Publicado em 19 de fevereiro de 2021 às 11:31
- Atualizado há 5 anos
A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) iniciou o pregão desta sexta-feira (19) em queda de 0,75% aos 118.307 pontos. A desvalorização do Ibovespa vai na contramão das cotações mundiais, que apresentam um bom dia de avanço, sendo puxada, principalmente pela as ações da Petrobras que caíam mais de 5,33% às 11h30.>
O motivo da retração é a ameaça feita pelo presidente Jair Bolsonaro na noite de quinta-feira (18) ao anunciar o corte de impostos federais por dois meses para reduzir a pressão inflacionária nos preços dos combustíveis fósseis.>
Em vídeo ao lado do ministro da Infraestrutura Tarcísio Freitas, Bolsonaro disse que "alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias", dando entender que o atual presidente da companhia, Roberto Castello Branco, poderá ser demitido. No entanto, o presidente da República não tem poder para tirar a liderança da estatal, cabendo ao conselho administrativo derrubar alguém do cargo máximo na petroleira.>
Na mensagem, publicada no YouTube, o mandatário brasileiro disse que a partir de março nenhum tributo federal (PIS, Cofins e outros) será aplicado no diesel e na gasolina.>
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Estimativas apontam que o governo federal deixará de arrecadar aproximadamente R$ 3 bilhões. O rombo aos cofres públicos pode ultrapassar R$ 5 bilhões.>
O tom da ameaça e as medidas econômicas que ainda não foram explicadas soaram muito mal para o mercado de capitais, que avalia uma possível volta de políticas de congelamento de preços, além de um aumento do risco fiscal brasileiro. Ao isentar os impostos federais dos combustíveis, o Ministério da Economia ainda não detalhou como pagará essa conta.>
Vale lembrar que o Orçamento federal para 2021 ainda não foi aprovado e se encontra sobre grande pressão para aumentar gastos sem ter certeza de onde vão sair os recursos para as iniciativas. Um outro impacto bilionário será a segunda rodada do auxílio emergencial que precisará ocorrer devido ao agravamento da pandemia.>
Segundo a colunista de O Globo Míriam Leitão, Bolsonaro tentou desestabilizar o presidente da Petrobras, levando-o a um pedido de demissão. No entanto, de acordo com a especialista, o comandante da empresa não tem interesse de sair do cargo, principalmente que deve anunciar nos próximos dias um bom resultado financeiro da empresa, mesmo com a crise de 2020. >
Se ocorrer um possível desligamento de Castello Branco, segundo Míriam, há o risco de todo o conselho da Petrobras renunciar, o que poderá provocar uma alta volatilidade não só nas ações da companhia, mas como em toda a Bolsa brasileira que tentava se recuperar após o choque de 2020 causado pela pandemia.>
O problema criado foi insuficiente para permitir a B3 surfar na mesma onda que os outros mercados. A tranquilidade externa retratada na alta das bolsas europeias e dos índices futuros em Nova York não foi capaz de permitir valorização do Ibovespa nesta sexta-feira.>
As críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro à Petrobras se sobrepõem ao cenário externo positivo, pois sugerem ingerência política na companhia, após o mandatário afirmar que os reajustes tomados pela empresa terão "consequência". Ontem, o Ibovespa fechou em baixa, de 0,96%, aos 119.198,97 pontos.>
Para Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset. "obviamente a notícia é negativa. "Temos de novo essa insatisfação do presidente Jair Bolsonaro em relação à política de preços da companhia e também uma crítica velada ao presidente da empresa Roberto Castelo Branco. O mercado vai entender como sinal de mudança na presidência", avalia em nota.>
"Temos de esperar para ver qual medidas será tomada, quão dura será e qual pode ser o nível de intervenção", afirma ao Broadcast Bruno Takeo, gestor da Ouro Preto Investimentos.>
Apesar do tom positivo dos mercados de ações internacionais, a queda do petróleo no exterior, diante de temores de que o rigoroso inverno no Texas, que suspendeu as atividades petrolíferas, eleve os estoques, também é outro componente negativo para as ações da Petrobras e para o Ibovespa. Além disso, será informado o PMI Composto dos EUA (11h45) e ainda acontece a Conferência de Segurança de Munique, com discursos (meio-dia) do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, dentre outras autoridades do G7, o que será acompanhado pelos mercados>
Lá fora, há tentativa de recuperação após dados de atividade na Europa que, no geral agradaram aos mercados. "Agora os investidores devem avaliar os mesmos números dos Estados Unidos, que saem mais tarde e que devem apontar a melhora da atividade no país, ainda que a recente onda de frio seja um fator de risco", descreve em análise o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada.>
Além do impacto negativo das críticas do governo à Petrobras, a MCM Consultores cita ainda que que a "indefinição quanto às contrapartidas da PEC Emergencial também é outro fator negativo ">
As falas de Bolsonaro em relação à companhia são um sinal "horrível e tem impacto forte nas ações", diz Takeo. Ainda contribui com a queda do Ibovespa o recuo de ações ligadas a commodities metalicas, após leve realização de lucros do minério de ferro na China, que cedeu 0,86% em Qingdao, a US$ 173,55 a tonelada, após subir quase 5% na véspera.>
Depois do reajuste anunciado ontem pela Petrobras, Bolsonaro anunciou em Live semanal de quinta-feira que não haverá nenhum imposto federal sobre o preço do óleo diesel por dois meses. O presidente considerou o aumento nos preços dos combustíveis, o quarto do ano, "fora da curva" e "excessivo". O mandatário reforçou que não pode interferir na estatal, mas ressaltou que a medida "vai ter consequência". Ontem, a companhia elevou o óleo diesel em 15,2% e em 10,2% a gasolina a partir de hoje.>
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