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Roda de conversa discute sobre empoderamento, união e machismo

Roda de conversa discute sobre empoderamento, união e machismo

Representantes de coletivos que participaram de Roda de Conversa em homenagem ao Dia Internacional da Mulher falaram sobre empoderamento feminino, união e combate ao machismo

Publicado em 15 de março de 2019 às 18:48

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Priscila Gama, Aisha Jacob, Juliana de Faria e Maria Paula: "Juntas somos mais fortes". (Guilherme Ferrari)

Para celebrar o Dia Internacional de Mulher, a Rede Gazeta, em parceria com a Casa do Saber Rio, promoveu, na terça-feira (12), uma roda de conversa sobre a violência contra a mulher, o assédio, o preconceito e a importância das mulheres estarem sempre juntas, de mãos dadas.

A atriz e embaixadora da paz, Maria Paula, mediou o bate-papo que teve a participação das ativistas Juliana de Faria, da ONG Think Olga, Aisha Jacob, do coletivo Não é Não, e Priscila Gama, do Instituto Das Pretas.

Maria Paula abriu o bate-papo falando sobre a transição entre a profissão de atriz e o cargo de embaixadora da paz. Para ela, esse é o melhor momento para se discutir o papel das mulheres na sociedade. “Chegou a nossa vez. Vários movimentos estão acontecendo no mundo, ao mesmo tempo. O lugar de fala é importantíssimo, a gente precisa debater. Também é preciso atenção para as políticas públicas, principalmente para as mulheres que não possuem apoio”, reforçou.

Uma das principais vozes do feminismo atual, Juliana de Faria, que está à frente do Think Olga, ONG que divulga informações e relatos sobre assédio sexual, deu seu próprio depoimento. “Fui assediada pela primeira vez aos 11 anos, quando comecei a ir sozinha para a escola. E isso acontecia em ambientes que deveriam ser seguros, como a escola, as festas que frequentava ou os espaços públicos por onde passava. Nunca consegui falar sobre isso na época porque, em geral, existe uma tendência de desacreditar a vítima”.

Anos depois, como jornalista, resolveu contar as histórias que ninguém queria contar. “Foi aí que criei a campanha ‘Chega de fiu fiu’, uma maneira debater sobre o assédio. Recebemos milhares de depoimentos de mulheres, de 12 a 60 anos, contando a suas histórias sobre a violência, e experiências que tinham vivido”, conta. A ONG também fez um estudo e os resultados são estarrecedores: 90% das entrevistadas já deixaram de fazer coisas, ou usar roupas e maquiagem, com medo de assédio. “Isso mostra que nós deixamos de frequentar espaços públicos com medo, somos podadas, não temos liberdade”.

Rede de mulheres

Outra participante foi a feminista e estilista Aisha Jacob, do coletivo de mulheres no combate ao assédio “Não é Não”, criado às vésperas do carnaval de 2017. “Numa conversa entre amigas, percebemos que todas já tinham vivido um episódio de assédio. Precisamos falar do assunto, qual o direito que qualquer pessoa tem sobre o nosso corpo?”, questionou. Naquele ano, elas criaram quatro mil tatuagens com a frase, que foram distribuídas na festa e no ano seguinte foi criado o coletivo, tamanho o sucesso.

“Começaram a chegar pessoas interessadas a espalhar a ideia pelo país. Produzimos 28 mil tatuagens e começamos a ir em escolas municipais do Rio de Janeiro para falar de assédio, essa é uma mensagem para a vida de todas as meninas”.

O projeto ganhou outras proporções e as fundadoras entenderam que não adiantava ir adiante se não tivessem uma rede de apoio. Hoje são 37 mulheres espalhadas pelo Brasil. “Uma em cada região, representando o nosso projeto. Neste carnaval foram 186 mil tatuagens distribuídas em 10 cidades. Crescemos, mas ainda precisamos de dados para seguir adiante. Por isso é tão importante as vítimas denunciarem”, explicou.

Dar voz

“O meu corpo preto foi assediado a vida inteira”. Foi com essa frase que a capixaba Priscila Grama, presidente do Instituto Das Pretas, começou a sua participação no evento. Ela relatou a luta das mulheres pretas em ter voz na sociedade. “O espaço é genocida. Mulheres negras são mortas mentalmente quando veem seus filhos ou maridos morrendo, ou pela falta de trabalho. Mesmo fazendo parte de 57% da população da cidade, as vezes sou única nos espaço. Meu recado é: nos vejam, compartilhem conosco. O feminismo não é só das mulheres brancas”.

Ela também ressaltou que as mulheres negras são assediadas pelas brancas. “Nosso corpo é público. Mulheres brancas nos tocam e isso nos agride, fere. Esse corpo precisa ser respeitado. Quando dizem ‘Ninguém solta a mãe de ninguém’, isso tem que valer para todas as mulheres, sem exceção, pra preta, pra gorda, pra faxineira...”.

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É preciso também que as mulheres negras estejam em todos os espaços. “Estamos falando de direito, espaço onde a sentença é preta e o direito é branco. É sobre isso que a gente fala na instituição. A gente potencializa a existência das pessoas, isso é importante”, disse Priscila. E concluiu: “Sei que posso estar em qualquer lugar, mesmo sabendo que o acesso a esses espaços é difícil. Fico feliz de estar aqui”.

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