Formado em Economia pela Fucape e mestre em Contabilidade com foco em finanças e mercado de capitais pela mesma instituição; assessor de investimentos e sócio da Valor

Após euforia, para onde caminha o cenário de investimentos no país?

A dúvida que paira na cabeça dos investidores é se a queda atual na Bolsa é apenas uma correção momentânea em um mercado com tendência altista ou se estamos de fato caminhando para uma realidade mais adversa

Vitória
Publicado em 14/09/2023 às 09h07

O clima de euforia que contagiou o mercado brasileiro no segundo trimestre do ano perdeu força nos últimos meses. Desde o dia 26 de julho, quando o Ibovespa fez sua máxima do ano aos 122.560 pontos, o mercado já caiu quase 5%, retornando ao patamar dos 116.000 pontos. Nesse período, o índice bateu, inclusive, o recorde de pregões negativos em sequência, que perdurava desde a década de 70. Foram 13 pregões de queda do dia 1ª ao dia 17 de agosto.

Nesse cenário, a dúvida que paira na cabeça dos investidores é se a queda atual é apenas uma correção momentânea em um mercado com tendência altista ou se estamos de fato caminhando para um cenário mais adverso. Para responder essa nada trivial pergunta, é importante tentar entender quais são os fundamentos que sustentam o atual ciclo de alta nos mercados e se eles foram afetados nos últimos meses.

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O cenário atual ainda requer extrema cautela por parte dos investidores. Crédito: Austin Distel/Unsplash

O grande pilar que impulsionou a melhora do mercado doméstico foi a percepção de que o Brasil não caminharia para um cenário de ruptura no que diz respeito à política fiscal. Após as eleições presidenciais de 2022, houve um receio de que as medidas que impunham restrições ao crescimento do gasto público fossem completamente abandonadas no novo governo.

Além disso havia o receio de que reformas que o mercado avaliava como avanços institucionais, como a independência do Banco Centralreforma da previdência, reforma trabalhista, entre outras, fossem revogadas. Com a aprovação do novo arcabouço fiscal e uma postura firme do Congresso contra a agenda antirreforma, esses receios foram afastados. Assim, o mercado passou a atribuir uma chance muito menor de que o Brasil caminhasse para cenários extremos de desequilíbrio fiscal.

A despeito de todo a barulho político, que nunca deixou de estar presente, é seguro dizer que, nos últimos meses, não tivemos medidas efetivas que afetam significativamente este cenário de não ruptura fiscal.

Outro fator que ajudou os mercados no ano foi a atividade econômica mais forte que o esperado. No começo deste ano, o relatório Focus marcava um crescimento bastante tímido para o ano de 2023, por volta de 0,5%. As razões para o crescimento fraco estavam associadas, principalmente, aos efeitos de uma Selic em patamar elevado e aos receios de uma desaceleração na atividade global, que, em certa medida, se provaram corretos.

Entretanto, os fortes resultados do setor agropecuário e da indústria extrativa mineral forçaram uma revisão positiva das estimativas ao longo do ano. Com a divulgação dos números do segundo trimestre, que novamente surpreenderam as expectativas do mercado, as projeções para o PIB deste ano se situam próximas a 3%.

Por fim, uma outra alavanca para a recuperação dos mercados foi a expectativa do início de um ciclo de cortes na taxa de juros. A atuação precisa do Banco Central em identificar o problema inflacionário ainda em 2021 e implementar um ciclo de aperto monetário enquanto boa parte do mundo desenvolvido ainda debatia se a inflação era transitória ou não, permitiu que o Brasil pudesse, neste anon flexibilizar a política monetária de forma precoce, quando comparado ao restante do mundo.

Quando olhamos para os dados recentes de inflação, eles continuam em linha com o esperado. Ou seja, o ciclo de queda de juros não parece ter sido comprometido nos últimos meses.

Se os fundamentos domésticos não parecem explicar a piora do mercado dos últimos meses, o mesmo não pode ser dito do cenário externo. Os temores de que os juros devem permanecer em patamares elevados nos EUA se intensificaram nos últimos meses (detalhei melhor este tema na minha coluna do dia 17/08), fazendo com que o dólar se fortalecesse frente a quase todas as outras moedas e levando a uma performance negativa das principais bolsas globais.

Além disso, pesa sobre os ativos brasileiros o fato de a economia chinesa seguir apresentando fraco desempenho, mesmo em um cenário de aumento de estímulos por parte do Partido Comunista Chinês.

De uma maneira geral, os fundamentos domésticos que sustentaram a retomada da Bolsa brasileira neste ano parecem ainda estar presentes, de modo que é possível acreditar que a correção atual seja apenas um “respiro” de um ciclo mais longo de alta da Bolsa. Da mesma forma, é bastante seguro dizer que a queda recente está mais relacionada à piora das condições externas do que à deterioração desses fundamentos.

Dito isso, o cenário atual ainda requer extrema cautela, pois uma deterioração mais grave do cenário global ou uma eventual mudança nos ainda frágeis fundamentos domésticos pode fazer com que essa correção de curto prazo se transforme em uma tendência de médio/longo prazo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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