Publicado em 22 de maio de 2025 às 20:17
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) editou um decreto que eleva o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre compras internacionais de pessoas físicas realizadas com cartões de crédito, débito e pré-pagos.>
A medida reverte uma norma editada em 2022, durante o governo Jair Bolsonaro (PL), que previa a redução gradual das alíquotas até zerá-las até 2029. O imposto sobre remessas para conta de contribuintes brasileiros no exterior e sobre compra de moeda estrangeira em espécie também vai subir.>
Hoje, os contribuintes pagam uma alíquota de 3,38% de IOF nas compras realizadas com moeda estrangeira mediante utilização de cartões ou cheques de viagem, cobrança que seria reduzida gradualmente nos próximos anos. O novo decreto do governo Lula eleva a cobrança a 3,5%, fixada também para os próximos anos. A mudança entra em vigor já nesta sexta-feira (23).>
O secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, ressaltou que a nova alíquota ainda é inferior aos 6,38% cobrados até 2022, quando foi adotada a transição.>
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Na época, o governo Bolsonaro implementou a redução gradual com o objetivo de promover maior liberalização do fluxo de capitais estrangeiros e de transações invisíveis. A medida buscava alinhamento com as práticas da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), grupo do qual o Brasil almeja fazer parte.>
"Nada impede que se reduza ou aumente [as alíquotas no futuro]", disse Barreirinhas.>
No caso das remessas, o contribuinte brasileiro com conta no exterior pagava uma alíquota de 1,1%. A cobrança passará a ser de 3,5%. Segundo o secretário, a medida busca corrigir distorções. "Hoje é mais barato ter uma conta com cartão de crédito no exterior do que no Brasil", disse. "Faz sentido um brasileiro ter uma conta em outro país e usar esse cartão aqui no Brasil? É uma maneira artificial.">
A cobrança sobre a aquisição de moeda estrangeira em espécie também sobe de 1,1% para 3,5%.>
O decreto também sobe de zero para 3,5% o IOF cobrado nas operações de câmbio para empréstimo externo de curto prazo (até 364 dias). A alíquota que chegou a ser de 6% até 2022 foi zerada a partir de 2023. De acordo com o secretário, uniformiza a tributação sobre os fluxos de ingresso e saída para o exterior, sem retomar a carga vigente até o governo Bolsonaro.>
As operações de cambio para investimentos feitos por fundos de investimentos no exterior subiu de zero para 3,5%. Essa foi uma das medidas que mais geraram dúvidas dos analistas do mercado financeiro, que manifestaram preocupação de a nova tributação afetar a indústria de fundos de investimento no Brasil.>
O IOF para outros tipos de operação de câmbio, que não tinham função especificada, subiu de 0,38% para 3,5% na saída de recursos do Brasil para o exterior. Na entrada, a o IOF fica mantido em 0,38%. A mudança, segundo Barreirinhas, visa evitar distorções como planejamento feito para fugir da alíquota mais alta das operações tradicionais.>
O secretário destacou que continuam isentas ou com alíquota zero, entre outras, as operações de câmbio para exportação e importação, empréstimo e financiamento externo (exceto de curto prazo), remessa de dividendos para investidores estrangeiros, ingresso e retorno de recursos de investidor estrangeiro, transporte aéreo internacional.>
O governo também elevou o IOF incidente sobre crédito destinado às empresas e sobre outras operações, como seguros e outras transações de câmbio. As mudanças buscam aumentar a arrecadação e ajudar no cumprimento das metas fiscais. Não haverá alteração no IOF na contratação de crédito por pessoas físicas.>
A Receita Federal prevê uma arrecadação de R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026. A medida foi anunciada nesta quinta-feira (22) junto com o congelamento de despesas do Orçamento da União. O decreto foi publicado em edição extra no Diário Oficial da União.>
"Esse é um ajuste que já temos considerado há muito tempo", disse o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan. "É uma medida dosada e cuidadosa", acrescentou. Segundo ele, a medida também está em harmonia com a política monetária do Banco Central.>
Ao contratar uma operação de crédito, as empresas pagam hoje um IOF fixo de 0,38%, mais uma alíquota de R$ 0,0041% ao dia, o que resulta num teto de 1,88% ao ano. Com a mudança, as pessoas jurídicas passarão a recolher uma alíquota fixa de 0,95%, mais 0,0082% ao dia (ou seja, um teto de 3,95% ao ano).>
Barreirinhas disse que a mudança na cobrança sobre as empresas busca corrigir uma distorção, já que as regras atuais cobram das empresas uma alíquota diária que é metade daquela incidente nas operações contratadas por pessoas físicas.>
"Estamos igualando a alíquota diária. É uma medida de justiça fiscal, de isonomia", disse.>
No caso das empresas do Simples Nacional, hoje o IOF prevê uma alíquota fixa de 0,38% mais 0,00137% ao dia (juntas, representam um teto de 0,88% ao ano). Com a mudança, a cobrança passa a ser de 0,95% fixo mais 0,00274% ao dia, totalizando um teto de 1,95% ao ano.>
Barreirinhas ressaltou ainda que a norma dá mais segurança jurídica para MEIs (microempreendedores individuais) ao aplicar sobre suas operações a alíquota fixa da pessoa física (que é menor, de 0,38%) e a alíquota diária menor garantida a empresas do Simples Nacional.>
"Deixamos claro que o MEI ficará no melhor dos mundos, menor alíquota fixa e menor alíquota diária", afirmou Barreirinhas. Antes, havia dúvida jurídica sobre qual alíquota fixa se aplicaria às operações contratadas por esses empreendedores.>
Outra mudança se deu nos planos de previdência privada do tipo VGBL, que são um plano de seguro de vida com cobertura por sobrevivência (isto é, a pessoa pode receber os valores em vida). Hoje, os aportes são isentos de IOF, mas o governo detectou uma brecha: a modalidade estava sendo usada como rota de escape após a taxação dos fundos exclusivos de investimento dos super-ricos.>
Pela medida, os aportes de até R$ 50 mil mensais nos planos VGBL continuarão isentos de IOF. Acima desse valor, passará a ser cobrada uma alíquota de 5%. Segundo o governo, a medida preserva o investidor que realmente busca segurança previdenciária.>
"É uma bela Previdência quem faz um aporte de até R$ 600 mil em um ano", disse Barreirinhas.>
Também nesta quinta (22), o governo anunciou o congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas do Orçamento de 2025 para cumprir o limite de gastos do arcabouço fiscal e a meta de resultado primário fixada para este ano.>
Na semana passada, o ministro Haddad deu a senha de que novas medidas seriam adotadas. Ao desmentir o aumento de R$ 600 para R$ 700 do benefício do Bolsa Família, Haddad antecipou que levaria ao presidente Lula propostas de medidas para garantir o cumprimento da meta fiscal porque foram identificados "gargalos" tanto do lado das despesas quanto do lado das receitas.>
Neste ano, o governo vai perseguir novamente uma meta fiscal zero, mas poderá entregar um resultado negativo em até R$ 31 bilhões. A margem de tolerância do arcabouço fiscal é equivalente a 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto) para mais ou para menos.>
Essa é a primeira medida de reforço nas contas públicas após o envio ao Congresso de um pacote de medidas de contenção de gastos, anunciado no final de novembro do ano passado em meio a uma crise de confiança no mercado financeiro.>
Na época, o governo previu um impacto das medidas de R$ 71,9 bilhões em 2025 e 2026. Num horizonte mais longo, a promessa do governo é poupar R$ 327 bilhões entre 2025 e 2030.>
De lá para cá, os indicadores financeiros do mercado melhoraram, a cotação do dólar caiu , mas os especialistas em contas públicas seguem céticos em relação à sustentabilidade do arcabouço fiscal, a regra para as contas públicas aprovada no primeiro ano do governo Lula.>
Apesar da maior estabilidade no mercado nos últimos meses, o envio do PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2026, em abril, aumentou a preocupação com o futuro das contas públicas a partir do primeiro ano do próximo governo. Projeções divulgadas pelo governo indicam o risco de um apagão na máquina pública devido a restrições no Orçamento a partir de 2027.>
A reinclusão de todos os precatórios sob o limite de gastos do arcabouço fiscal tira boa parte do espaço para despesas não obrigatórias, e o que sobra ainda precisa ser repartido com emendas parlamentares.>
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