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Câmara quer definir relação de trabalho de entregadores

Câmara quer definir relação de trabalho de entregadores

Projeto cria uma relação de "trabalho sob demanda" com sistema de salário mínimo por hora. Hoje as empresas pagam um piso e há também pagamento por horas trabalhadas, mas sem considerar benefícios como 13.º e férias

Publicado em 30 de julho de 2020 às 09:11

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Rodrigo Maia em sessão da Câmara
Rodrigo Maia em sessão da Câmara. (Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

Para fazer frente ao "breque dos aplicativos" - nome escolhido pelos entregadores para batizar os protestos realizados neste mês -, deputados avançam no debate sobre os direitos desses profissionais. Com o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), parlamentares devem iniciar uma série de debates sobre o tema tendo como base projeto de lei da deputada Tabata Amaral (PDT-SP), que cria uma relação de "trabalho sob demanda" com sistema de salário mínimo por hora.

Considerando o salário mínimo atual (R$ 1.045), o salário hora seria de R$ 9, acrescido de parcelas relativas a 13.º, férias e recebimento de 30% da remuneração quando tiverem esperando o pedido ficar pronto.

Em geral, aplicativos se definem como empresas de tecnologia que fazem apenas a intermediação entre clientes e prestadores autônomos. Algumas companhias até estimulam a regularização dos trabalhadores como microempreendedores individuais (MEIs). Mas, na prática, a informalidade ainda é expressiva.

O mais comum é o pagamento por quilômetro rodado, considerando o meio de transporte usado na entrega (moto, bicicleta), entre outras variáveis. Geralmente, não há pagamento por tempo de espera. As empresas pagam um piso e há também pagamento por horas trabalhadas, mas sem considerar benefícios como 13.º e férias. Algumas companhias oferecem seguros e programas de vantagens para os entregadores.

No início deste mês, entregadores realizaram o primeiro boicote nacional de sua história contra aplicativos de entregas, como iFood, Rappi, Loggi e Uber Eats, em uma mobilização inspirada na greve dos caminhoneiros de maio de 2018. Entre as reivindicações, uma taxa fixa mínima de entrega por quilômetro rodado e o aumento dos valores repassados aos entregadores por serviços realizados. Eles também cobram das empresas uma ajuda de custo para a aquisição de equipamentos de proteção contra a covid-19, como máscaras e luvas.

Na pandemia, a função foi uma saída para muitos que perderam seus empregos com a crise e levou uma legião a buscar, em aplicativos de entrega, uma espécie de "plano B" para conseguir uma renda. A procura intensa chegou a "entupir" as empresas desses serviços com pedidos de cadastro, como mostrou o Estadão.

"Estamos vendo algo novo surgir muito pela revolução tecnológica", diz Tabata. "Estamos falando sobre um tipo de relação em que o trabalhador escolhe quando e se vai trabalhar."

O projeto da deputada prevê ainda indenização por manutenção e depreciação de equipamentos, além de ferramentas sobre descadastramento de entregadores por avaliações ruins e também portabilidade das notas que eles recebem dos usuários entre os aplicativos. Segundo a deputada, a ideia é abrir o debate para aprimorar o texto.

Tabata quer levar as empresas e representantes dos entregadores para o debate com o Legislativo. "Não dá para fazer um puxadinho para dizer que é autônomo e nem que é CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), vamos ter de repensar cada um desses pilares do ponto de vista desse novo modelo de trabalho", disse. A septuagenária CLT reúne as leis que regem o trabalho com carteira assinada no Brasil. Em 2017, durante o governo do ex-presidente Michel Temer, foi aprovada reforma trabalhista que alterou mais de 100 pontos da CLT.

Os parlamentares querem também avançar nos debates sobre a proteção social aos entregadores. A criação de um salário maternidade é um ponto de convergência na discussão. Outros projetos também estão em debate, como o do deputado Ivan Valente (PSOL-SP) que trata, principalmente, sobre o trabalho durante a pandemia.

Em nota, o Ifood disse estar aberto ao diálogo e entende que aplicativos de delivery, poder público e entregadores devem ser corresponsáveis e "cocriadores da nova ordem". A empresa disse ainda que espera um amplo debate para se encontrar um modelo novo de regulação. Procurados, Rappi e Uber não se manifestaram.

A Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O) afirmou, também em nota, que as pessoas que buscam seus ganhos através das plataformas não podem depender de uma fórmula engessada. A organização afirma que, para serem competitivas, as empresas precisam oferecer condições atrativas e compatíveis com a realidade do mercado. "Trabalhando com incentivos, desincentivos e promoções, além de não poderem impor uma determinada jornada e a aceitação de um serviço - bem diferente do modelo CLT", diz.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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