A história recente da música capixaba se confunde (no bom sentido, é claro) com o talento e a voz de Carlos Papel. Não à toa, o artista, autor de faixas inesquecíveis, como "Sol da Manhã", “Povo da Terra Brasil”, "Fora do Eixo", "Liberado" e "Alegria", chega aos 55 anos de carreira com um tributo em formato de show, que acontece nesta sexta-feira (10), a partir das 19h30, no Centro Cultural Sesc Glória, em Vitória.
Por conta dos cuidados sanitários em relação à Covid-19, o público ficará restrito a 280 pessoas, mas a plateia poderá acompanhar um espetáculo de qualidade inquestionável e com presença de gente talentosa, como Dora Dalvi (violão sete cordas) e Potiguara Menezes (violão e guitarra), além de participações especiais de Julia Nali (filha de Papel), Zé Antônio Monteiro, Marcos Coco e Aloyr Jr, vozes do grupo O Quarto Crescente, do qual Carlos faz parte.
No repertório, canções representativas da trajetória musical de Papel (que é carioca, mas capixaba de coração) e algumas faixas inéditas, registradas no recém-lançado songbook - também disponível nas plataformas digitais - dedicado à sua obra.
"Fiz mais de 80 lives durante a pandemia, transmitidas sempre do meu quarto. Foi importante, pois melhorou bastante a minha performance, especialmente no violão, mas confesso que estava sentindo saudade de um contato direto com o público, que só as apresentações presenciais podem proporcionar. Sabe aquela coisa de sentir o cheiro e a respiração da plateia? É disso que estou falando", respondeu, entre um suspiro e outro, o cantor, em bate-papo com o "Divirta-se".
Na estrada desde os 14 anos (!), Papel preparou uma noite muito especial. "O foco será o repertório do songbook. Vai ter, entre outras faixas, "Liberado", "Alegria" e também "O Vôo das Tartarugas", que ganhou um áudio mais acústico, ressaltando o lado poético das letras, graças a um excelente trabalho de arranjo musical de Potiguara Menezes", elogia.
A emoção de se apresentar ao lado da filha, Julia Nali, é um atrativo a mais. "Essa nossa parceria é um presente. Vamos cantar juntos 'Palavras Aéreas' (música composta em homenagem à Gal Costa). Ela também terá uma participação solo, com "Minha Princesa", que escrevi para a minha atual parceira", enumera.
Conversar com Carlos Papel é reviver um dos momentos mais marcantes da música do ES. Sua participação no "Festival dos Festivais 1985", promovido pela Rede Globo, emocionou o país ao lançar a composição mais emblemática do artista, "Sol da Manhã". Não era nascido na época? Veja a performance de inesquecível do capixaba, elogiada pela imprensa na época.
"A música (e a participação) no programa causou comoção ao Estado", detalha o cantor, com lembranças ainda frescas na memória. "No dia da apresentação, a Rede Gazeta promoveu um espetáculo com artistas capixabas em frente a empresa, que recebeu cerca de 15 mil pessoas. Na hora em que subi ao palco, a projeção sofreu um problema técnico e somente o áudio foi exibido no telão (em Vitória). As pessoas cantaram a música, como num grande coro", detalha.
Voltando aos dias atuais, será que faltou algo para a carreira de Carlos Papel ser, como podemos dizer, plena? "Muitas pessoas (quando chegam a mais de meio século de trajetória) falam que pode ser que não falte nada ou mesmo que não se arrepende de nada. Não sei se é assim", explica, parando para pensar.
"O que posso dizer é que me reinventei nesse tempo todo (risos). Em março, faço 70 e continuo em plena atividade, compondo e estudando. Estou fazendo faculdade de Música e descobrindo um mundo novo".
Sempre antenado, Carlos Papel se diz preocupado com as políticas culturais e sociais aplicadas pela atual gestão do Governo Federal. "O artista tem que se posicionar. O cinema, o teatro e a música perderam espaço. A cultura está sendo vilipendiada diariamente. Torço para a poeira da instabilidade política baixar. Assim, as pessoas podem raciocinar com clareza novamente. A minha música sempre foi voltada para o social. Por isso não me calo! Aliás, sempre lutei e lutarei com a minha música e a minha palavra", complementa.
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