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Ameaça de Bolsonaro leva à queda de 5,33% nas ações da Petrobras

Ameaça de Bolsonaro leva à queda de 5,33% nas ações da Petrobras

Declaração do presidente na noite de quinta-feira (18) levou a uma decorrada dos papéis da estatal; há temor de interferência na gestão da empresa

Publicado em 19 de fevereiro de 2021 às 11:31- Atualizado há 3 anos

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Jair Bolsonaro ao lado de Tarcísio de Freitas em live ameaça presidente da Petrobras
Jair Bolsonaro ao lado de Tarcísio de Freitas em live ameaça presidente da Petrobras. (Eduardo Bolsonaro/Twitter/Reprodução YouTube)

Bolsa de Valores de São Paulo (B3) iniciou o pregão desta sexta-feira (19) em queda de 0,75% aos 118.307 pontos. A desvalorização do Ibovespa vai na contramão das cotações mundiais, que apresentam um bom dia de avanço, sendo puxada, principalmente pela as ações da Petrobras que caíam mais de 5,33% às 11h30.

O motivo da retração é a ameaça feita pelo presidente Jair Bolsonaro na noite de quinta-feira (18) ao anunciar o corte de impostos federais por dois meses para reduzir a pressão inflacionária nos preços dos combustíveis fósseis.

Em vídeo ao lado do ministro da Infraestrutura Tarcísio Freitas, Bolsonaro disse que "alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias", dando entender que o atual presidente da companhia, Roberto Castello Branco, poderá ser demitido. No entanto, o presidente da República não tem poder para tirar a liderança da estatal, cabendo ao conselho administrativo derrubar alguém do cargo máximo na petroleira.

Na mensagem, publicada no YouTube, o mandatário brasileiro disse que a partir de março nenhum tributo federal (PIS, Cofins e outros) será aplicado no diesel e na gasolina.

Estimativas apontam que o governo federal deixará de arrecadar aproximadamente R$ 3 bilhões. O rombo aos cofres públicos pode ultrapassar R$ 5 bilhões.

O tom da ameaça e as medidas econômicas que ainda não foram explicadas soaram muito mal para o mercado de capitais, que avalia uma possível volta de políticas de congelamento de preços, além de um aumento do risco fiscal brasileiro. Ao isentar os impostos federais dos combustíveis, o Ministério da Economia ainda não detalhou como pagará essa conta.

Vale lembrar que o Orçamento federal para 2021 ainda não foi aprovado e se encontra sobre grande pressão para aumentar gastos sem ter certeza de onde vão sair os recursos para as iniciativas. Um outro impacto bilionário será a segunda rodada do auxílio emergencial que precisará ocorrer devido ao agravamento da pandemia.

Segundo a colunista de O Globo Míriam Leitão, Bolsonaro tentou desestabilizar o presidente da Petrobras, levando-o a um pedido de demissão. No entanto, de acordo com a especialista, o comandante da empresa não tem interesse de sair do cargo, principalmente que deve anunciar nos próximos dias um bom resultado financeiro da empresa, mesmo com a crise de 2020. 

Se ocorrer um possível desligamento de Castello Branco, segundo Míriam, há o risco de todo o conselho da Petrobras renunciar, o que poderá provocar uma alta volatilidade não só nas ações da companhia, mas como em toda a Bolsa brasileira que  tentava se recuperar após o choque de 2020 causado pela pandemia.

O problema criado foi insuficiente para permitir a B3 surfar na mesma onda que os outros mercados. A tranquilidade externa retratada na alta das bolsas europeias e dos índices futuros em Nova York não foi capaz de permitir valorização do Ibovespa nesta sexta-feira.

As críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro à Petrobras se sobrepõem ao cenário externo positivo, pois sugerem ingerência política na companhia, após o mandatário afirmar que os reajustes tomados pela empresa terão "consequência". Ontem, o Ibovespa fechou em baixa, de 0,96%, aos 119.198,97 pontos.

Para Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset. "obviamente a notícia é negativa. "Temos de novo essa insatisfação do presidente Jair Bolsonaro em relação à política de preços da companhia e também uma crítica velada ao presidente da empresa Roberto Castelo Branco. O mercado vai entender como sinal de mudança na presidência", avalia em nota.

"Temos de esperar para ver qual medidas será tomada, quão dura será e qual pode ser o nível de intervenção", afirma ao Broadcast Bruno Takeo, gestor da Ouro Preto Investimentos.

Apesar do tom positivo dos mercados de ações internacionais, a queda do petróleo no exterior, diante de temores de que o rigoroso inverno no Texas, que suspendeu as atividades petrolíferas, eleve os estoques, também é outro componente negativo para as ações da Petrobras e para o Ibovespa. Além disso, será informado o PMI Composto dos EUA (11h45) e ainda acontece a Conferência de Segurança de Munique, com discursos (meio-dia) do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, dentre outras autoridades do G7, o que será acompanhado pelos mercados

Lá fora, há tentativa de recuperação após dados de atividade na Europa que, no geral agradaram aos mercados. "Agora os investidores devem avaliar os mesmos números dos Estados Unidos, que saem mais tarde e que devem apontar a melhora da atividade no país, ainda que a recente onda de frio seja um fator de risco", descreve em análise o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada.

Além do impacto negativo das críticas do governo à Petrobras, a MCM Consultores cita ainda que que a "indefinição quanto às contrapartidas da PEC Emergencial também é outro fator negativo "

As falas de Bolsonaro em relação à companhia são um sinal "horrível e tem impacto forte nas ações", diz Takeo. Ainda contribui com a queda do Ibovespa o recuo de ações ligadas a commodities metalicas, após leve realização de lucros do minério de ferro na China, que cedeu 0,86% em Qingdao, a US$ 173,55 a tonelada, após subir quase 5% na véspera.

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Depois do reajuste anunciado ontem pela Petrobras, Bolsonaro anunciou em Live semanal de quinta-feira que não haverá nenhum imposto federal sobre o preço do óleo diesel por dois meses. O presidente considerou o aumento nos preços dos combustíveis, o quarto do ano, "fora da curva" e "excessivo". O mandatário reforçou que não pode interferir na estatal, mas ressaltou que a medida "vai ter consequência". Ontem, a companhia elevou o óleo diesel em 15,2% e em 10,2% a gasolina a partir de hoje.

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