Publicado em 14 de setembro de 2020 às 19:17
A bancada evangélica no Congresso se reunirá na tarde desta terça (15) para discutir o que fazer após o presidente Jair Bolsonaro vetar o perdão a dívidas de igrejas. Estão bravos com aquele que sempre teve apoio incondicional da frente? >
Poucos o tomam por Judas. Outros acreditam que Bolsonaro deu um jeito de não se indispor com seu ministro da Economia, Paulo Guedes, contrário à anistia que poderia relevar passivos de igrejas com a União que superam R$ 1 bilhão.>
Líder do grupo, o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM) diz que, caso a bancada conclua que o melhor caminho é reverter a decisão presidencial no Congresso, não deve ter grandes dificuldades. "Se Deus quiser, vamos derrubar.">
Não só Deus: são 194 apoiadores oficiais da frente e 130 deputados "frequentadores de fato de igrejas", além de 14 senadores, afirma. "Se cada um de nós conseguir um voto no seu Estado, já foi o veto." Para a rejeição do veto é necessária a maioria absoluta dos votos de deputados e senadores, ou seja, 257 na Câmara e 41 no Senado.>
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Em grupo de WhatsApp com congressistas evangélicos, segundo Silas Câmara, os humores são por essa solução.>
A bancada viu num post publicado no domingo (13) por Bolsonaro um aceno do presidente a seus interesses. Ele escreveu: "Confesso. Caso fosse deputado ou senador, por ocasião da análise do veto que deve ocorrer até outubro, votaria pela derrubada do mesmo".>
Não fosse isso, haveria mais receio de brigar pela anistia. Para deputados evangélicos com quem a reportagem conversou, Bolsonaro não quis escancarar para Guedes que apoia o perdão às dívidas.>
Corre nos bastidores que um nome em particular estaria melindrado com o presidente e por isso estaria disposto a bater mais na questão das dívidas: o pastor Silas Malafaia, aliado de primeira hora de Bolsonaro e que agora estaria tendo demandas ignoradas por ele.>
Exemplo: foi contra a nomeação do pastor Milton Ribeiro para o Ministério da Educação, e nada. Sugeriu nomes para o Supremo Tribunal Federal, enquanto Bolsonaro, que defende alguém "terrivelmente evangélico" para a corte, é simpático ao atual ministro da Justiça, o presbiteriano André Mendonça.>
"Não existe melindre nenhum", afirma o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), representante da igreja de Malafaia na Câmara. "Essa relação é como o próprio presidente define, um casamento, tem dias que são ruins, tem dias em que é maravilhoso. Ninguém fica satisfeito com um veto desses.">
Para Cavalcante, "politicamente, [a pauta da equipe econômica] é um desastre para o governo, mas vamos resolver o problema no Parlamento".>
"O motivo que levou o presidente a votar assim, nós desconhecemos. Se for para agradar Paulo Guedes é simples, que [o ministro] garanta a eleição dele em 2022. Não acredito nisso. O segmento religioso é muito fiel para [Bolsonaro] dar mais valor a Guedes.">
Um deputado comparou a bancada ao cão que ladra, mas não morde. Eles vão pressionar, mas se o Congresso não restabelecer a anistia, aceitarão a derrota sem romper com Bolsonaro. Não haveria nenhum outro nome mais alinhado às demandas da frente, como na agenda de costumes.>
"Devemos entender que existe a lei de responsabilidade fiscal, e pra cima do presidente viriam todas as baterias contra", diz o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP). "Manda o bom senso que ele vete e deixe a queda do veto para o Parlamento, que é o foro adequado para aparar as arestas. Não vejo motivo para rompimento nem acredito em bravatas.">
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