Publicado em 3 de agosto de 2021 às 14:21
O ministro Paulo Guedes (Economia) disse nesta terça-feira (3) que o governo não tem capacidade para o pagamento de todos os precatórios programados para 2022 e por isso está propondo o parcelamento dos valores. "Devo, não nego; pagarei assim que puder", afirmou. >
Segundo ele, a medida em discussão com o Congresso não vai levar à falta de pagamento dos precatórios -dívidas do Estado reconhecidas pela Justiça. "Não haverá calote", afirmou, em evento virtual promovido pelo site Poder 360. >
Guedes afirmou que o volume de quase R$ 90 bilhões em precatórios previstos para 2022 consumiria todo o espaço extra no espaço do teto de gastos no ano que vem (que era calculado pelo governo em torno de R$ 30 bilhões). "O número extrapolou qualquer possibilidade de reserva de nossa parte", disse. >
A solução via PEC (proposta de emenda à Constituição) foi sugerida pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, segundo Guedes. "[Foi] sugestão do próprio ministro Gilmar Mendes, eu estava surpreso com o conteúdo e liguei para ele. Ele disse 'olha, já aconteceu antes e há soluções'", afirmou Guedes. >
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A proposta do governo tem como objetivo fazer os "superprecatórios", acima de R$ 66 milhões (mil vezes o salário mínimo), terem pagamento parcelado -com 15% de entrada e mais nove prestações anuais. A regra valerá também para novos precatórios nesse valor a entrarem nas contas do governo a partir de 2022. >
A proposta também trará um teto para o pagamento dos precatórios. De acordo com integrantes do governo, esse limite será de 2,6% da receita corrente líquida o que corresponde a R$ 27,9 bilhões em 2022, de acordo com as previsões do governo (com isso, R$ 41 bilhões do total previsto para o ano que vem serão alvo do parcelamento). >
O teto para precatórios não seria aplicado às chamadas requisições de pequeno valor (as RPV), de até R$ 66 mil, que continuariam a ter seus pagamentos feitos de forma imediata. A regra atualmente estabelece um prazo de 60 dias após a determinação judicial. >
"Os superprecatórios já estão [pela proposta] automaticamente parcelados. Os pequenos, justamente os mais vulneráveis, terão garantido o pagamento pronto e imediato", afirmou. >
De acordo com Guedes, será possível pagar todas as RPVs sem ultrapassar o limite da receita corrente líquida estabelecido na proposta. E, caso ainda haja espaço nessa margem, os pagamentos imediatos serão expandidos para valores ainda maiores. >
"Suponha que, dentro desse limite [...], dê para pagar todas as RPV [...] e ainda tenha espaço para pagar mais. Aí vamos subindo em ordem ascendente. Até R$ 70 mil, R$ 100 mil, R$ 150 mil, R$ 200 mil", afirma. >
"Nós fizemos os cálculos e achamos que todas as sentenças menores do que R$ 450 mil serão pagas à vista, pelo menos nos próximos anos", disse. "Todo esse pessoal vai ser atendido. Só os maiores serão parcelados", disse. >
A proposta de Guedes, ainda em discussão, também criaria um fundo para os pagamentos de precatórios com recursos oriundos de ativos da União, como imóveis, participações em estatais e dividendos pagos por elas. "Nós podemos até acelerar o pagamento desses precatórios [parcelados], usando moedas de privatização", afirmou. >
"Podemos fazer o seguinte. Os superprecatórios estão em uma fila. Grande parte estão em fundos de precatórios em grandes instituições financeiras, que por sua vez compraram por deságio. Elas passam a ter duas opções. Esperam na fila ou conseguem converter a valor face nos programas de privatização. Podemos criar um fundo patrimonial para acelerar o pagamento desses precatórios", afirmou. >
"O que estamos fazendo é transformar uma crise em uma oportunidade de transformação do Estado. Quando o ritmo de obrigações contra o Estado é muito rápido, maior do que a nossa capacidade de pagamento, temos que fazer como fazem todos os cidadãos. Vende uma casa de campo, vende o carro para pagar uma dívida e continuar solvente. Então podemos oferecer essa alternativa", disse. >
Inclusive, estou criando esse fundo para que, vendendo as estatais, vocês possam usar o mais rápido possível, como era possivelmente a intenção de todos esses grupos [privados] que entraram acumulando essas dívidas, afirmou. >
Guedes reconheceu que o crescimento dos precatórios pode representar uma falha de monitoramento e atuação do governo, mas ressaltou que desde o ano passado já cita uma possível "indústria" de precatórios contra o governo. >
"Você fala assim: 'Vocês dormiram no ponto?' Possivelmente sim. O governo em alguma coisa falhou. Nós sabíamos, eu reclamei do ritmo de crescimento. Mas sinceramente não havia o que pudéssemos fazer. Isso vem do espaço exterior, de instâncias às quais não temos alcance", afirmou. >
"Pode ter havido culpa nossa, vou correr atrás. Mas reagimos rápido. Formulamos em 10 ou 12 dias, assim que recebemos o número do Ministério da Justiça, liguei para o STF, para o presidente da República", disse. >
Gilmar Mendes, do STF, participou do evento virtual e foi questionado sobre como garantir que a PEC não seja vista como inconstitucional. Ele não quis comentar o tópico diretamente. "Certamente, não vou emitir juízo sobre essa questão agora porque esse tema acaba sendo judicializado", afirmou. >
Mesmo assim, Gilmar afirmou que considera equivocada uma decisão anterior do STF (a emenda 62, de 2000) -que, na época, viu inconstitucionalidade em regra que parcelaria precatórios. >
O precatório é emitido no caso de condenações da Justiça contra o Estado em valores acima de 60 salários mínimos (ou seja, R$ 66 mil). >
As RPV (requisições de pequeno valor) são condenações abaixo desse limite. >
Os precatórios devem ser quitados até o final do exercício seguinte à sua expedição. No caso da RPV, esse prazo é de até 60 dias após a expedição da requisição de pagamento >
Adiar grande parte dos pagamentos. No caso das RPVs, a execução é mantida. Mas os superprecatórios (acima de R$ 66 milhões) seriam parcelados em até 10 anos. Além disso, haveria um teto para pagamento dos precatórios correspondente a 2,6% da receita corrente líquida (em 2022, esse teto seria de R$ 27,9 bilhões). >
Abrir espaço no teto de gastos para turbinar o Bolsa Família em 2022 e outras despesas (o teto de gastos impede o crescimento real das despesas do governo a cada ano). >
Não, apenas joga a despesa para anos seguintes. >
Serão R$ 69,2 bi de precatórios e mais R$ 19,8 bi de RPVs, totalizando R$ 89,1 bi >
Caso a ideia vá adiante, a estimativa é que R$ 41,3 bi serão alvo do parcelamento (o equivalente a 46% do total previsto) >
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