Publicado em 22 de outubro de 2019 às 12:00
Com baixa probabilidade de derrotas, na avaliação de governistas, a reforma da Previdência deve cumprir nesta semana a última etapa de votação no Congresso.>
A expectativa de aliados do Palácio do Planalto é que o Senado conclua nesta terça (22) a aprovação da proposta que reestrutura as regras de aposentadorias e pensões.>
Líderes partidários, no entanto, esperam um cenário adverso para os planos futuros do ministro Paulo Guedes (Economia), como a reformulação no serviço público.>
Embalada pelo desempenho no primeiro turno, a oposição tentará derrubar no Senado mais trechos da reforma, como o endurecimento no cálculo das pensões.>
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Na primeira votação, o plenário impôs uma derrota ao governo e excluiu os critérios mais rígidos para o abono salarial, espécie de 14º salário pago a trabalhadores formais e com renda de até dois salários mínimos (R$ 1.996).>
Com isso, a equipe econômica passou a prever um corte de aproximadamente R$ 800 bilhões nos cortes de gastos públicos para os próximos dez anos. A versão original da reforma, enviada por Jair Bolsonaro em fevereiro, previa uma economia de R$ 1,2 trilhão no mesmo período. As modificações feitas na Câmara, que aprovou o projeto em agosto, haviam reduzido essa estimativa para R$ 933 bilhões.>
O time de Guedes deve acompanhar a votação final da reforma em busca de garantir a aprovação da reforma sem novas alterações. Por ser uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), o texto precisa de apoio -em dois turnos- de 49 dos 81 senadores.>
Para aprovar o projeto, o governo precisa de votos de partidos independentes.>
Os principais líderes dessa ala do Senado -Eduardo Braga (MDB-AM) e Alvaro Dias (Podemos-PR)- acreditam numa aprovação da reforma sem surpresas para Guedes. O ministro está incomodado com a desidratação do projeto promovida pelo Congresso.>
MDB (maior bancada) e Podemos (segunda maior) se aliaram à oposição no primeiro turno da PEC para derrubar as mudanças no abono salarial.>
Na votação em segundo turno, é possível apenas apresentar sugestões para que trechos da PEC sejam retirados. Os líderes desses dois partidos dizem que as bancadas não devem apoiar mudanças que reduzam o efeito da medida nas contas públicas.>
A oposição, por outro lado, planeja elevar o tom do debate e destacar partes da reforma que afetam os mais pobres. Para isso, vão usar os chamados destaques -instrumentos para que trechos específicos da proposta sejam votados separadamente.>
Dessa forma, os senadores têm que se posicionar claramente sobre uma única medida da reforma.>
Um dos destaques pode ser para derrubar um cálculo mais rígido para a pensão por morte. O governo defende a regra que corta o valor do benefício para 60% mais 10% para cada dependente adicional. Hoje, não há essa fórmula.>
A estratégia da oposição também pode envolver a tentativa de derrubada da regra que diminui o valor das aposentadorias. O Ministério da Economia quer que o benefício seja calculado com base em todo o histórico de contribuições à Previdência. Atualmente, a norma é mais vantajosa, pois descarta as 20% menores contribuições.>
Esses destaques de oposicionistas têm grande potencial de reduzir o impacto da PEC. Apesar dos danos que essas medidas causam ao trabalhador, senadores estão preocupados com a situação das contas públicas, que estão sendo pressionadas pela alta nos gastos com Previdência.>
Para fazer a reforma avançar no Senado, o governo fez promessas. Mas nem todas foram cumpridas. Alguns senadores esperam que, agora, Guedes dê celeridade ao pacto federativo -conjunto de medidas para repassar mais recursos a estados e municípios.>
Outros querem também ter direito a emendas parlamentares extras, como foi garantido aos deputados que votaram a favor da reforma. Essas emendas são usadas para que congressistas enviem dinheiro a obras em suas bases.>
Está em jogo a confiança dos parlamentares na articulação política do governo, que pretende dar continuidade à agenda reformista de Guedes.>
Os próximos passos do ministro são reforma administrativa (para cortar gastos com funcionalismo público), pacto federativo (com desvinculação do Orçamento) e reforma tributária.>
"Não conheço esse pacote e não tenho compromisso com ele", disse o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM).>
"O governo não tem base aliada e tem um presidente que coloca fogo no circo toda hora, como agora faz com seu próprio partido [crise interna no PSL]. Daqui para a frente vai ser sempre mais difícil", afirma o líder do Podemos, Alvaro Dias (PR).>
Interlocutores de Bolsonaro no Congresso Nacional admitem que as negociações políticas terão que passar por ajustes. 2020 é ano de eleições municipais e o primeiro ano de governo -período tradicionalmente mais fácil para aprovar projetos polêmicos- praticamente se foi.>
Apesar do distanciamento adotado em relação à proposta, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) deverá ser lembrado como o responsável pela aprovação de uma ampla reforma da Previdência em pouco mais de oito meses.>
Ele fica atrás apenas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, em 2003, aprovou, em pouco mais de sete meses e meio, uma reforma, embora o principal alvo tenha sido o funcionalismo público.>
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também fez uma reformulação ampla, mas levou mais de três anos e oito meses. Apresentada ao Congresso em 1995, a reforma do tucano previa a criação de uma idade mínima para ter o direito a aposentadorias: 60 anos, se homem, e 55 anos, se mulher.>
Por um voto, FHC não conseguiu aprovar a idade mínima. Isso foi em maio de 1998. O caso entrou na história do Congresso, especialmente pela explicação: o ex-deputado Antonio Kandir, que foi ministro do Planejamento e também era do PSDB, errou o voto e contribuiu para a derrota do tucano.>
Em vigor desde 1998, a reforma manteve outro pilar proposto por FHC. O critério para aposentadoria passou a ser o tempo de contribuição à Previdência, em vez do tempo de serviço.>
A reforma de Lula estabeleceu que, mesmo aposentados, servidores públicos continuam a contribuir para regime previdenciário. Além disso, definiu que o cálculo do valor da aposentadoria seja de acordo com a média das contribuições, e não igualado ao último salário.>
Sucessora de Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) era aconselhada por técnicos a fazer uma ampla restruturação da Previdência, mas resistiu. Fez uma minirreforma, em 2015, por medida provisória (que passaa valer imediatamente), mas sem mexer nas regras previstas na Constituição.>
Em 2016, o ex-presidente Michel Temer (MDB) tentou uma reestruturação para trabalhadores do setor público e privado, que, inclusive, serviu de inspiração para a proposta de Bolsonaro.>
Os planos foram interrompidos logo após o vazamento de áudio de uma conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista, da JBS. Temer teve que evitar investigações do caso e a Câmara deixou a proposta de reforma na gaveta.>
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