Publicado em 16 de novembro de 2019 às 14:36
Para enfrentar o ambiente de trabalho e acadêmico majoritariamente masculino e machista do setor de tecnologia, mulheres criaram projetos sociais e coletivos que ensinam e discutem programação.>
Em 2017, uma pesquisa da Unesco (braço da ONU para educação, ciência e cultura) mostrou que 74% das mulheres se interessam por ciência, tecnologia, engenharia e matemática. No entanto, 30% seguiram como pesquisadoras na área. Entre as que foram para o mercado de trabalho, 27% afirmaram não sentir uma evolução na carreira, enquanto 32% desistiram em até um ano depois de concluída a graduação.>
Já a pesquisa #Quemcodabr, da PretaLab, braço do laboratório carioca de inovação e tecnologia Olabi, mostra que 68% do setor é formado por homens, e 31,7%, por mulheres.>
A pesquisa, feita entre novembro de 2018 e março deste ano, ouviu 693 pessoas em 21 estados e no Distrito Federal.>
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Em uma tentativa de ampliar o mercado de trabalho para elas, surgem as iniciativas de profissionalização e de redes de apoio.>
"Tivemos um 'boom' de iniciativas que unem mulheres em torno da programação", diz Carla de Bona, 34, cofundadora e coordenadora de ensino da Reprograma, que fornece cursos gratuitos de linguagens de programação apenas para pessoas que se identificam como mulher.>
A lista de espera é grande: para cada turma de 30 pessoas, 500 mulheres chegam a se inscrever. A seleção é feita com o preenchimento de um formulário e entrevistas, não sendo necessário conhecimento na área.>
Para garantir a gratuidade dos cursos, o projeto faz parceria com empresas como Facebook e Mercado Livre. Já as professoras são voluntárias, e muitas são ex-alunas.>
"Na faculdade só haverá homens, há falta de representatividade. Mulheres não se sentem seguras nesse espaço, elas têm que batalhar muito para continuar na área", diz Bona.>
Para ela, um dos diferenciais da área de tecnologia é o autodidatismo --devido à atualização constante da linguagem de programação, existe uma integração entre programadoras. "É bem comum ter um problema e buscar resolvê-lo coletivamente", diz.>
Após anos trabalhando na área digital sendo a única mulher negra, Silvana Bahia, 34, diretora do Olabi, criou uma plataforma para conectar empresas e mulheres que trabalham com TI. "Um dos grande problemas que enfrentamos não é só entrar no mercado de trabalho, é permanecer nele.">
Maior diversidade nas empresas poderia corrigir distorções na tecnologia: "Costumo dizer que não existe neutralidade na tecnologia. Ela é criada por alguém, na sua maioria homens brancos", afirma.>
Silvana cita o exemplo do sensor de reconhecimento do videogame Xbox, que não identificava usuário negros. "Com uma pessoa negra no processo de criação, isso não aconteceria", diz.>
Para Iana Chan, 30, uma das fundadoras do Programaria, o mercado de trabalho está começando a despertar interesse por ter equipes mais diversas. "Mas o ambiente é hostil, mulheres relatam estagnação na carreira", diz.>
Em 2015, ela deu início a um clube de programação para mulheres. "Quando percebemos que os depoimentos de todas eram em relação ao espaço machista de trabalho, resolvemos criar a Programaria", diz. O projeto fornece um curso de introdução à programação para mulheres por R$ 400. Assim como no Reprograma, as vagas são disputadas: em uma oficina que realizaram, 200 mulheres ficaram na fila de espera.>
"É preciso democratizar o acesso à tecnologia, não só por igualdade numérica", diz Barbara Paes, 26, cofundadora do Minas Programam. "Acredito que, para criar uma tecnologia mais inovadora, é preciso que tenha uma equipe diversa.">
A iniciativa, que começou em 2015, promove cursos gratuitos de programação, priorizando mulheres negras, indígenas e de periferia. Nesses casos, auxiliam com transporte e alimentação e disponibilizam para mães cuidadoras para ficar com os filhos.>
Outro grupo que busca ensinar programação para meninas é o Pyladies Brasil. Com gestão horizontal, o grupo de mulheres se reúne para aprender Python --tipo de linguagem de programação-- por meio de palestras e workshops gratuitos.>
Debora Azevedo, 26, e Leticia Silva, 21, fazem parte do projeto e contam que o grupo vai muito além de uma formação profissional, é uma forma de empoderamento feminino.>
Minas Programam>
Ensinam software livre, lógica de programação, dados, UX, frontend, backend, empreendedorismo; os cursos são divulgados no site e nas redes sociais da projeto>
Site: minasprogramam.com>
Preço: tem cursos gratuitos e pagos>
Reprograma>
Ensinam linguagens de programação frontend, lógica de programação, gestão e armazenamento de dados>
Site: reprograma.com.br/>
Preço: gratuito>
Programaria>
Ensinam linguagens de programação frontend e lógica de programação>
Os cursos são divulgados no site e nas redes sociais da projeto>
Site: www.programaria.org/>
Preço: R$ 400>
Pyladies>
Promovem palestras e workshops em python>
Site: facebook.com/PyLadiesBrazil/>
Preço: gratuito>
Pretalab>
Plataforma para conectar mulheres negras e empresas de tecnologia. No site, é possível cadastrar o currículo>
Site: www.pretalab.com/perfis>
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