta do estúdio, com um monte de papel na mão: ‘Vim para ser entrevistado’”. >
Mas à medida que as perguntas eram feitas pelos jornalistas, o governador foi se exaltando no programa ao vivo. “Eu não sabia o que fazer, mas me mantive calmo. Quando você não sabe o que fazer, o jeito é ficar calmo, né?”, comenta Abdo. >
Ele destaca a atuação do jornalismo da Gazeta quando o Espírito Santo esteve mergulhado numa grave crise, com o crime organizado infiltrado nas instituições de Estado.>
“O Jornalismo da Gazeta teve um papel muito importante no combate ao crime organizado. Éramos muito ativos. O papel da Gazeta foi não ter medo”, dispara.>
E a coragem prevaleceu mesmo diante de ameaças. “Eu nunca senti medo, mas minha mãe sentia. Um dia eu recebi um papel na minha mesa e nele estava escrito ‘Chega! Se não, você vai terminar como Maria Nilce’, que tinha sido assassinada”, revela Abdo.>
“Um dia minha mãe me chamou na casa dela e disse: ‘Meu filho, estou muito preocupada. Essas denúncias de crime organizado. Esse negócio está ficando muito pesado’. Eu respondi: ‘Mas a senhora tem medo que eu morra? Não se preocupe, ninguém vai fazer nada comigo, porque, se fizer, a Gazeta vai continuar. A Gazeta é muito corajosa.’” >
Abdo afirma que os ensinamentos que recebeu da mãe Lila e os conselhos de Cariê nortearam sua vida e a trajetória profissional. >
“Minha mãe me dizia: ‘meu filho, você tem que ser sempre firme, honesto. Você nunca pode falar uma mentira’. Já os conselhos mais importantes de Cariê foram: ‘você pode fazer o que você quiser, mas tem que ser certo. Você tem que fazer com correção. Não pode ter erro’”.>
O relacionamento entre Abdo e Cariê começou a se estreitar após o lançamento do Bom Dia, em 1983, e durou até a morte do fundador da Rede Gazeta, em 2021. >
“Eu dialogava demais com ele, principalmente depois que eu virei o chefe da TV, em 1987. Ele era um homem com grande senso de justiça, tinha muito bom senso. Eu chegava preocupado com uma coisa e ele sempre era capaz de dar um conselho que iluminava para nós todo o caminho a seguir. Você perdia o medo quando estava com ele. Ele era muito bom”.>
Em 2007, Abdo deixou a bancada do Bom Dia Espírito Santo, após 24 anos na apresentação, mas permaneceu à frente da Direção de Jornalismo da TV. Em 2013, se tornou Diretor de Jornalismo da Rede Gazeta, cargo do qual agora se despede.>
Por decisão própria, Abdo deixa a rotina diária do jornalismo, mas assume a coordenação do Conselho Editorial da empresa. Na nova função, vai continuar a missão de defensor do jornalismo ético e responsável. “A principal busca do jornalismo é o bem comum, a proteção da democracia, a proteção das pessoas. Fazer com que a justiça se dê para todos. Justiça para poucos não é justiça”, sentencia. >
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