Formado em engenharia civil pela Ufes, pós-graduado em Finanças pelo IBMEC-MG e com mestrado em Administração pela Fucape, geriu o clube de investimentos Investvix entre 2011 e 2015. É assessor de Investimentos na Valor Investimentos desde 2016

Investir nas ações da Vale ainda é um bom negócio?

Ações da mineradora acumulam uma queda de 21,8% no ano; entenda o que está por trás dessa situação e como analisar e decidir se vale a pena fazer o investimento

Publicado em 05/06/2023 às 09h05
Nos últimos 60 dias, segundo o Sindfer, a Vale  rescindiu o contrato de mais de 100 trabalhadores
Nos últimos 60 dias, segundo o Sindfer, a Vale rescindiu o contrato de mais de 100 trabalhadores . Crédito: Divulgação

Apesar de terem se valorizado mais de 4% na última sexta-feira, no ano, as ações da Vale acumulam uma queda de 21,8%. O que está acontecendo com as ações da nossa tradicional mineradora? Será que ainda vale a pena ter ações da empresa?

Recentemente, foi notícia na mídia um levantamento da gestora britânica Janus Henderson que afirmava que a mineradora brasileira cortou em US$ 1,8 bilhão sua distribuição de proventos no primeiro trimestre de 2023. A Vale teria sido a empresa da lista de maiores pagadoras de dividendos do mundo com o maior corte.

O motivo para essa redução é bem fácil de se explicar: a queda do preço do minério de ferro de 2021 para cá, que reduziu suas receitas e, consequentemente, seus lucros. Logo, é natural que a distribuição de lucros para os acionistas, na forma de dividendos, também se reduza.

Veja o gráfico do minério de ferro (em azul) e da Vale (em verde) a seguir:

Gráfico do minério de ferro (em azul) e da Vale (em verde) para coluna de André Motta
Crédito: André Motta

Sem aumentos significativos de produção há mais de 10 anos, as receitas e o lucro da Vale são quase totalmente dependentes das cotações do minério de ferro no mercado chinês. Comprar Vale, hoje, é praticamente comprar minério de ferro, visto que a correlação entre o preço das ações e a cotação de commodity é próxima a 1. Logo, é importante que o investidor analise como está o preço do minério de ferro antes de qualquer decisão; ele é o fator número um para queda ou alta na cotação das ações.

Em meados de 2021, tivemos um pico nas cotações que se mostrou insustentável, visto que, com a política de Covid Zero na China, a demanda pela commodity arrefeceu, derrubando os preços de US$ 225 para perto de US$ 100 hoje, com uma mínima perto de US$ 80 em outubro/novembro do ano passado. Sabemos se os preços voltarão a esse patamar? Não, não sabemos, porém sabemos que é bem menos arriscado comprar com os preços perto das mínimas dos últimos anos, do que em patamares muito superiores.

A casa de análises Lumi Research, em seu último relatório sobre a mineradora — em que considera uma curva para o preço do minério de ferro em queda, saindo dos atuais US$ 100 para perto dos US$ 80 de 2027 em diante —, informa que as ações da Vale poderiam estar sendo negociadas a R$ 83 e, ainda assim, ofereceriam um retorno médio de 16,5% a.a., ou seja, os preços atuais abaixo dos R$ 70 entregam uma perspectiva de taxa de retorno ainda melhor, porém é importante que o minério, na média, não fique abaixo dos US$ 80 e que o dólar se mantenha nas proximidades dos R$ 5.

Já o analista Daniel Nigri, do research Dia de Hoje, chama a atenção para oportunidades futuras da mineradora, com crescimento da produção de níquel e cobre, que hoje são pouco representativos nas suas receitas, e pelo prêmio de preço que o minério de Carajás recebe, em função de seu teor mais elevado de ferro que o da média mundial. Isso, para ele, justificaria o investimento na mineradora a longo prazo.

Olhando os relatórios de diversas casas de análise encontramos, em geral, “preços alvo” superiores aos R$ 68 atuais, alguns ;chegam a R$ 97, como no caso da XP, e até passam de R$ 100, como no caso do BTG. Porém, o que importa no fim, é o preço do minério de ferro. Esses cálculos vão variar de acordo com a premissa de preço com que cada analista alimenta seu modelo. Alguns serão mais otimistas; outros, mais conservadores, mas nenhum tem a capacidade de prever o comportamento futuro dos preços.

China
China é o maior consumidor de minério de ferro do mundo, sendo que 30% de sua demanda concentra-se na construção civil. Crédito: Pixabay

A China é o maior consumidor de minério de ferro do mundo, com 70% da demanda mundial, sendo que 30% de sua demanda concentra-se na construção civil, ou seja, 21% do minério de ferro do mundo é aplicado em novos imóveis chineses. O grande ponto é que o estoque de unidades imobiliárias à venda na China é o maior dos últimos 10 anos e, segundo o banco americano Goldman Sachs, pode levar de 15 a 25 meses para que estas sejam vendidas.

Logo, é natural um arrefecimento na construção de novos imóveis, resultando em menor consumo de aço e de minério de ferro. Ou seja, o curto prazo é desafiador. A longo prazo, a pergunta que fica é: continuarão os chineses a construir como nos últimos 20 anos e a impulsionar os preços do minério de ferro?

De qualquer forma, para quem compra as ações nos preços de hoje, se faz necessário apenas que as cotações do minério de ferro se mantenham, para que a taxa interna de retorno projetada para a Vale supere os retornos da renda fixa com um bom prêmio de risco no longo prazo.

Para encerrar, deixo um disclaimer de que não sou analista de valores mobiliários e as opiniões e conclusões aqui foram baseadas em relatórios de casas especializadas e credenciadas junto à Apimec. Não emito nenhuma recomendação de compra ou venda de qualquer ação.

A Gazeta integra o

Saiba mais
dinheiro Investimentos Mercado Financeiro Minério de Ferro Mercado de Ações André Motta

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.