Polêmica com óleo no mar mostra que governo não aprendeu com Amazônia

Ao reclamarem que ambientalistas não estão ajudando na limpeza das praias, ministro e presidente distorcem a realidade para jogar no colo do terceiro setor uma incumbência do Estado

Publicado em 25/10/2019 às 19h43
Ministro do Meio ambiente, Ricardo Salles. Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil
Ministro do Meio ambiente, Ricardo Salles. Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil

Na terça-feira (22), em visita a áreas atingidas pelo vazamento de óleo em Pernambuco, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que “não é o momento de polemizar nem de politizar. É o momento de unir esforços e resolver o problema”. Não seguiu seu próprio conselho. Dois dias depois, não fez nada além de polemizar e politizar a tragédia no mar do Nordeste ao insinuar que o Greenpeace estaria por trás do vazamento, que pode chegar ao Espírito Santo.

No Twitter, rede social preferida de políticos afeitos a espalhar ilações, Salles escreveu que, por coincidência, “o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano”. O texto acompanhava uma imagem da embarcação Esperanza, o que sugere que seria atual, mas foi publicada em 2016 pela ONG.

O navio Esperanza estava na Guiana Francesa, em expedição para documentar os corais da Amazônia, e passou pela costa brasileira entre agosto e setembro a caminho da Antártida. A embarcação não dispõe de estrutura para armazenamento e transporte de petróleo. Como resposta, a ONG informou que entrará na Justiça contra o ministro. “As autoridades têm que assumir responsabilidade e respondem pelo Estado de Direito pelos seus atos.”

É a segunda vez nesta semana que o Greenpeace sofre ataques de Salles. Na segunda-feira (21), o ministro divulgou vídeo editado cobrando a ONG por não estar ajudando a limpar as praias. As partes retiradas eram exatamente aquelas em que a organização afirmava que havia voluntários atuando no Nordeste. Nesta sexta-feira (25), do outro lado do mundo, o presidente Jair Bolsonaro jogou gasolina no incêndio criado por seu ministro ao chamar os ambientalistas de “terroristas”, que só atrapalham o Brasil. Pelo visto, não aprendeu lição nenhuma após a crise internacional provocada por acusações sem fundamento bem parecidas, sobre a responsabilidade pelas queimadas na Amazônia, atribuída a “ongueiros”.

Reportagem do “Estado de S. Paulo” mostrou que o Plano Nacional de Contingência, criado em 2013 para lidar com situações de emergência como a do vazamento de petróleo, só foi formalizado pelo ministro do Meio Ambiente no dia 11 de outubro, 41 dias depois de terem surgido as primeiras manchas de petróleo no litoral.

Portanto a afirmação de que “autoridades têm que assumir responsabilidade”, presente na nota do Greenpeace, cabe duplamente a Ricardo Salles e Jair Bolsonaro. O ministro e o presidente devem não apenas responder por calúnias - ainda mais porque carregam o peso de uma nação sobre as costas -, como também têm a obrigação de tomar iniciativas contundentes para remediar aquela que já é considerada a maior tragédia marítima brasileira, sem desviar a tarefa para terceiros.

Ao reclamarem que ambientalistas não estão ajudando na limpeza das praias, o governo brasileiro distorce a realidade para que caiba em uma narrativa falsa sobre culpa e dever. Uma tentativa frustrada de inverter os papéis e jogar no colo do terceiro setor uma incumbência do Estado. Em suma, em vez de unir forças para resolver o problema, polemiza e politiza a tragédia.

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