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Diretor de documentário sobre a rainha Elizabeth 2ª temeu concorrer com 'The Crown'

Diretor de documentário sobre a rainha Elizabeth 2ª temeu concorrer com "The Crown"

"Elizabeth 2ª: Segredos da Monarquia Britânica", do canal pago National Geographic, mostra com apego factual boa parte da história da monarca de 94 anos, que passou sua vida sob os holofotes

Publicado em 16 de novembro de 2020 às 17:29

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Ocupando o trono há quase 70 anos, a rainha Elizabeth 2ª esteve praticamente toda a vida sob os holofotes. Aos 94 anos, ela está à frente de uma família que desperta a curiosidade dos plebeus não só onde reina, mas em todo o mundo.

Tanto que além de ser personagem quase obrigatória nos jornais britânicos diariamente, ela já foi tema de diversas biografias (não autorizadas). Mais recentemente, a série "The Crown", da Netflix, tornou-se um sucesso mundial explorando de forma ficcionalizada trechos de sua vida.

No último sábado (14), o canal pago National Geographic estreou o documentário "Elizabeth 2ª: Segredos da Monarquia Britânica", que mostra boa parte dessa história, só que com mais apego factual. O diretor e produtor executivo, Tom Jennings, contou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que teve medo de competir com a série.

"Estamos falando de um reinado de quase 70 anos e de uma vida de 90 anos, que foi fartamente documentada mesmo antes de ela se tornar rainha", avalia. "Eu falei: 'Sabe aquela série 'The Crown'? Então, dá para fazer umas dez horas de material sobre a rainha só com o que aconteceu de fato'. Eles falaram que eu não teria dez horas, mas que tinha que encontrar um jeito novo de contar a história dela."

A rainha Elizabeth 2ª em seu escritório, em 1985
A rainha Elizabeth 2ª em seu escritório, em 1985 . (Joan Williams/Shutterstock)

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Para fazer isso, o diretor fez uma extensa pesquisa de seis meses, na qual foi coletado o material. No filme, o público tem acesso a entrevistas inéditas com amigos, empregados e políticos próximos à rainha, áudios e vídeos nunca divulgados, além de outros materiais pouco conhecidos até agora.

O ponto alto é que não há um narrador, são os próprios confidentes de Elizabeth 2ª que vão desvelando os fatos. O recurso só foi possível porque Jennings teve a ideia de contatar diversos biógrafos da rainha, que tinham amplo material gravado e inédito.

"LADY DI: SUAS ÚLTIMAS PALAVRAS"

Vencedor de diversos prêmios Emmy e indicado ao Pullitzer, o jornalista já tinha feito algo parecido no filme "Lady Di: Suas Últimas Palavras" (2017). Na época, ele descobriu que o autor Andrew Morton tinha fitas gravadas com os depoimentos da eterna princesa de Gales para a biografia autorizada que escreveu dela (publicada em 1992).

"Quando liguei e perguntei se ele liberaria as fitas, ele disse para entrar na fila e que diversas pessoas já haviam pedido isso antes, basicamente ele disse que iria ser enterrado sem nunca liberar esse material", conta. "Mas eu falei que seria algo diferente, sem narração e sem entrevistas, de modo que seria como se a própria Diana estivesse narrando a história do ponto de vista dela. Ele fez uma pausa longa e depois disse que ninguém nunca tinha proposto isso."

MOSAICO DE HISTÓRIAS

A principal diferença para o documentário sobre Elizabeth 2ª é que, em vez da voz dela, são as pessoas próximas que, juntas, formam um mosaico com diversos pontos de vista sobre a rainha. "Encontramos histórias ótimas, e sempre que eles citavam algum evento específico, nós íamos atrás das imagens para casá-las e, de repente, a mágica acontecia", comemora.

Para Jennings, que nasceu na cidade de Cleveland (Ohio), nos Estados Unidos, o interesse que a família real desperta se dá pela construção do imaginário nas pessoas desde a infância, com os contos de fadas. "Todas essas histórias sobre reis, rainhas, príncipes e princesas estão encravadas em nossos corações", afirma. "O fascínio ocorre porque não queremos que o conto de fadas acabe."

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Estamos falando de um reinado de quase 70 anos e uma vida de 90 anos, que foi fartamente documentada mesmo antes de ela se tornar rainha

Tom Jennings
Diretor de "Elizabeth 2ª: Segredos da Monarquia Britânica"
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Além disso, no caso da família real britânica, a mais popular do mundo, a imprensa local tem uma boa parcela de culpa. "As realezas de outros países talvez consigam manter-se um pouco mais discretas", avalia. "No Reino Unido, especificamente, a imprensa enfia o pé no acelerador na cobertura da família real. E, claro, isso se perpetua com membros mais jovens, como o príncipe Harry e Meghan Markle, por razões diferentes."

O filme deixa claro os diversos altos e baixos sofridos pela monarca ao longo dos anos. A herdeira de George 6º virou rainha muito cedo, aos 25 anos, após a morte precoce do pai. Que, aliás, só se tornou rei porque o irmão, Eduardo 8º, abdicou do trono para se casar com uma americana divorciada, Wallis Simpson.

"Acredito que ela entende o papel que foi imposto a ela pela vida, que genuinamente tem os melhores interesses para o povo britânico e que cabe a ela fazer o melhor trabalho que puder", diz o diretor. "Gosto muito dela, ainda mais agora que eu certamente sei muito mais da história dela."

Ele finaliza narrando o que ela respondeu quando perguntada sobre o que diria ao próprio pai se pudesse encontrá-lo novamente. "Olha, papai, eu consegui, fiz o que você me ensinou e espero que você esteja orgulhoso de mim", diz num raríssimo registro de áudio a própria Elizabeth 2ª.

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