Publicado em 24 de julho de 2020 às 15:15
A Secretaria Especial da Cultural vai recriar um departamento exclusivo para gerir a Cinemateca. Em paralelo, um novo chamamento público será feito para a seleção de uma organização social que deve administrar apenas serviços especializados e pontuais.>
Desde o fim do ano passado, a Cinemateca está sem receber nenhuma ajuda financeira, depois que o contrato de gestão com a Acerp, a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, terminou e não foi renovado. O impasse, fruto de decisão do Ministério da Educação, tem posto em risco obras audiovisuais de valor incalculável.>
Enquanto os processos de criação do departamento e chamamento público estão em curso, a secretaria anunciou que 19 contratos emergenciais estão sendo realizados para manutenção predial, serviços de água e luz, segurança e contratação de técnicos especializados em acervo audiovisual para manter protegido o acervo da instituição.>
A grave crise na Cinemateca ganhou os holofotes desde a exoneração de Regina Duarte do comando da Secretaria Especial da Cultura, no início de junho.>
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Em busca do que entendia como saída honrosa da atriz do cargo em que permaneceu por dois meses e meio, o governo Bolsonaro havia prometido a ela um posto de comando na Cinemateca, mas o cargo em questão não existe e a União não tinha poderes para nomear a atriz, o que muda agora com o fim do contrato com a Acerp.>
"Será recriada uma estrutura, no âmbito da secretaria, para gerir exclusivamente a Cinemateca, e, consequentemente, os contratos de gestão e outros contratos a serem formados para sua manutenção", disse a secretaria em nota.>
A Cinemateca Brasileira, que fica na zona sul de São Paulo, enfrenta grave crise pelo menos desde 2013. No começo de 2018, o governo federal transferiu sua gestão para o modelo de organização social.>
A nova decisão contraria posicionamento do Ministério Público Federal. O órgão ajuizou, no dia 15 deste mês, ação civil contra a União devido aos impasses em torno da gestão da Cinemateca Brasileira, que se encontra em profunda crise financeira.>
O MPF pede, em caráter de urgência, a renovação de contrato com a Acerp até o fim de 2020 -o último contrato vigente terminou em 2019- para a gestão da Cinemateca e execução de seu orçamento de R$ 12,2 milhões.>
Também dá 60 dias para a reestruturação, manutenção e nomeação do Conselho Consultivo da Cinemateca. Dentre outros pedidos de conservação do acervo do órgão e apresentação de relatórios de gestão, o Ministério Público inclui a ordem para que não sejam demitidos ou dispensados funcionários.>
"A União está abusando da sua capacidade de fazer ou reter repasses orçamentários, para sufocar a Cinemateca, deixando-a sob risco crescente de degradação ou até destruição", aponta a ação do MPF, movida pelo procurador Gustavo Torres Soares.>
Um dos problemas desse abandono seria o risco de incêndio, afirma o procurador. Os filmes em nitrato de celulose, altamente inflamáveis, podem entrar em combustão espontânea. Ao longo de sua história, a instituição sofreu, no mínimo, quatro incêndios, sendo o mais recente em 2016, quando várias obras foram perdidas.>
"O conteúdo informacional ali custodiado pode ser perdido completamente pela falta de operacionalização técnica e correto acondicionamento, além da possibilidade de furto e depredação do patrimônio público devido à falta de serviços de segurança e limpeza nas dependências da Cinemateca", alerta Soares.>
Nesta semana, houve informações de que haveria uma tentativa de transferir a Cinemateca para Brasília. Há interesse da Secretaria Especial da Cultura para que isso ocorra. O senador Izalci Lucas, do PSDB do Distrito Federal, tem tentando articular essa mudança. O parlamentar disse que já teve a sinalização positiva do presidente Jair Bolsonaro desde que não gere custos para o governo.>
A assessoria do Palácio do Planalto foi procurada e não respondeu sobre o assunto.>
"Tenho recorrido à ajuda da iniciativa privada, é importante que o órgão venha para Brasília, é na capital que essa instituição tão importante precisa ficar, ela irá fortalecer cenário de cinema que é bom na cidade. Tenho interesse de trazer também a Ancine e o BNDES", disse o senador.>
Mesmo com esse interesse, a ação do Ministério Público mostra que o contrato assinado em 1984 para que a Fundação Cinemateca Brasileira fosse extinta e incorporada, como órgão autônomo, à União, tinha diversas exigências.>
Uma delas é que a Cinemateca deveria ter sua sede mantida na capital de São Paulo. Além de ser obrigatório manter a autonomia financeira, administrativa e técnica da instituição, assim como permanecer estruturado o Conselho Consultivo, com direitos de nomear diretoria e opinar sobre toda a vida do acervo patrimonial.>
A Cinemateca tem um dos principais acervos audiovisuais da América Latina, formado por cerca de 250 mil rolos de filmes e mais de 1 milhão de documentos relacionados ao cinema, como fotos, roteiros, cartazes e livros.>
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