Publicado em 28 de julho de 2020 às 15:18
A Latam teve sua proposta de redução de salário e jornada recusada na segunda-feira, 27, pelos pilotos, copilotos e comissários da empresa, informou o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). Enquanto Azul e Gol negociaram com a categoria uma redução temporária, a Latam tenta cortar permanentemente a remuneração da sua tripulação, o que inviabilizou a aprovação, conforme antecipou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) no dia 22. >
De acordo com a categoria, 88,6% dos votos dos comissários foram contrários à proposta. Entre os copilotos e comandantes os porcentuais contrários foram, respectivamente, de 88,9% e 89,3%. "O SNA comunicou imediatamente o resultado da votação à Latam, e uma reunião com a empresa foi agendada para hoje para dar prosseguimento às negociações para possíveis novas propostas de acordo", disse a entidade, em nota.>
Além do corte permanente, a proposta da Latam é de uma remuneração média 40% menor durante o período de vigência do acordo, que se encerraria em dezembro de 2021. Na Gol e Azul, a média é de corte de 16% em igual período.>
Procurada, a Latam disse que segue negociando com a SNA e busca, por intermédio de um novo Acordo Coletivo de Trabalho, "formas de minimizar os impactos econômicos e principalmente os sociais causados por esta pandemia sem precedência", apontou em nota, e emendou: "a empresa sempre esteve aberta ao diálogo com o objetivo de preservar os empregos e manter a sua sustentabilidade no longo prazo".>
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A companhia ressaltou ainda que cada empresa tem suas particularidades e a Latam é a maior e mais antiga entre as três companhia que atuam no Brasil e tem sua operação majoritariamente internacional. "Por isso a negociação com o Sindicato dos aeronautas tem sido mais extensa", disse.>
Hoje, a aérea tem um excedente de 2.700 tripulantes por causa da menor demanda, na esteira da pandemia.>
O cenário é complexo para as aéreas no Brasil. Em junho, a demanda por voos no mercado doméstico (medida em passageiros quilômetros pagos, RPK) teve queda de 85% na comparação com junho de 2019, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A oferta de voos no mercado doméstico (calculada em assentos/quilômetros ofertados, ASK) caiu 83,6% em igual comparação.>
A ajuda do governo via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ainda é uma incógnita no setor e nem os presidentes das aéreas sabem ao certo quando o recurso vai chegar.>
A Latam é considerada mais vulnerável no País, sobretudo por conta da sua maior exposição ao mercado internacional. No último dia 9, a aérea informou que seu braço no Brasil entrou em recuperação judicial (chapter 11) nos Estados Unidos. O grupo Latam e suas afiliadas em Chile, Peru, Colômbia, Equador e Estados Unidos já haviam pedido a proteção contra credores em Nova York em 26 de maio, mas a unidade brasileira havia ficado de fora.>
O sócio do escritório Peluso, Stüpp e Guaritá Advogados e coordenador do curso de Direito do Trabalho do Insper, Fernando Rogério Peluso, explicou que a proposta da Latam se apoia no Artigo 7, inciso VI da Constituição Federal. "A Constituição Federal diz que mediante negociação com sindicato pode haver redução salarial", afirmou, destacando que o espaço para o corte definitivo não surgiu com a pandemia. "Tivemos recentemente a Medida Provisória 936 e a lei 14.020, que abriu também a possibilidade de se fazer uma negociação de redução temporária mediante a redução de trabalho. Para isso, o trabalhador recebe ajuda do governo", explicou.>
De acordo com Peluso, a primeira consequência negativa para a Latam deste embate é a não redução de custo na folha de pagamento da aérea, algo fundamental para atravessar a crise. Azul e Gol, que já fecharam o acordo com os aeronautas, estão remunerando menos os seus profissionais. A Latam, na contramão, por ainda não ter concluído a negociação do corte temporário até dezembro de 2021, terá de pagar o salário cheio neste mês.>
A empresa pode demitir funcionários caso a negociação não tenha um final que a agrade. Entretanto, Peluso disse que essa não parece ser a intenção do grupo, que mantém diálogo com a categoria. "A relação de empresa com o sindicato é uma negociação eterna. Depois, no ano que vem, a Latam vai precisar negociar outras questões. Ter uma boa relação é fundamental. Neste momento, a Latam fechar as portas para negociação pode trazer um preço para ela pagar mais para frente", disse.>
Em um primeiro momento, os aeronautas fecharam um acordo com as aéreas que trouxe estabilidade para abril, maio e junho. Com o fim do período, iniciou-se então um novo processo de negociação. No início de junho, a Gol conseguiu aprovação da categoria da sua proposta, que prevê 18 meses de estabilidade com reduções de salários. Do total, 25% dos tripulantes vão ficar com remuneração fixa de 50%, com redução de jornada em igual proporção. Já o restante entrará em um modelo de escalonamento trimestral de cortes na jornada e remuneração de 23% no terceiro trimestre de 2020, chegando a 3% no terceiro trimestre de 2021.>
Já a Azul conseguiu o sinal verde dos aeronautas no dia 24 de junho. De forma bruta, a redução de salário será de 45% entre o terceiro trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021, quando o porcentual começa a cair. No quarto trimestre de 2021, a redução na remuneração será de 25%. Considerando a ajuda de custo, as reduções líquidas vão de 23% no terceiro trimestre de 2020 para 3% de queda na remuneração no quarto trimestre de 2021>
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