Crise com a China provocada por Eduardo Bolsonaro piora o que já está ruim

Declaração do deputado é mais uma tentativa de eximir o governo de seu pai das responsabilidades que são somente dessa administração a partir do momento em que o coronavírus atravessou a fronteira do Brasil

Publicado em 19/03/2020 às 22h34
Atualizado em 19/03/2020 às 22h34
O deputado federal Eduardo Bolsonaro . Crédito: Marcos Oliveira/Agência Senado
O deputado federal Eduardo Bolsonaro . Crédito: Marcos Oliveira/Agência Senado

Uma acusação despropositada do deputado Eduardo Bolsonaro desencadeou uma guerra diplomática entre Brasil e China que não poderia ser mais fora de hora. O filho de Jair Bolsonaro, ao culpar o gigante asiático pela disseminação do coronavírus — o país pode ter sido omisso em um primeiro momento, mas tratou de mobilizar o seu aparato estatal  com medidas duras para conter a escalada do contágio — , cria mais uma subcrise entre tantas outras. 

O pior: um desgaste internacional, com potencial de mais reveses econômicos, que poderia ter sido evitado com o silêncio. Não custa repetir que, para quem alçava voos tão altos nas relações internacionais como a Embaixada dos EUA, o parlamentar escancara mais uma vez sua falta de preparo.

Eduardo pode até ter lá suas convicções, e elas não faltam para a família Bolsonaro, mas como filho da autoridade máxima do país, seria prudente guardá-las para si. Não que o governo chinês não tenha suas responsabilidades, mas comparar a reação do país no enfrentamento do Covid-19 à omissão soviética durante o acidente nuclear de Chernobyl é pôr o dedo em um ferida que, não bastasse ainda estar aberta, não se sabe ainda como poderá ser curada. O coronavírus deixará cicatrizes em todo o mundo, mas a China será sempre lembrada como o seu berçário.

Por isso há tantos esforços para evitar a contaminação pelo preconceito. O presidente Donald Trump insiste na denominação "vírus chinês", dando prosseguimento simbólico à guerra comercial travada com o país adversário. Grandes estadistas, em crises globais como a de agora, costumavam deixar a ironia de lado para hastear uma bandeira branca, mesmo que temporária. É hora de olhar para a China apenas como o exemplo do que pode dar certo, o resto é passado. E o Brasil está apenas no início dessa batalha. O próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, reforçou, ainda em fevereiro, a importância de se combater a xenofobia, com destaque para os chineses.

Depois de o embaixador da China no Brasil, Yang Wamming, responder também com fúria que o filho do presidente "contraiu um vírus mental em Miami" (numa evidente referência à devoção do deputado ao governo norte-americano), a situação se acirrou.  Agora é o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que exige retratação... ao presidente, que teria sido ofendido.

No fim, a declaração descabida de Eduardo Bolsonaro é mais uma tentativa de eximir o governo de seu pai das responsabilidades que são somente dessa administração a partir do momento em que o coronavírus atravessou a fronteira do país. Uma inconsequência que pode minar as relações com o maior parceiro comercial do Brasil no momento mais crítico. "Quem insiste em atacar e humilhar o povo chinês acaba sempre dando um tiro no próprio pé", alertou por último a embaixada chinesa no Twitter.

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