Publicado em 3 de novembro de 2021 às 19:36
A possibilidade real de votação da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados nesta quarta à noite e, especialmente, o tom ameno do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, desautorizando apostas em alta dos juros nos EUA no primeiro semestre de 2022, derrubaram o dólar na sessão desta quarta-feira, 3. >
O movimento de apreciação do real, contudo, não foi linear. Nas primeiras horas de negócios, o dólar trocou algumas vezes de sinal e chegou a se aproximar de R$ 5,70, ao registrar máxima a R$ 5,6990 (+0,51%). Isso a despeito do tom duro da ata do Copom, que chancelou a perspectiva de taxa Selic em dois dígitos no fim do atual ciclo de aperto monetário.>
Já no fim da manhã, a moeda americana perdia força por aqui, movimento atribuído por operadores a fluxo comercial e realização de lucros. No início da tarde, as perdas se acentuaram, com o dólar tocando a casa de R$ 5,60, em meio à informação de que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), havia convocado sessão da Câmara dos Deputados para 18h, com o objetivo de votar a PEC dos Precatórios.>
As mínimas da sessão, com a moeda americana não apenas furando o piso de R$ 5,60 como passando a ser negociada momentaneamente na casa de R$ 5,57, vieram com o enfraquecimento global do dólar, na esteira de declarações de Powell, em entrevista coletiva após o Fed anunciar o início do "tapering", com redução do volume mensal de compra de títulos em US$ 15 bilhões.>
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A leitura predominante é que o tom da fala de Powell foi "dovish". Embora o "tapering" possa terminar em meados de 2022, o presidente do BC americano disse que há espaço para os integrantes do Fed serem "pacientes com a taxa de juros". Powell afirmou também que vai continuar a apoiar à recuperação da economia e que ainda há um longo caminho a percorrer para atingir a meta de pleno emprego nos EUA, um dos objetivos da instituição. Tudo temperado, como sempre, por ressalvas de que o Fed pode modular suas ações de acordo com os indicadores econômicos.>
O sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, observa que houve uma mudança recente na precificação do mercado futuro em torno da alta de juros nos EUA. Há cerca de dois meses, o mercado espelhava chance de 50% de elevação dos juros em novembro e dezembro. "Nas últimas semanas, essa precificação tinha mudado, com mais de 50% de chance de alta em junho. De certa forma, o Fed reduz essa expectativa novamente, sinalizando implicitamente que só vai subir os juros no segundo semestre", diz Velho, acrescentando que isso tira um pouco de pressão da taxa de câmbio.>
Após a fala de Powell, o índice DXY - que mede a variação do dólar frente a seis moedas fortes - passou a trabalhar em queda, abaixo dos patamar do 94,000 pontos. Divisas emergentes pares do real, o peso mexicano e o rand sul-africano, que perdiam força, trocaram de sinal e passaram a operar com ganhos firmes frente à moeda americana.>
Por aqui, o dólar à vista chegou a tocar na casa de R$ 5,57, ao descer até a mínima de R$ 5,5782 (-1,62%). Com leve desaceleração na reta final do pregão, a moeda encerrou o dia em queda de 1,42%, cotada a R$ 5,5897.>
Estrategista da Davos Investimentos, Mauro Morelli vê a taxa de câmbio pressionada por forças antagônicas, dado que o cenário externo é positivo, com maior propensão ao risco após o Fed, enquanto o ambiente interno ainda é de muita incerteza. A leitura de Morelli e que o BC americano, com a fala de Powell, sinalizou que não vai subir os juros até o fim do ano que vem.>
A manutenção da política monetária frouxa nos EUA, aliada a possibilidade de uma alta mais forte da Selic, se traduz em aumento do diferencial de juros interno e externo. "Isso pode tirar um pouco de pressão do dólar no curto prazo. Mas a volatilidade tende a continuar", diz Morelli, ressaltando que o ambiente econômico ainda é frágil, com inflação alta e perspectiva de crescimento menor do PIB por conta da Selic mais alta. "E vamos ter também no ano que vem o risco da eleição impactando o câmbio".>
Em sua ata, o Copom fez uma alusão à mudança no teto de gastos ao afirmar que os "questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação". Isso implica, segundo o colegiado, "maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas". Embora o Copom tenha já sinalizado nova alta da Selic em 1,50 ponto porcentual em dezembro, a maioria dos analistas avalia que o BC deixou aberta a possibilidade de elevação em ritmo ainda maior, cenário que já foi discutido no encontro de outubro.>
O mercado acompanha de perto as negociações para votação ainda nesta quarta da PEC dos Precatórios no plenário da Câmara. Embora abra espaço para a mudança da regra do teto dos gastos, em uma manobra com cheiro de contabilidade criativa, a PEC traz alguma luz sobre o que será, de fato, o Orçamento de 2022, ao garantir o financiamento do Auxílio Brasil e, assim, afastar a possibilidade de que o governo prorrogue o auxílio emergencial via créditos extraordinários. Além do novo programa social, há dúvidas sobre como o governo vai encontrar espaço para pagar as dívidas judiciais caso a PEC não vingue. "Diminui um pouco a incerteza, já que tira uma espada importante que estava sobre a cabeça do governo. Mas está longe de resolver os problemas fiscais", afirma Morelli, em referência a eventual aprovação da PEC dos Precatórios.>
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