É educadora financeira graduada em Administração e pós-graduada em Gestão de Recursos Humanos. Tem mais de 22 anos de experiência com orçamento, investimentos e planejamento previdenciário.

O ano novo e a longa vida da velha poupança: o que explica isso?

Vilã ou mocinha? Bom rendimento ou aplicação ruim? Em sua coluna de estreia no canal Dinheiro, a educadora financeira Carol Campos analisa os prós e contras da queridinha "caderneta" de poupança

Vitória
Publicado em 06/01/2023 às 09h29
Atualizado em 06/01/2023 às 14h03
Poupança, cofrinho, cofre, moeda
Poupança sobrevive: mas afinal, caderneta é vilã ou mocinha?. Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Há uma intensa propaganda contra a poupança. Algumas pessoas pregam sua extinção arbritária.

É fato que a remuneração da poupança está abaixo da maioria dos CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) e do Tesouro Selic, sem falar de alguns bons fundos referenciados no DI e com boas taxas de administração. Hoje, porém, vamos refletir sobre as pessoas que sequer conhecem a tão antiga caderneta de poupança.

A grande maioria da população brasileira precisar usar o dinheiro assim que é creditado em conta corrente, fora os desbancarizados que sequer possuem uma. Não “sobra” para investir na poupança, muito menos em outros investimentos. Há os que melhoram de vida, mas deixam os recursos parados em conta corrente.

Há um componente na formação desse coletivo: o fator histórico. A história da poupança no Brasil mistura-se com a origem da Caixa Econômica Federal e de toda uma movimentação da elite brasileira para uma mudança econômica e social. Essas duas instituições foram responsáveis por fomentar a pequena poupança, a valorização “dos poucos individuais” para a formação “do muito coletivo”.

Ao efetivar o primeiro depósito, os cidadãos, inclusive escravos, recebiam uma caderneta de papel, em formato de caderno brochura com capa e contracapa e com os dados numéricos da poupança e os dados nominais de cada indivíduo, daí o nome: caderneta de poupança. Os depósitos ou retiradas subsequentes eram anotados na mesma (infelizmente, os escravos precisavam de autorização e tinham escrito na caderneta o nome de seu “senhor").

A poupança tinha uma áurea inclusiva, todo valor era aceito. De um real a um milhão, tudo era bem-vindo. Era um verdadeiro sinônimo de não exclusão, foi o primeiro investimento inclusivo sem depender de ouro, de prata, de terra, de gado...

O hábito de depositar mesmo pequenas quantias fomentou um excelente hábito de poupança no nosso país, fato que inclusive contribuiu para a transição de muitas pessoas das classes D e E para a C.

Em dias atuais, matematicamente, a poupança com certeza não compensa. É um fato. Com a taxa Selic (que é a taxa básica de juros, também chamada de taxa-teto ou taxa-mãe) a 13,75% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês + TR (a Taxa Referencial, que é quase igual a zero), o que representa em torno de 7,89% a.a. (ao ano).

Porém, para uma população ainda sem educação financeira e fiscal, pensar em taxas anualizadas, juros compostos, imposto de renda e declaração de bens e patrimônios... Fica mais fácil manter as suas decisões financeiras como sempre foram: receber o salário do mês, pagar contas e, se sobrar, investir na poupança.

O fator histórico está atrelado a memória afetiva de simplicidade e “segurança” da poupança, além da ilusão de que é melhor porque não há incidência de IR (Imposto de Renda).

Por isso não demonizo a nossa querida “caderneta de poupança”: ela faz parte da história brasileira. Sempre ensino assim: entre deixar dinheiro parado na conta corrente ou aplicar na poupança, eu incentivo a poupança. Mas depois de 30 dias (aniversário mensal que é requisito para auferir o rendimento mensal) já incentivo a buscar alternativas, principalmente se o hábito de poupar será constante. Hoje já há CDBs que permitem investir a partir de R$ 20.

A poupança não é vilã ou mocinha. Na verdade, a falta de educação financeira é a vilã, e a boa vontade para aprender é a mocinha. Vamos dar força e meios para a mocinha e assim vislumbrar a derrota da vilã.

Vamos dar o primeiro passo, mas sabendo que muito rápido (30 dias, só 30 dias) já é possível aprender o básico e dar o segundo passo com segurança, rentabilidade e liquidez. Podemos assim criar uma nova história, sem apagar o passado, e gerar novos marcos em que a formação de reserva de emergência individual será hábito, benéfica para o cidadão e para o país. 

E assim, do micro para o macro, fica mais fácil entender a importância de cada um para o todo.

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