Publicado em 9 de março de 2020 às 15:09
Menos de uma semana depois de tomar posse, a atriz Regina Duarte batalha nos bastidores por mais autonomia à frente da Secretaria Especial da Cultura. >
Ela quer retomar parte da estrutura que a pasta perdeu no último ano, intervalo em que sofreu duas transformações -a mais importante delas ao perder o status de ministério e ser rebaixada a secretaria especial. >
Quarta ocupante do cargo, Regina recebeu um órgão com orçamento de R$ 2,2 bilhões, pequeno em comparação com outras áreas do mesmo porte, e um quadro diminuto de cargos e funções.>
A estratégia da secretária especial é, nas próximas semanas, "passar o chapéu" pela Esplanada dos Ministérios, expressão que ela mesma usou em seu discurso de posse ao falar das limitações financeiras que deve enfrentar.>
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Regina deve dar início a uma rodada de reuniões com os ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania), Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) para negociar mais independência.>
Durante as tratativas para que assumisse a pasta, Bolsonaro e seus auxiliares sinalizaram que a atriz teria direito a expandir os recursos e a estrutura atuais. >
Na última quarta-feira (4), ao assinar o termo de posse de Regina, Bolsonaro disse que a secretária estava em um período probatório, mas que ela merecia "mais do que isso".>
Há quem vislumbre no governo uma eventual promoção a ministra. >
Uma possibilidade seria a abertura de uma vaga na Esplanada com a independência do Banco Central, o que depende de aprovação de um projeto no Congresso. Se isso ocorrer, o presidente poderia recriar o Ministério da Cultura sem alterar o quadro atual, de 22 pastas.>
Como não há data para essa movimentação, auxiliares bolsonaristas apostam numa segunda saída: a substituição de Marcelo Álvaro Antônio por Regina, embora uma troca não seja cogitada, por ora.>
Na próxima semana, a secretária deve levar aos três ministros demanda para tentar recuperar parte dos cerca de 600 cargos (incluindo servidores e comissionados) que a Cultura perdeu entre dezembro de 2018 e os dias de hoje.>
Apenas na dissolução do ministério, em janeiro de 2019, foram subtraídos 322 cargos. Os postos foram transferidos para o Ministério da Economia.>
Outra parte dos servidores, dos cargos e das funções foi diluída no processo de fusão da Cultura com Esporte e Desenvolvimento Social, o que originou o Ministério da Cidadania.>
Como alguns dos postos se repetiam nos três antigos ministérios, o então ministro Osmar Terra (Cidadania) redesenhou o organograma. Hoje, a pasta é comandada por Onyx (ex-Casa Civil).>
Atividades de apoio, como assessoramento jurídico ou para assuntos internacionais, por exemplo, passaram a ser comum, centralizadas no novo ministério e atendendo a demanda das três secretarias. >
Com a saída da Cidadania, a Secretaria Especial da Cultura perdeu esse suporte. Hoje, atividades fundamentais, como assessoria de comunicação, ficam divididas.>
Regina teme que suas demandas sejam colocadas em segundo plano pelas pastas, já que cada um dos ministérios tem de atender as suas próprias necessidades.>
Diante desse cenário, nas conversas com os ministros, em especial com Oliveira, que comanda o assessoramento jurídico do governo, a secretária pretende desenhar uma portaria ou decreto para dar mais autonomia à pasta.>
Segundo relatos da equipe de Regina feitos à Folha de S.Paulo, ela depende de autorização dos ministérios para a execução de atividades básicas, como emissão de uma passagem aérea.>
Quando foi convidada para assumir a secretaria, Regina recebeu um mapa de cargos e estrutura da Cultura. Foi aconselhada por seus auxiliares a retomar a estrutura mais próxima à do antigo MinC (Ministério da Cultura).>
Contudo, integrantes do governo Bolsonaro veem dificuldades para ela. >
Os servidores e comissionados que foram excluídos da Cultura hoje estão alocados em outras funções e a retomada dos funcionários dependerá de uma longa e detalhada negociação com os colegas de Esplanada. >
O órgão comandado por Regina tem atualmente 132 cargos comissionados, distribuídos em seis secretarias.>
Além disso, são vinculados à secretaria: Ancine (Agência Nacional de Cinema); a Fundação Biblioteca Nacional, Fundação Casa de Rui Barbosa, Fundação Cultural Palmares, Fundação Nacional De Artes, Ibram (Instituto Brasileiro De Museus) e Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). >
Estes órgãos, no entanto, têm quadro próprio de pessoal e não entraram na partilha de servidores feita quando do fim do MinC. >
Nos primeiros dias como secretária, Regina se dedicou a reuniões com sua equipe. Apenas seis pessoas foram nomeadas até o momento e a expectativa é que ela anuncie novos integrantes nesta semana.>
Seus auxiliares têm mantido segredo sobre os escolhidos para tentar conter os ataques de apoiadores do escritor Olavo de Carvalho. >
Como seu primeiro ato, a atriz exonerou 12 funcionários comissionados, indicados por seu antecessor, Roberto Alvim, demitido em janeiro após parodiar um ministro da Alemanha nazista em um vídeo.>
Na posse, a secretária prometeu pacificar a pasta e manter um diálogo constante com o setor e a sociedade. Ela enfrenta resistência de parte do setor artístico, crítico ao bolsonarismo. >
A atriz recebeu a promessa de que teria carta branca para escolher auxiliares. Porém, foi publicamente advertida pelo presidente de que ele poderá usar de seu poder de veto.>
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