> >
O Cordel do Cacau Desencantado contra a Bruxa e o Rio de Lama

O Cordel do Cacau Desencantado contra a Bruxa e o Rio de Lama

Eu não creio em bruxa / Mas que ela existe, existe / Bruxa, lagarta, água suja / Estão nesta história triste / História de uma nobre fruta / Que, após intensa luta, / Em Linhares já não resiste

Publicado em 24 de fevereiro de 2020 às 13:10

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Cacau no pé. (Pixabay)

Ele já foi um dos principais produtos do setor agrícola capixaba. Atingiu o auge da produção em Linhares por volta do ano 2000. Mas, ao contrário dos chocolates de que é matéria-prima, os últimos 20 anos não foram nem um pouco doces para o cacau no Espírito Santo. Pragas, intempéries e até um rio de lama: tudo isso o cacau tem enfrentado, nesta saga que narramos abaixo, tomando emprestada a inspiração da literatura de cordel:

Eu não creio em bruxa
Mas que ela existe, existe
Bruxa, lagarta, água suja
Estão nesta história triste
História de uma nobre fruta
Que, após intensa luta,
Em Linhares já não resiste

De início, devo preveni-lo:
Não é o Velho Testamento
Não são as dez pragas do Egito
Mas parece, em alguns momentos...
No lugar do rio de sangue,
Temos rio de lama (não do mangue)
O Doce que virou amarguento

O nosso protagonista
O auge, aqui, atingiu
(Plantações a perder de vista)
Por volta do ano 2000
Deixando o nosso Estado
Como o 2° colocado
Do Brasil (era muito plantio!)

Mas acabou-se o que era doce
A fonte do chocolate
Aos poucos morrendo foi-se
De desastre em desastre
Às margens do Rio Doce
O nosso cacau amargou-se
Desculpe, não posso enganar-te

Primeiro vieram as doenças
As infestações, as pragas
A produção despenca
O cacauicultor amarga
Após as pragas, a lama
E assim, de drama em drama,
A história virou uma saga

Pimeiro ela veio até nós
Pondo fim a toda a sorte
Não é o “Mágico de Oz”
Mas eis a Bruxa do Norte!
Chegou rindo, de vassoura,
Acabando com a lavoura
Levando o cacau à morte

Foi a vassoura-de-bruxa
Que desceu lá da Bahia
Em Linhares fez das suas
Não deixou fio de alegria
Causada por um fungo
Secou tudo, secou tudo...
E a decadência inicia

E a recuperação?
Calma lá: Estamos vendo-a...
Mas chega outra infestação
Só para estragar as amêndoas
A broca do cacau fulmina
As plantas, traz nova ruína
E o produtor já não aguenta...

Quando acaba esse drama
Começa o pior dos mundos:
O desastre de Mariana
Chega para arrasar tudo
E as pragas anteriores
Vou lhes dizer, meus senhores,
Pareceram algo miúdo

Rompe-se, pois, a barragem
Da Vale, tragédia insana
Que se soma à estiagem
Eis o quadro, sente o drama:
Quem não tem roça inundada
Não consegue irrigar nada
Falta água ou sobra lama

As águas ficam laranja
Com os rejeitos de minério
Tudo em farrapos, em franja
O rio é um útero estéril
E a produção à margem
Vira só funesta imagem
Após esse vitupério

Bruxas e outras pragas mais
O cacau dignamente enfrentou
Mas eram inimigos naturais
O homem seu fim decretou
Bruxa, lava ou lagarta
Derrota-se. Aquilo que mata
Somos nós mesmos, doutor!

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais