Publicado em 27 de junho de 2020 às 08:10
Na tentativa de ampliar o número de novos financiamentos pelo Minha Casa Minha Vida, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) tem encarado uma negociação dura com a Caixa, para diluir o pagamento dos subsídios a duas faixas do programa habitacional ao longo do prazo dos contratos, que podem durar até 30 anos. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o banco resiste à mudança, sobretudo num momento em que seu caixa já está pressionado pelas medidas adotadas na crise. >
O impasse acabou travando as negociações do novo programa habitacional, chamado provisoriamente de Casa Verde Amarela e que será uma das frentes da nova política social da gestão Jair Bolsonaro. Fontes do governo contavam em lançar o novo Minha Casa no fim de junho, o que não vai se confirmar.>
O entrave se soma à dificuldade da pasta em conseguir convencer a área econômica a reduzir as taxas de juros praticadas nesses financiamentos. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o FGTS resiste porque a cobrança de um juro menor afetará a rentabilidade do fundo, que também está com o caixa sobrecarregado pelas ações de socorro durante a pandemia. O MDR quer agora viabilizar ao menos uma redução nos juros para famílias no Norte e no Nordeste, onde Bolsonaro tenta ampliar sua base de eleitores. A expectativa é que o assunto seja levado ao Conselho Curador do FGTS na próxima reunião, em julho.>
Os financiamentos das faixas 1,5 e 2 do Minha Casa, que contemplam respectivamente famílias com renda até R$ 2,6 mil e R$ 4 mil, são concedidos com juros subsidiados, ou seja, abaixo do praticado pelo mercado. Essa subvenção é bancada pelo FGTS. Dos R$ 9 bilhões previstos este ano para os subsídios do Minha Casa, cerca de R$ 6 bilhões serão repassados ao banco em forma de subvenção.>
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O problema, na visão do governo, é que a Caixa recebe à vista o valor do subsídio referente a parcelas e juros de períodos ainda não decorridos, uma vez que o contrato de financiamento tem prazo de até 30 anos. Os defensores da mudança sustentam que o banco deveria receber os valores da subvenção no mesmo ritmo do vencimento das parcelas, ao longo do contrato. Na prática, esse formato abriria espaço para que o valor reservado aos subsídios no orçamento do FGTS financiasse ainda este ano um número maior de aquisições de imóveis.>
A Caixa é contra a mudança porque a medida poderia desfalcar suas reservas e comprometer os resultados do banco num momento em que a instituição já está pressionada pelas pausas de até 120 dias no pagamento de financiamentos, inclusive imobiliários, concedidas a clientes.>
Segundo apurou a reportagem, a Caixa deixou de cobrar as parcelas dos financiamentos imobiliários, mas continua efetuando as devoluções previstas ao FGTS nos contratos que têm recursos do fundo como fonte de financiamento.>
Críticos dentro do governo afirmam que a Caixa adotou a pausa de maneira indiscriminada, concedendo o benefício inclusive para servidores públicos que continuam recebendo seus salários normalmente, e isso acaba diminuindo o poder de fogo do banco em outras frentes.>
O pagamento à vista do subsídio já foi alvo de questionamentos no Tribunal de Contas da União em 2016, após estudo da consultoria do Senado apontar que o balanço da Caixa estava sendo inflado pelas receitas da subvenção. Na época, detectou-se que a Caixa contabilizava todo o recurso como receita operacional de forma imediata, antes mesmo das contratações. Segundo o TCU, a impropriedade contábil foi corrigida ainda em 2016, mas o banco continua recebendo os valores à vista.>
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