Como as 21 cidades sem assassinatos no ES podem inspirar as mais violentas

O que normalmente inviabiliza comparações entre os municípios mais violentos e aqueles onde a paz está reinando em 2022 é óbvio: a própria dimensão dessas cidades. Mas isso não impede o aprendizado

Publicado em 10/08/2022 às 02h00
Operação
Polícia faz operação para prender 21 pessoas na Grande Vitória. Crédito: Polícia Civil

Parece um tanto quixotesco, e com razão, a esta altura tomar a situação das 21 cidades que não registraram nenhum homicídio no Estado em 2022 e almejar o mesmo destino para aquelas mais violentas, como Vila Velha, que neste ano tem sido o epicentro da violência contra a vida no Espírito Santo. O município registrou 99 homicídios nos sete meses de 2022, uma escalada de 32% em relação ao mesmo período do ano passado.

A verdade é que as boas e as más notícias sobre a segurança pública oscilam. O primeiro semestre de 2022 registrou uma queda no número de homicídios de 15% em relação ao mesmo período do ano passado, com menos de 500 mortes, o que já projetava uma possível queda recorde nos 12 meses. Mas o primeiro mês do segundo semestre veio colocar um freio no entusiasmo.  Julho foi marcado por um crescimento de 15% em relação a 2021, com 92 ocorrências.

O que normalmente inviabiliza comparações entre os municípios mais violentos e aqueles onde a paz está reinando em 2022 é óbvio: a própria dimensão dessas cidades. Alegre, Alfredo Chaves, Alto Rio Novo, Apiacá, Bom Jesus do Norte, Divino de São Lourenço, Governador Lindenberg, Ibitirama, Iconha, Itaguaçu, Itarana, Jerônimo Monteiro, Laranja da Terra, Marilândia, Muqui, Pancas, Ponto Belo, Santa Leopoldina, São Roque do Canaã, Venda Nova do Imigrante e Vila Pavão. Não há na lista dos municípios sem homicídios nem mesmo cidades de médio porte. Mas isso não significa que, de alguma forma, não possam servir de inspiração.

Para começar, os próprios municípios sem homicídios devem ser blindados de quaisquer investidas da criminalidade. Lamentavelmente, o tráfico de drogas se espraia até pelas localidades menores, é preciso impedir que braços de facções da Grande Vitória se instalem, o que já acontece nas cidades médias do Estado. Proteger as cidades pequenas dessa chaga é importante para que se mantenham distantes das estatísticas.

Em entrevista à CBN Vitória nesta terça-feira (9), o delegado Romualdo Gianordolli, titular do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP), informou que mais de 80% dos homicídios no Estado são decorrentes do tráfico de drogas. Um negócio ilegal e lucrativo no qual as disputas territoriais são as principais responsáveis pelas mortes. As diferentes facções brigam por espaço. Nesse sentido, uma cidade que não permita a consolidação do crime tem menos potencial de mortes violentas.

Assim como se faz necessária a presença do Estado, mas principalmente o acesso aos serviços de educação, saúde e infraestrutura. As oportunidades bem distribuídas são uma barreira natural para a sedução do crime. São incompatíveis. Assim, os municípios mais violentos precisam enxergar formas de integrar a população, sem deixá-la desamparada.

A Grande Vitória, mais especificamente, tem sido cenário de confrontos, tanto entre os bandidos ou destes com a polícia, com tanta recorrência que as pessoas se indagam se estamos no caminho de nos tornar um novo Rio de Janeiro. Na entrevista, o delegado Romualdo disse não crer nessa possibilidade. "Eu acho que a nossa realidade está muito longe da do Rio de Janeiro. A gente tem que errar por mais de dez anos na segurança pública para chegar a algo parecido".

Ainda dá tempo, portanto, de promover recuos da criminalidade em bairros conflagrados. Seguindo no equilíbrio de ações repressivas e de imposição da ordem, pautadas pelo Estado democrático de Direito, e de ações para a reocupação estatal. Zerar os homicídios pode ser uma utopia nos grandes centros urbanos, mas é importante olhar para as cidades menores que conseguiram até mesmo para uma mudança de mentalidade. Morte violenta não pode ser o normal. Essas 21 cidades sem homicídios acabam ensinando isso.

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