Formado em engenharia civil pela Ufes, pós-graduado em Finanças pelo IBMEC-MG e com mestrado em Administração pela Fucape, geriu o clube de investimentos Investvix entre 2011 e 2015. É assessor de Investimentos na Valor Investimentos desde 2016

Saiba se dolarizar a sua poupança é uma boa ideia

Muitas vezes, levadas por informações sobre o cenário econômico e de negócios no Brasil, muitas pessoas acreditam que o dólar sempre sobe e é um bom investimento, mas realidade pode ser diferente; confira

Publicado em 11/09/2023 às 09h02
Pelo acordo, os dólares comprados pela consumidora deveriam ser entregues na véspera da viagem
Pelo acordo, os dólares comprados pela consumidora deveriam ser entregues na véspera da viagem. Crédito: Agência Brasil

Um amigo me questionou sobre a possibilidade de dolarizar suas economias para custear a faculdade de Medicina da filha. Minha resposta imediata foi negativa. Em um cenário de taxas de juros elevadas no Brasil, o dólar geralmente perde terreno, e não vejo motivos sólidos para abandonar os rendimentos generosos de nossa renda fixa em favor da incerteza da moeda americana.

No entanto, esse questionamento me deixou pensativo e achei prudente aprofundar minha resposta. Felizmente, confirma-se que minha resposta inicial estava correta. Em várias janelas de tempo, o dólar não supera a rentabilidade dos Certificados de Depósito Interbancário (CDI) e, em muitos casos, fica abaixo da inflação.

 Crédito: André Motta
Crédito: André Motta

A valorização do dólar não segue uma tendência uniforme. Normalmente, há breves períodos de forte valorização, seguidos por períodos prolongados de estabilidade ou queda nos preços. A mídia frequentemente nos bombardeia com notícias negativas sobre a economia e o ambiente de negócios no Brasil e cria grande alarde quando o dólar se fortalece. Isso leva muitos a acreditarem que o dólar sempre sobe e é sempre um bom investimento, o que não condiz com a realidade.

Nos últimos anos, devido a debates políticos intensos e à alta da bolsa americana, a ideia de "dolarização" do patrimônio foi facilmente vendida. No entanto, nos últimos dois anos, o IVVB11, um ETF que replica a média da bolsa americana, está negativo em 3,2%, e o dólar desvalorizou 4%.

As finanças comportamentais explicam essa corrida ao topo do ciclo, tanto na bolsa quanto no dólar. O medo de perder uma festa, considerando que, nos anos anteriores houve valorizações significativas, levou muitos a investirem no momento errado. Infelizmente, muitos perderam dinheiro porque olharam apenas para os rankings de desempenho dos últimos 12 meses. Quem entrou na onda da “dolarização” deixou 25% de retorno do CDI nos últimos 2 anos na mesa.

É importante ressaltar que, para dolarizar parte do patrimônio, não é necessário enviar dinheiro para o exterior. Existem fundos dolarizados disponíveis em nosso sistema financeiro que investem nos mercados globais, oferecendo diversas alternativas. Portanto, quando faz sentido abrir uma conta em uma corretora offshore e fazer uma remessa de dólares?

Isso é relevante quando você pode utilizar esses dólares no exterior, em viagens, por exemplo, visto que os custos de transação e impostos são menores nesse caso, ou quando deseja acessar produtos financeiros específicos, como investimentos no mercado imobiliário americano ou mesmo títulos de renda fixa em dólares, que hoje encontram-se no patamar mais atrativo em muitos anos, em função das altas de juros recentes.

Em resumo, ter recursos depositados nos Estados Unidos pode fazer sentido, mas está longe de ser a solução mágica para todas as aplicações financeiras. É preciso analisar o momento do ciclo econômico para tomar essa decisão e contar com uma orientação sólida para escolher onde investir após a remessa de dinheiro. A decisão deve ser motivada mais pelo aumento da diversificação do portfólio de investimentos e menos pela busca por retornos extraordinários.

Portanto, não se deixe levar por notícias alarmantes sobre o Brasil seguindo o caminho de outras economias problemáticas, como Argentina e Venezuela. Nossas instituições estão bem consolidadas para evitar crises significativas. Não há risco no horizonte de volta da inflação, muito menos de confisco da poupança. O mercado financeiro, tanto aqui quanto lá fora, está repleto de boas oportunidades. 

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