É impossível começar este texto sem disparar um clichê, afinal, não poderia perder essa oportunidade única! Quando criança, ele levava esporro na escola de segunda a sexta. No sábado e domingo, porém, soltava pipa, jogava bola e conquistava o Brasil com um 'pancadão' lançado quando tinha apenas sete anos, mas que até hoje é hit nas paradas funkeiras.
Lógico que estamos falando de Jonathan Costa, o "Jonathan da Nova Geração", filho dos criadores da Furacão 2000, Verônica e Rômulo Costa, que conheceu a fama ainda guri, no final da década de 1990, com o estouro "De Segunda a Sexta". Ainda não lembra? Dá uma espiada no vídeo aí embaixo:
Jonathan, que agora assina pelo nome artístico de Jon Jon (ele afirma ser chamado assim pelos amigos desde criança), cresceu (outro clichê!) e chega aos 27 anos como um badalado cantor e produtor musical, chegando a fazer turnês pelo exterior antes da pandemia e a gravar com nomes de peso no mundo do Funk, como o recente "Por Ele", em parceria com Gabily.
Cheio de projetos, o rapaz acabou de lançar Funk no Ranking, cuja primeira faixa está disponível nas plataformas digitais. Com quase seis minutos de track, a música tenta fazer um resgate da história do funk carioca, trazendo modernidade a beats que relembram os últimos 20 anos do gênero. Há, por exemplo, a retomada de clássicos da Furacão, como "Rap da Felicidade" e "Rap da Cidade de Deus", ambos de Cidinho e Doca.
A composição, que traz a participação de "jurássicos" e gente nova do mundo do funk, como MC Brunyn, MC Natan, Azzy, Tati Quebra-Barraco, MC Sabrina, MC Ka de Paris, MC TH, MC Master, Choji e Thiaguinho MT, também pode ser vista como uma espécie de denúncia social, trazendo elementos que relatam o preconceito que muitos funkeiros ainda sofrem.
Azzy, por exemplo, já manda ver logo na abertura: Só respeita o meu espaço /Porque eu só quero é ser feliz / E andar tranquilamente na favela onde eu nasci. Pelo visto, os problemas das comunidades cariocas são os mesmos que os cantados pela antiga geração. Hoje, porém, a situação tende a melhorar, pois O som de gueto / de favelado / no horário nobre / tá estourado, como diz outro momento da música, relatando que o gênero ganhou mídia e reconhecimento, especialmente após o aparecimento de fenômenos como Valesca Popozuda, MC Koringa, no início da última década, além de Anitta e Ludmilla atualmente.
"O funk é e sempre será um dos maiores exemplos de manifestação cultural do povo brasileiro. Somos do tipo exportação (risos). Em qualquer lugar do mundo, tem gringo perguntando que estilo musical é esse. Você se lembra da explosão que foi o show de Post Malone e Kevin O Chris, no Lollapalooza de 2019? Devagar, estamos cavando o nosso espaço", comemora Jon Jon, em bate-papo com o "Divirta-se" para falar sobre o lançamento de Funk no Ranking.
Durante a conversa, Jonathan Costa também falou sobre carreira, novos projetos, da importância da Furacão 2000 para a sua identidade musical e, lógico, do sucesso "De Segunda a Sexta". Vem com a gente!
Tenho certeza que o funk tem esse trabalho, especialmente por atingir a todas as camadas sociais. Nosso estilo musical "linca" fronteiras, usando a batida para celebração. O funk abre portas, transforma vidas e muda a realidade de pessoas da periferia. Veja o exemplo de Anitta, Ludmilla e Dennis DJ, que levam essa cultura musical para o mundo. Viramos tipo exportação.
Em qualquer lugar do mundo tem gringo perguntando que estilo musical é esse. Você lembra a explosão que foi o show de Post Malone e Kevin O Chris, no Lollapalooza de 2019? Devagar, estamos cavando o nosso espaço. Ainda rola muito preconceito por parte da chamada elite. A maioria dos funkeiros é de origem humilde, periférica e tratamos a realidade das comunidades de maneira crua. Isso ainda assusta! O funk das antigas sempre foi independente e conseguia ficar entre as músicas mais tocadas das rádios, mesmo não tendo o mesmo investimento que o sertanejo e o pop, por exemplo. A internet, especialmente com o crescimento do YouTube, popularizou ainda mais o nosso estilo musical. Antes, sem apoio, na época da Furacão 2000, vendíamos cerca de um milhão de cópias de CDs. Tudo na marra (risos). Com a era digital, conseguimos fugir da marginalização.
O projeto já existe há alguns anos e estava sendo "gestado" em meu bloco de notas. Em 2020, com a pandemia e os shows cancelados, entramos nessa vibe de reinvenção. Tive mais tempo de tirar esse material do papel. Demoramos quatro meses para na criação da faixa, desde a composição, escolha do elenco e gravação do clipe. Fiz um estudo dos anos 1990 e 2000, pegando músicas que são referências para algumas gerações e dando a elas beats e batidas modernas. Por isso, essa música é especial, pois toca de forma diferente em cada pessoa que a ouve, seja ela da época do Furacão 2000 ou não. Queremos retratar a realidade e deixar um recado, no intuito de valorizar e unir gerações do funk. Em 2021, pretendo criar mais três composições desse projeto, ainda na ideia de unir vários cantores de épocas diferentes.
Acredito que meus pais entraram para a história do funk, pois todo cantor do gênero aprendeu muito com a Furacão 2000. E eu sou duplo nessa história (risos), filho e funkeiro. Aliás, minha mãe estava se apresentando em um baile quando sua bolsa estourou e teve que sair correndo para a maternidade (mais risos)... São pessoas e passagens que marcaram a minha formação. Minha mãe foi eleita vereadora pelo Rio pela sexta vez esse ano e meu pai segue trabalhando, fazendo lives e tocando projetos. Na verdade, nunca senti nenhum tipo de cobrança por parte deles para seguir na carreira. Pelo contrário, sempre abriram o jogo, dizendo como era difícil essa vida de artista. Sempre esperei uma cobrança vindo de outras pessoas. Se minha carreira desse errado, seria apedrejado, pois não segui o legado deles. Por sua vez, se desse certo, era uma simples obrigação (suspira).
Adoro essa cobrança (risos). Quem não gostaria de ter uma música que continua hit, mesmo depois de duas décadas? Todos os anos aparecem remix (mais risos). Tinha sete anos quando gravei e decididamente não sabia a dimensão daquele sucesso. Meus pais sempre me protegeram desse mundo. Era uma criança normal, que tinha como prioridade número um brincar e estudar. Eu que sempre fui xereta, pois ia ao estúdio da Furacão vê-los trabalhando. Sempre tomava esporro porque era muito questionador. Por falar na música, aconteceu uma coisa inusitada tempos atrás. Minha filha Maithê (de sete anos) me chamou na escola, porque seus amigos estavam cantando de "Segunda a Sexta" e queria que eu visse. Achei o máximo.
Tenho vários projetos. Estou preparando uma nova turnê. Além disso, ainda no começo de 2021, devo lançar mais duas faixas. Ambas são bem românticas, pois sou um cara muito romântico (risos). Uma delas, "Amor em 150", uma mistura de romance com beats acelerados, é fruto de um encontro com a banda AlMar, de Niterói. A outra, "Jogo Virou", será uma parceia Mc Alysson & Jon Jon. São novos talentos da música que merecem se destacar no cenário nacional.
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