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Produtores no Brasil miram banana produzida por pesquisadores no ES

Produtores no Brasil miram banana produzida por pesquisadores no ES

Espírito Santo é referência na produção da banana Vitória, mais rentável, mais resistente a pragas e à escassez hídrica. Subvariedade foi desenvolvida a partir do cruzamento do pólen de diversas variedades da fruta

Publicado em 28 de abril de 2024 às 14:43

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Cacho de banana da variedade Vitória pesa cerca de 50 quilos
Cacho de banana da variedade Vitória pesa cerca de 50 quilos. ( Reprodução/TV Gazeta)

O Brasil é o quarto maior produtor de banana do mundo, atrás da Índia, China e Indonésia. Por ano, são cultivadas cerca de 7 milhões de toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas antes de chegar ao consumidor, o produtor rural dedica diversos cuidados para proteger as bananeiras de pragas sem perder a rentabilidade. E foi após quase 30 anos de pesquisa para minimizar esse problema que uma nova variedade da fruta foi desenvolvida no Espírito Santo, a banana Vitória.

De acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a banana Vitória foi lançada em 2005 após 27 anos de estudos realizados em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Um dos profissionais que participaram da pesquisa foi o especialista José Aires Ventura. De acordo com o profissional, que estuda a fruta desde 1972, os pesquisadores usaram o polén da flor de bananeira para o cruzamento de diversas variedades da banana, o que resultou na Vitória. As informações são do g1ES.

"O objetivo era justamente chegar a uma fruta mais resistente a pragas comuns nos bananais, como a sigatoka-negra, a sigatoka-amarela e o mal-do-panamá", comentou.

Pólen de diversas variedades foram cruzados para chegar à banana Vitória
Pólen de diversas variedades foram cruzados para chegar à banana Vitória. ( Reprodução/TV Gazeta)

O especialista explicou ainda que a Vitória trata-se de uma subvariedade da banana prata, porém mais resistente às pragas comuns da plantação e também às condições adversas, como escassez hídrica.

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Hoje sabemos, por meio de algumas teses realizadas na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que é uma planta mais tolerante à seca, por exemplo

José Aires Venturautor
Pesquisador
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Anos após o lançamento da nova subvariedade da banana, outras vantagens foram descobertas. A fruta também é resistente à broca, praga que pode causar muito prejuízo aos produtores.

Saborosa e mais rentável

De acordo com o especialista em fruticultura e mestre em agronomia Alciro Lazzarini, uma das semelhanças da banana Vitória com a banana prata trata-se justamente do sabor, o que faz com que a aceitação seja positiva no mercado.

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Quem consumir não vai perceber diferença entre a prata e a Vitória. É uma banana tão gostosa quanto, porém mais resistente

Alciro Lazzarini
Especialista em fruticultura e mestre em agronomia
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Banana Vitória é subvariedade da banana prata
Banana Vitória é subvariedade da banana prata. (Reprodução/TV Gazeta)

Outra vantagem, segundo o especialista é a rentabilidade. A bananeira Vitória dá um só cacho com cerca de 50 quilos. Apesar de precisar de espaço para se desenvolver, a subvariedade é mais rentável do que as mais convencionais, como a nanica, maçã, prata, ouro e banana-da-terra.

"Ela é mais rentável porque é mais fácil de cuidar, menos exigente em termos nutricionais e até de água. Para ter uma ideia, a banana prata comum rende 14 toneladas por hectare. Já a Vitória chega a 30 toneladas por hectares. Ou seja, tem muito mais viabilidade", explicou o especialista.

O produtor destacou ainda que, diferentemente das outras bananas, a Vitória não tem oscilação de produção durante o inverno.

"Ao longo do ano, as outras bananas variam a produção. Ou seja, elas têm um pico de produção, principalmente entre o verão. Pós-inverno, elas decaem a produção. Já alguns estudos mostram que a banana Vitória passa o ano com pequenas flutuações, sem dar esse pico e depois recuar muito", explicou.

Alciro destacou ainda que, durante a pesquisa, as análises químicas realizadas também revelaram uma maior resistência à antracnose (doença que causa lesões que comprometem a aparência dos frutos).

"Essas características podem facilitar a adoção dessas cultivares pelos produtores e preferência dos consumidores, já que o primeiro critério de escolha dos frutos, em geral, é a aparência", explicou o especialista.

Produção dentro e fora do Espírito Santo

De acordo com Alciro, logo que foi lançada no Espírito Santo em 2005, o Incaper disponibilizou 100 mil mudas para os produtores rurais dos municípios de Alfredo Chaves, Guarapari, Anchieta, Iconha, São Gabriel da Palha, Nova Venécia, Mimoso, Guaçuí e até Presidente Kennedy.

"O compromisso que os produtores tinham ao receber a muda era que, assim que tivesse colheita da banana, também dessem uma muda para outro produtor próximo, que ainda não tinha. Dessa forma, 100 mil se transformaram em 300 mil mudas muito rápido", disse.

Ainda segundo o especialista, logo os produtores de outros Estados perceberam o potencial da subvariedade da fruta, e as mudas foram enviadas para outros locais do Brasil, como São Paulo, Amazonas, Pará, Minas Gerais e Bahia.

"Até hoje a gente recebe contato de produtores de outros Estados pedindo mudas. Eles querem da gente para ter certeza que é a banana Vitória e que vai ser resistente às pragas mais comuns", finalizou.

De duas mudas para 10 mil bananeiras

O produtor rural Adrino Quintino começou o plantio da banana Vitória há 12 anos com apenas duas mudas em sua propriedade, em Alfredo Chaves, na Região Serrana do Espírito Santo. Em março de 2024, o produtor já tinha 10 mil pés de bananeiras dessa variedade, sendo uma referência para outros produtores.

"Hoje tudo que tenho, que eu produzo e faço na roça, eu tiro da banana. Em torno de um ano, a fruta está produzindo e você está com dinheiro no bolso, né? Isso começou com o meu avô, passou para o meu pai e hoje eatá aqui comigo", disse.

Produtor rural Adrino Quintino é referência no cultivo de banana Vitória em Alfredo Chaves, no Espírito Santo
Produtor rural Adrino Quintino é referência no cultivo de banana Vitória em Alfredo Chaves, no Espírito Santo . (Reprodução/TV Gazeta)

A produção de Adrino é enviada ao Rio de Janeiro. Mas, após o cacho ser retirado, as bananas vão para a etapa de maturação em câmaras frias ainda verdes, onde ficam por 48 horas. "A gente as climatiza para chegar um produto bom para o consumidor", disse.

*Com informações de  Vívia Lima e Viviann Barcelos, g1 ES

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