Administrador de Empresas (UERJ), pós-graduado em Engenharia Econômica (UERJ), certificado CFP® e Ancord. 21 anos de carreira no mercado financeiro, com passagens pelo atendimento Private, Alta Renda, Gestora de Recursos, Tesouraria e Educadoria Corporativa. Desde 2018, sócio da Pedra Azul Investimentos, escritório de assessoria de investimentos sediado em Vitória-ES.

Título do Tesouro tem pegadinha por conta da queda de ICMS dos combustíveis

A taxa das NTN-Bs que vencem em agosto impressiona os investidores desavisados, há título público federal pagando IPCA + 22%, mas é preciso entender a conta que está por trás de uma taxa aparentemente tão alta

No fechamento do mercado do dia 6 de julho de 2022, a NTN-B (Nota do Tesouro Nacional série B), título público federal indexado ao IPCA, com vencimento em 15 de agosto de 2022, terminou “marcada” na taxa de IPCA + 22,6256% ao ano, conforme divulgado pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), fonte oficial para referência de fundos de investimento e instituições financeiras.

A taxa desse título, à primeira vista, está muito atrativa. Nenhum título que tenha um emissor de baixo risco, como é o Governo Federal, está pagando tanto no médio e longo prazo. As NTN-Bs mais longas estão acima de IPCA + 6% ao ano, o que já é historicamente alto, mas nada perto do título que vence no próximo mês.

Para entender por que isso está ocorrendo, vamos considerar um exemplo hipotético. Se temos uma NTN-B que vence em exatos dois meses, indexada ao IPCA, precisamos observar qual é a remuneração esperada da Selic para o período, já que a Selic serve de base para o cálculo de todos os outros títulos públicos federais, especialmente os de curto prazo.

Se a Selic corresponder a 1% ao mês, e o IPCA esperado para os próximos 2 meses for de 0,40% ao mês, em uma conta simples (não considerando a conta de juros compostos que é mais complexa, para facilitar o entendimento) a NTB-B pagará IPCA + 0,60% ao mês (1% menos 0,40%), o que seria algo como IPCA + 1,20% em 2 meses.

Como as taxas devem ser expressas em forma anual, esse título pagaria, nessas circunstâncias, algo próximo a IPCA + 7,20% ao ano, equivalente a IPCA + 1,20% no período até o vencimento, em 2 meses.

Cédulas do real: ES arrecadou no 1º trimestre de 2021 R$ 3,45 bilhões de ICMS
Cédulas de R$ 50 e R$ 100. Crédito: Joel Santana/Pixabay

Notem que se a inflação for menor, a taxa de juros da NTN-B aumenta. Suponhamos que o IPCA esperado pelo mercado fosse negativo no mesmo período, de menos 0,10% (negativo) por mês. Neste caso, a NTN-B deveria pagar IPCA + 1,10% ao mês. 1% corresponde à Selic, e 0,10% que anula o IPCA negativo.

Neste segundo exemplo, a NTN-B deveria pagar algo em torno de IPCA + 13,20% ao ano, uma taxa bastante alta. Para títulos indexados à inflação que vencem no curto prazo, essa é uma regra: se o mercado espera IPCA negativo, o cupom de juros do título é distorcido para cima, e se o mercado espera um IPCA muito alto, o cupom de juros do título é distorcido para baixo. Caso o IPCA esperado para o período seja maior que a Selic, o cupom de juros pode até ser negativo, como já ocorreu anteriormente.

É exatamente isto que está acontecendo neste momento. Com as recentes alterações que foram efetuadas na legislação que normatiza a tributação sobre combustíveis, aliviando a fatia do ICMS, os preços da gasolina nos postos já estão em queda acentuada. E isso deve impactar o IPCA de maneira muito forte, fazendo cair o índice nas próximas semanas, podendo inclusive gerar uma inflação negativa até o vencimento da NTN-B de Agosto/2022.

Por esse motivo, com IPCA esperado negativo e Selic alta, a taxa do título em questão está distorcida para cima. Portanto, não necessariamente um título com taxa de IPCA + 22% se constitui em uma oportunidade.

Na verdade, essa “marcação” do título com uma taxa aparentemente muito alta está alinhada com as expectativas do mercado para uma rentabilidade de 100% da Selic (Taxa Média SELIC) no período. E ainda assim embute um risco de que o IPCA efetivo seja maior ou menor do que o esperado na precificação do título na hora da compra, e aí está a oportunidade de ganho (ou perda) em cima da Selic.

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