Publicado em 30 de março de 2020 às 17:18
Os pesquisadores de macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisaram as projeções para o crescimento econômico deste ano para uma retração de 0,4% a 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB), ante uma alta de 2,1% prevista anteriormente. >
As novas estimativas, revisadas em função da pandemia do novo coronavírus, estão numa seção da Carta de Conjuntura do Ipea, publicada nesta segunda-feira (30)no site da instituição.>
Para os pesquisadores, a pandemia da covid-19 "está trazendo incertezas e interrupções da atividade econômica global em níveis superiores aos registrados na crise financeira internacional de 2007-2009".>
"Essa crise é mais difícil porque já tínhamos visto uma crise financeira, mas não uma pandemia como essa", afirmou o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de C. Souza Júnior, que assina a seção da Carta de Conjuntura ao lado de Paulo Mansur Levy, Francisco Eduardo de L. A. Santos e Leonardo Mello de Carvalho.>
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As novas projeções do Ipea foram estimadas em três cenários, variando em função do período de adoção de medidas de restrição de aglomerações e de incentivo ao "isolamento social" para combater a pandemia. >
No cenário com isolamento social de um mês, até o fim de abril, a retração da economia será de 0,4% este ano. Com isolamento de dois meses, o PIB encolherá 0,9%. Se o isolamento durar três meses, o tombo na atividade em 2020 será de 1,8%.>
Nos três cenários, os pesquisadores do Ipea consideram que, no terceiro trimestre, haverá uma "rápida recuperação parcial da atividade econômica". >
"Esta hipótese depende da efetividade das políticas econômicas mitigadoras sendo adotadas no Brasil e no mundo, e de um relativamente rápido avanço no controle da pandemia, que permitiria a retirada gradual das medidas restritivas", diz um trecho da seção da Carta de Conjuntura.>
Segundo os pesquisadores do Ipea, o tamanho da retração cresce de forma diretamente proporcional à duração do período de isolamento social "porque, mesmo com medidas mitigadoras bem sucedidas, os riscos de falências e de demissões aumentam quanto maior for o tempo em que as empresas ficam com perda muito grande (ou total) de faturamento".>
"Se tiver uma demora maior (para começar a recuperação), vamos para um grau de incerteza maior ainda, fica difícil até de calcular, porque aí, realmente, pode haver mais dificuldades por conta de falências de empresas e demissões", afirmou Souza Jr.>
Para rodar seus modelos de projeção, a equipe do Ipea considera impactos vindos de fora, visto que, hoje, a crise é global, e impactos domésticos. No primeiro caso, foi considerado que uma retração de 1,0% no PIB global tiraria 1,3 ponto porcentual do crescimento do PIB brasileiro em 2020.>
Para os impactos domésticos, nos quais foram considerados os três cenários diferentes em função do período de isolamento, os pesquisadores optaram "por uma abordagem empírica em que definimos a intensidade dos choques por meio de um levantamento de informações de alta frequência e de dados divulgados por empresas e por representantes dos setores mais afetados pela crise".>
A seção da Carta de Conjuntura lembra que o setor de serviços deverá ser o mais atingido em termos de atividade no ano, já que, por sua natureza, o consumo suspenso nos períodos de restrição tem menos chance de ser compensado com maior intensidade no futuro, após as restrições serem relaxadas. >
"Alguns setores industriais também devem sofrer fortes perdas, como de bens de consumo duráveis, têxteis, confecções e calçados, devido ao fechamento do comércio nas principais cidades do país", diz um trecho da Carta de Conjuntura.>
O efeito no mercado de trabalho também tende a ser grande, pois "alguns dos setores mais afetados são os maiores empregadores do país. >
"Só o setor de comércio varejista ocupava 6,4 milhões de pessoas em 2018. Serviços de alimentação e transporte, juntos, respondem por quase 10% do total de ocupados no país, o que mostra que o impacto doméstico será significativo. A questão preponderante, que será colocada na discussão de cenários, é qual é a duração dos choques e se terá efeitos mais persistentes", escreveram os pesquisadores do Ipea.>
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