Administrador de Empresas (UERJ), pós-graduado em Engenharia Econômica (UERJ), certificado CFP® e Ancord. 21 anos de carreira no mercado financeiro, com passagens pelo atendimento Private, Alta Renda, Gestora de Recursos, Tesouraria e Educadoria Corporativa. Desde 2018, sócio da Pedra Azul Investimentos, escritório de assessoria de investimentos sediado em Vitória-ES.

'Inverno cripto': entenda a queda das moedas digitais e se é hora de investir

As recentes quedas nos preços desses ativos digitais evidenciaram uma série de problemas, mas os motivos para este movimento encontram paralelos na economia tradicional

O Bitcoin teve seu preço máximo atingido em novembro de 2021, algo em torno de 69 mil dólares. Desde então, vem caindo com muita força e agora ronda os 20 mil dólares, uma queda de mais de 70%. Outras moedas importantes, como Ether e Cardano, seguiram o mesmo caminho, mas o impacto foi muito maior nas moedas menores. Um exemplo disso foi o colapso da rede Terra (LUNA), um token que perdeu praticamente todo o seu valor de uma hora para a outra.

Nesta semana, o fundo Three Arrows Capital (3AC), um dos principais hedge funds de criptomoedas no mundo, simplesmente quebrou. Não suportou a queda dos ativos e pode ter operado muito alavancado, gerando a sua liquidação. Algumas corretoras importantes, como a Binance, estiveram com operações suspensas por questões ligadas à regulação, adicionando mais tensão aos mercados.

Existe o temor de que ainda ocorram algumas quebras importantes no mercado de criptomoedas, com expectativa de que ainda possamos ver acontecer um evento como o “Lehman Brothers” das criptos.

Como já falamos anteriormente, o preço de uma criptomoeda tem a ver com utilidade, tecnologia e reputação. O Bitcoin leva vantagem por ser dominante e líquido, tendo valor nos três itens.

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Criptomoedas. Crédito: Jirapong Manustrong / Getty Images/iStockphoto

No entanto, estima-se que haja quase 20 mil criptomoedas diferentes no mundo, e muitos investidores procuram investir em projetos iniciantes, que possam ter potencial de crescimento. Da mesma forma, estas moedas em estágio inicial também podem ruir rapidamente.

Considerando todo o valor que possa ter uma criptomoeda, devemos lembrar que, em um mercado ainda pouco regulado, o valor de uma cripto depende simplesmente daquilo que outros aceitem pagar por ela. Se ninguém paga nada, ela não vale nada, porque não existe um garantidor. Se houver confiança em sua utilidade, tecnologia e reputação, haverá um comprador “segurando” o preço e provendo liquidez ao que vende, e consequentemente “marcando” a cotação da moeda em questão.

Para entendermos o momento atual, é necessário lembrar o que ocorreu nos mercados financeiros mundiais desde 2008. No auge da crise subprime, os bancos centrais, liderados pelo FED (banco central americano), diminuíram muitos as taxas de juros e começaram a injetar liquidez nos mercados, com o objetivo de evitar a quebradeira geral. No entanto, o efeito colateral foi a geração de um forte fluxo de recursos que migraram de fontes seguras com taxas próximas de zero à procura de mais retorno em países emergentes e ativos de risco.

Com a chegada da pandemia em 2020, e agora com a guerra na Ucrânia, o fenônemo inflacionário se estabeleceu de uma forma muito agressiva. Países desenvolvidos e sem histórico de inflação alta estão agora com alta de preços que chega a aproximadamente 8% ou 9% ao ano em moeda forte. Dessa forma, o FED iniciou em 2022 uma tardia “normalização” da sua política monetária, aumentando juros e enxugando liquidez, com o objetivo de conter a inflação. Isso causa uma contração de liquidez, e aumenta o temor de que haja uma recessão econômica a partir dos Estados Unidos.

O mundo inteiro tremeu, as Bolsas caíram, e as taxas de juros estão subindo em diversos países, incluindo o Brasil, cujo Banco Central se antecipou a esse movimento. Com a Rússia fora do sistema Swift e sofrendo sanções severas, e com a China balançando em sua economia, com crescimento esperado menor que 4% ao ano, muitos agentes econômicos vem procurando liquidez, saindo de investimentos arriscados e indo atrás de mais segurança e menos alavancagem.

Quando as criptomoedas começaram a ganhar importância, esperava-se que esse mercado se comportaria de maneira anticíclica, como se fosse um ouro digital, descorrelacionado de outros mercados de risco e se fortalecendo como uma reserva de valor. A comparação com o ouro é porque esse metal é considerado um porto seguro em tempos de crise, papel que teria sua versão diigital principalmente no Bitcoin, como criptomoeda dominante.

No entanto, não é dessa forma que as criptomoedas estão se comportando. Em suma, o mercado está fugindo das criptos da mesma maneira que está vendendo ações nas Bolsas. Se a expectativa era que as criptos funcionassem de forma anticíclica, neste momento o seu comportamento está muito mais correlacionado com outros ativos de risco, principalmente de Renda Variável. A visão que o mercado demonstra ter das criptomoedas não é de reserva de valor, mas de ativos arriscados que podem ser liquidados prioritariamente em caso de necessidade de liquidez.

Portanto, fica claro que o mercado de criptomoedas não é uma ilha, mas está inserido em um contexto econômico global, onde os investidores estão sempre em disputa por melhores retornos e menores riscos. Sendo assim, nada impede que os preços das criptos voltem a subir se a propensão ao risco retornar ao mercado financeiro.

O que precisamos lembrar é que por ser um mercado pouco regulado, fortemente influenciado por movimentos agudos de oferta e demanda, os preços podem sofrer fortes oscilações, e é por isso que a queda das criptomoedas nesse contexto se torna tão severa.

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