Resistência ao Censo prejudica a definição de políticas públicas

Baixa adesão de moradores e debandada de pesquisadores dificultam trabalho de recenseamento e pioram apagão de dados no país

Publicado em 14/11/2022 às 01h00
Pesquisador durante coleta de dados para o Censo 2022
Pesquisador visita residência: 56,12% da população no Estado respondeu o Censo . Crédito: Divulgação

O Brasil se aproxima do final de 2022 sem conhecer de fato a própria realidade demográfica e socioeconômica. Com a baixa adesão da população no país, inclusive no Espírito Santo, e a desistência de uma parte dos pesquisadores contratados, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adiou para dezembro o fim da coleta de informações feita pelo Censo 2022.

Situação que deixa o Brasil sem respostas para perguntas básicas, desde o tamanho de sua população até a dimensão do nível de evasão escolar. E mantém o país em uma zona cinzenta em relação ao planejamento de políticas públicas para os próximos anos.

Como dito anteriormente neste espaço, o Censo promove um redescobrimento do Brasil a cada dez anos. A pesquisa atual estava prevista para ser realizada em 2020. Mas só teve início no último dia 1º de agosto, com dois anos de atraso: primeiro, em função da pandemia da Covid-19; depois, devido à falta de recursos no Orçamento federal.

A meta é visitar cerca de 75 milhões de domicílios em todo o país, sendo 1,4 milhão no Espírito Santo. A duração prevista era de três meses.

O objetivo, no entanto, ficou longe de ser alcançado. No prazo estabelecido — fim de outubro —, a taxa de população recenseada no Brasil estava em 63,77%. No Espírito Santo, 56,12% haviam respondido o questionário do IBGE. Índice que coloca o Estado com a sexta menor adesão ao Censo 2022.

Resultado frustrante, se comparado a 2010, quando a pesquisa conseguiu contar 80% da população em dois meses. Diante desse atraso, o IBGE anunciou que o recenseamento vai se estender até meados de dezembro. A previsão é que os dados sejam entregues ao Tribunal de Contas da União (TCU) em 28 de dezembro.

Motivos para esse atraso não faltaram. Um deles é a dificuldade dos recenseadores em conseguir acesso a algumas residências, principalmente as situadas em condomínios. Encontrar moradores em casa é outro problema, sobretudo em famílias com longa jornada de trabalho. Também há uma parcela da população que simplesmente se recusa a receber os pesquisadores.

Quando são atendidos, recenseadores relatam que também têm de lidar com ofensas de alguns moradores, além de casos de assédio sexual e até ameaças de estupro. Eles ainda reclamam da rotina de até 12 horas de trabalho por dia e do atraso no pagamento pelos serviços prestados — a demora para receber chegaria a 20 dias.

Não por acaso, houve debandada de recenseadores. Dos 3.600 pesquisadores previstos, somente 1.654 estavam em atividade no fim de outubro no Estado, o que equivale a 45% das vagas. Número abaixo da média do Brasil, que chega a 49,5% de profissionais. Para contornar essa perda, o IBGE vem realizando, mês a mês, novas contratações. E se comprometeu a tornar pagamentos e bônus aos profissionais mais atrativos.

Seja por falta de colaboração da população, seja por carência de recenseadores, novos atrasos só pioram o apagão de dados no Brasil. Faltam informações que são fundamentais, por exemplo, para entender os efeitos da pandemia no país.  Não há respostas para questões como: qual é o atual nível de defasagem no aprendizado em cada região? Onde há mais carência de moradia? Respostas que seriam essenciais para a melhor distribuição dos recursos orçamentários por parte de União, Estados e municípios.

Resistir a participar do Censo é sabotar políticas que podem impactar na própria vida do cidadão. Da mesma forma, o IBGE precisa criar mecanismos para coletar de maneira mais célere os dados populacionais que faltam. Ainda há muito a ser descoberto e revelado sobre o Brasil.

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