"Ninguém assume a responsabilidade pelo estado da Ponte Florentino Avidos, mais conhecida como Cinco Pontes, maltratada por uma cobertura asfáltica desgastada e pela falta de limpeza". Esse relato foi o lide (termo usado para a abertura de texto jornalístico) de uma reportagem publicada por A Gazeta em 1994, mas poderia muito bem ter sido escrito em 2025. Passados 31 anos, o problema segue o mesmo e a estrutura que liga Vitória a Vila Velha continua sem dono, à mercê do desgaste e da falta de manutenção.
Foi o que constatou uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES), que tentou, sem sucesso, localizar o órgão responsável pela ponte por meio de ofícios enviados entre junho e setembro deste ano, como revelou A Gazeta na última sexta-feira (10). Depois de encaminhar uma série de ofícios ao Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo (DER-ES) do governo estadual e às prefeituras de Vitória e de Vila Velha, a Corte não recebeu a resposta que esperava. A única responsabilidade assumida foi pela iluminação, a cargo, no caso, do Executivo da Capital.
É inacreditável que uma ponte prestes a completar 100 anos, por onde circulam diariamente milhares de pessoas que se deslocam pela Grande Vitória, esteja entregue à própria sorte. De acordo com o TCES, uma vistoria detectou diversos pontos de oxidação da estrutura, incluindo um buraco na passarela de pedestres. Os problemas podem ser até pontuais no momento, demandando manutenção corriqueira. Porém, quanto mais tempo a ponte permanecer sem um responsável, mais a situação tende a se agravar e expor motoristas, passageiros, ciclistas e pedestres a riscos.
Agora, se nem o Tribunal de Contas soube a quem reclamar, o que dizer dos usuários que são obrigados a enfrentar essa situação de descaso? Enquanto diferentes órgãos públicos fazem um jogo de empurra, no estilo “não é comigo”, quem perde é o cidadão. Afinal, os impostos estão sendo pagos para que problemas sejam solucionados, não para que governo e prefeituras deem de ombros ou tirem o corpo fora, para usar duas expressões que combinam bem com a situação.
O TCES insiste em buscar uma solução para esse jogo de empurra e já notificou a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e a Secretaria de Estado de Gestão e Recursos Humanos (Seger) para que apontem, em um prazo de 15 dias, o órgão responsável pelas Cinco Pontes. Espera-se que, até lá, haja proatividade de algum dos entes envolvidos – ou, quem sabe, de todos. Reúnam-se, conversem e cheguem a um acordo. Construam pontes entre si, em vez de erguerem muros. É o mínimo que a população merece.
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