O frango que chega à mesa do consumidor cresceu. O que explica esse tamanho maior?
O frango que chega à mesa do consumidor cresceu. O que explica esse tamanho maior?. Crédito: Montagem/AG

Frango bombado: entenda como ave capixaba quase dobrou de tamanho

Existe uma explicação para que as peças que você come sejam maiores do que as vendidas no passado. No Espírito Santo, os padrões de produção e consumo seguiram as tendências internacionais, mudando o tamanho do animal e o momento do abate

Tempo de leitura: 4min
Vitória
Publicado em 11/08/2022 às 07h57

O tamanho médio do frango de corte aumentou 400% em cinco décadas no mundo. E isso nada tem a ver com o uso de hormônios, como muitos podem pensar. Um evento realizado nos Estados Unidos teve um papel decisivo para o porte maior da ave ao longo dos anos até chegar ao que consumimos hoje.

A proposta chamada de Chicken of Tomorrow Contest (“Concurso Frango do Amanhã”, em tradução livre), foi realizada em 1946 com a intenção de criar um animal com coxas e peitos enormes, com muitas camadas de carne, capaz de alimentar uma família por um custo mínimo. Para especialistas, o concurso teve uma grande influência no desenvolvimento desse alimento, segundo reportagem da BBC.

Um levantamento realizado pela Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (Aves) a pedido de A Gazeta mostra que essa evolução também refletiu na produção do Estado. A tendência para deixar o frango maior chegou com mais atraso aqui, mas ainda assim é possível observar as mudanças.

Na década de 60, o frango de corte comercializado vivo pesava em média 1,6 kg, com a idade de abate de 56 dias e taxa de conversão alimentar de 2,25 kg. Atualmente, a ave chega ao ponto de abate com 2,8 kg, em 45 dias, com uma conversão alimentar de 1,6 kg.

A taxa de conversão alimentar mostra o quanto o frango precisou comer para atingir o peso desejado. Os dados mostram que o tamanho médio das aves comercializadas no Espírito Santo quase dobrou. Além disso, ele leva menos tempo e precisa comer menos, quase metade do que comia há seis décadas, até ser abatido.

Esse aumento de tamanho, tanto nos EUA, quanto no Brasil, é proveniente de trabalhos científicos desenvolvidos pelo agronegócio, como a seleção e o melhoramento genético. Em síntese, esse sistema é um processo onde os animais são submetidos a cruzamentos para chegar às características desejadas pelo mercado. Por isso, é possível afirmar que o frango que consumimos "cresceu”.

TRABALHO CIENTÍFICO

Frangos que individualmente eram mais propícios a ganhar peso, por exemplo, foram passando por cruzamentos. Essa seleção controlada foi gerando indivíduos com essa característica ainda mais evidente. Esse processo, ao longo dos anos, segundo os especialistas, foi dando origem a aves muito maiores do que as anteriores.

Coordenadora técnica da Aves, Carolina Covre explica que o melhoramento genético é feito globalmente, e o Brasil, assim como o Espírito Santo, foi acompanhando essa evolução e adquirindo esses animais.

“Somos importadores desse material genético que hoje é multiplicado e produzido nas granjas de todo o país, ou seja, o Espírito Santo não desenvolve trabalho de melhoramento genético, ele adquire esses animais já melhorados. O Brasil, por meio de universidades e instituições, como a Embrapa, vem desenvolvendo trabalhos de melhoramento genético, mas de forma menos representativa”, contou Carolina.

Segundo a coordenadora da Aves, o processo é completamente seguro. “O melhoramento genético do frango nada mais é do que a seleção das melhores aves, conforme as características desejadas, como o tamanho do peito, o ganho de peso e a conversão alimentar, que significa quantos quilos de ração são consumidos para gerar um quilo de peso no animal. Hoje está em torno 1,6 kg de ração para gerar 1 kg de peso. Além disso, é feito o cruzamento desses animais selecionados, gerando outras aves com potencial produtivo”, explica.

O veterinário Eustáquio Moacyr Agrizzi tenta desmistificar algumas histórias que são propagadas sobre a produção de frango: “Na prática, esses animais com uma genética melhorada e os demais fatores produtivos, como as boas instalações, o manejo, a nutrição extremamente balanceada, o ambiente climatizado e sanidade, expressam esse potencial genético, que infelizmente é erroneamente associado ao uso de hormônios, que é um grande mito relacionado à produção de aves”.

O uso de hormônios é proibido, de acordo com instrução normativa nº 17 de 2004 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Além disso, segundo os profissionais da Aves, é inviável usar esse artifício para o frango crescer. "O hormônio teria que ser injetável e de uso contínuo. Imagine a aplicação via injeção, diariamente, em 20 mil animais alojados em um galpão. Já o uso via alimentação não seria possível visto que o processo digestivo poderia degradar essas substâncias", explica Carolina.

MÉTODO TAMBÉM É USADO EM OUTRAS CULTURAS

A zootecnista da granja Caipixaba, Luciara de Paiva Hülle, explica o funcionamento do processo de seleção. “Cada indivíduo de pedigree (animais que dão início ao processo de melhoramento genético) é um banco genético. Todos têm suas características, como o tipo de pena, coloração, comportamento, produção de ovos ou carne. Realizando os acasalamentos dirigidos, é possível atingir os resultados e a produtividade esperados que atendam ao mercado consumidor.”

Luciara também destaca que, além do trabalho de melhoramento genético, outros métodos de criação de frango de corte também colaboram para o desenvolvimento das aves. “Sabemos que luzes avermelhadas ou quentes tendem a levar os animais à prática do canibalismo. Já as luzes azuladas ou frias, têm ação calmante. Com a luz artificial também regulamos os horários de alimentação e descanso, influenciando assim no metabolismo positivamente.”

“A granulometria (o tamanho dos grãos da ração) também é estudada e elaborada para que possa atender à necessidade de cada fase. O programa de vacinação tem um calendário rigoroso contra as principais doenças existentes. Todo esse trabalho colabora para que o melhoramento genético caminhe para o sucesso”, destacou.

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