Indústria tem acelerado investimentos em tecnologia para melhorar a competitividade
Indústria tem acelerado investimentos em tecnologia para melhorar a competitividade. Crédito: Arte Geraldo Neto

Indústria do ES usa até câmera de detectar câncer para melhorar produção

Empresas investem em inovações associadas ao potencial da IA para melhorar processos, visando ao aumento da produtividade

Tempo de leitura: 7min
Vitória
Publicado em 28/05/2023 às 08h49

Na era do ChatGPT, a indústria do Espírito Santo tem acelerado investimentos em tecnologia para não ficar para trás na corrida por competitividade, produtividade, qualidade, segurança e lucro. As empresas, principalmente as de grande porte, têm adotado veículos autônomos, robôs, inteligência artificial (IA) e até adaptado equipamentos da área da saúde para dar mais eficiência à produção.

Na Garoto, a inteligência artificial é adotada em uma máquina que separa cascas e outras partes indesejadas das castanhas que vão compor o tradicional chocolate Talento.

Gustavo Moura, gerente do Programa de Transformação Digital para Operações da Nestlé Brasil, conta que a tecnologia para esse controle de qualidade veio de um sistema usado na área da Medicina, com câmeras que têm sistema de visão para detectar câncer.

“Nessa linha, temos uma câmera que, a partir desse ecossistema de inovação vindo do segmento de saúde, trazemos como elemento adicional de controle de qualidade para detectar elementos fora da conformidade das castanhas, como cascas, e eliminá-las, para que não passem para o chocolate. Isso é feito com uso da inteligência artificial”, explica Gustavo, detalhando que antes o controle era feito por amostra.

Outro exemplo detalhado por ele é o uso da IA para melhoria no processo de limpeza do material incrustado nos equipamentos. Para esse processo, foi feita uma coleta de dados da fábrica para, via "machine learning" (aprendizado de máquina), auxiliar o operador a saber o melhor momento de fazer a limpeza da linha. Outros modelos auxiliam a prever quando haverá entupimento em tubulações.

A máquina que faz a casca do wafer do bombom Serenata também é abastecida com parâmetros que ajudam o sistema a desenvolver um produto com melhor crocância e usando menos gás, explica o gerente.

Gustavo Moura

Gerente do Programa de Transformação Digital para Operações da Nestlé Brasil

"No final do dia, a gente não está fazendo isso por causa da tecnologia, é apenas um meio. O objetivo final continua sendo termos produtos de qualidade que encantam nossos consumidores e são responsáveis pelo uso da tecnologia para ajudar a gente a ser eficiente"

Segurança e eficiência 

Na ArcelorMittal Tubarão, muitas das soluções desenvolvidas são voltadas para segurança nas dependências do parque industrial. A IA também é aplicada para o funcionamento de veículos autônomos.

A gerente de Transformação Digital da ArcelorMittal Tubarão, Luciana Secolo Morgan, detalha que, entre as tecnologias que foram implementadas na empresa, está um sistema anticolisão que usa a IA para parar empilhadeiras na área do porto, caso identifique um obstáculo.

Luciana Secolo Morgan, gerente de transformação digital da ArcelorMIttal Tubarão
Luciana Secolo Morgan, gerente de Transformação Digital da ArcelorMIttal Tubarão. Crédito: Fernando Madeira

Luciana Secolo Morgan

Gerente de Transformação Digital da ArcelorMittal Tubarão

"Já implementamos alguns itens voltados para segurança. Em algumas máquinas, há o sistema anticolisão. Em alguns equipamentos, instalamos sistemas de câmeras que ensinam para uma máquina os obstáculos. De forma que, quando ela identifique, vá reduzindo até parar. Isso tem sido usado em empilhadeiras na área portuária que movimentam placas e bobinas"

A IA ainda está no dia a dia na empresa para aumentar a segurança nas áreas de produção. Nesse sistema, quando um funcionário entra em área de risco, onde não pode circular, avisos sonoros são emitidos para alertar sobre a zona de risco.

A empresa também está investindo em levar inteligência artificial para veículos autônomos. Uma das novidades é um micro-ônibus que está circulando em fase de testes na área industrial da ArcelorMittal com capacidade para 20 pessoas, há algumas semanas, e já circulou em teste sem motorista.

O veículo tem seu percurso orientado pelo mapa, reconhece pessoas, faixa de pedestre e semáforos. “Nós temos três linhas que circulam dentro da empresa e, no futuro, esse micro-ônibus pode apoiar a rota circular”, detalha Luciana.

Para o conselheiro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (Ibef-ES) Evandro Milet, o surgimento do ChatGPT chamou a atenção para a importância da inteligência artificial. Na visão dele, a tecnologia tem mais potencial de ajudar na produtividade do que substituir postos de trabalho.

“Os profissionais que souberem interagir e usar a ferramenta podem auxiliar no refinamento do trabalho. Quem souber usar bem vai aproveitar mais e tirar vantagem”, detalha.

Veículo autônomo para aumentar produtividade

Quem também investe em veículo autônomo para melhoria na produção é a VIX Logística, que lançou nos últimos meses o primeiro trator com tecnologia de automação no Brasil, o Galileu. Esse é o primeiro veículo do tipo com o nível 4 de automação, ou seja, que consegue se locomover sozinho.

O veículo funciona a partir de comandos e limites previamente definidos, com o objetivo de tracionar cargas de altos volumes. Algumas das atividades possíveis para o Galileu são o tracionamento de reboques com placas e bobinas de aço, celulose e madeira.

Galileu, primeiro veículo de carga autônomo feito no Brasil
Galileu, primeiro veículo de carga autônomo feito no Brasil. Crédito: Pix Fotografia

A solução prevê aumento de produtividade, controle sobre a operação e integração entre as atividades e as operações logísticas internas das plantas industriais através de software de gestão dos recursos e conexão com a ferramenta de controle de demanda do cliente.

Investimento em segurança e manutenção

Vale informou que investe em inteligência artificial para aumentar a segurança das operações e a confiabilidade dos ativos, além de incrementar a produtividade. Uma das linhas de projetos é a de predição de falhas.

“Os especialistas captam milhões de dados a partir de sensores instalados em equipamentos e de outras variáveis da operação, analisam as informações e, com o apoio de modelos matemáticos, geram insights que ajudam a prever quando esses equipamentos poderão apresentar falhas. Dessa forma, é possível evitar a quebra da máquina, o que poderia causar prejuízos ao negócio e, principalmente, danos aos empregados da operação”, informa a empresa.

Em 2019, a empresa criou o AI Center, seu centro de inteligência artificial em Vitória, com o objetivo de desenvolver e monitorar as iniciativas dessa ciência nas unidades da empresa em vários países.

Startups ajudam no caminho pela inovação

No caminho para a inovação, as empresas têm optado por saídas construídas internamente ou buscado soluções que estão sendo desenvolvidas por startups. O FindesLab é uma das entidades que reúne várias startups que atuam desenvolvendo ideias e soluções para negócios capixabas.

Desenvolvendo tecnologia de veículos autônomos como os que circulam em Tubarão, por exemplo, está a Lume Robotics. A empresa — que surgiu a partir de um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) — usa várias tecnologias, inclusive inteligência artificial e visão computacional, para desenvolver veículos que funcionem de forma autônoma.

Rânik Guidolini

Diretor executivo da Lume

"Entre as vantagens está a redução de acidentes, do uso de combustíveis e emissão de poluentes, deixando-os mais sustentáveis e reduzindo a necessidade de manutenção com grande eficiência operacional"

Para o funcionamento dos veículos, o sistema processa imagens e dados do ambiente ao redor do veículo, que passa a entender o que é meio-fio, semáforo e outros elementos do trânsito.

“Nós temos observado uma demanda crescente por soluções em tecnologia, redução de custos e aumento da competitividade”, diz Rânik.

Caminhão autônomo da Lume que está sendo desenvolvido para a Fábrica Ypê
Caminhão autônomo da Lume. Crédito: Divulgação

Já a Dersalis é uma empresa que usa inteligência artificial em prol da execução do trabalho em segurança. A empresa desenvolve ferramentas que atuam de forma a permitir maior previsibilidade sobre condições que podem colocar operadores em risco, como sonolência, falta de atenção, temperaturas elevadas ou muito baixas. A aplicação atende uma gama grande de atividades, envolvendo siderúrgicas, petroquímicas, transportadoras e outras.

“Nós coletamos e analisamos os dados vitais dos profissionais que atuam em atividades de risco para garantir que eles não estejam sozinhos e a gente possa antecipar esses eventos que eles mesmo podem não perceber”, explica Pedro Guizardi, CEO da Dersalis.

Guizardi detalha que o vestível é o meio pelo qual é realizada a coleta de dados. É onde sensores utilizam luzes para extrair dados do fluxo sanguíneo. “Este ano lançaremos a segunda versão, que tem o objetivo de garantir mais mobilidade, permitindo o uso em diferentes partes do corpo e podendo ser integrado ao próprio uniforme de trabalho”, acrescenta.

 ArcelorMIttal Tubarão investe em inteligência artificial
ArcelorMittal Tubarão investe em Inteligência Artificial. Crédito: Fernando Madeira

Especialistas debatem a importância da IA

Para Juan Pablo Boeira, pós-doutor em inteligência artificial e CEO da AAA Inovação, a IA é a grande quebra de paradigma desde a pedra lascada e o fogo. Ele enumera todas as evoluções que a geração atual vem vivenciando na computação.

A primeira grande mudança veio com o sistema operacional Windows. "Do Windows 1 ao 95, tivemos muitas evoluções. Mas do 95 para o 11 são poucas as evoluções. Começamos a bater no teto", avalia.

Outra tecnologia significativa apontada por Juan Pablo foi o smartphone. Ele ressalta também que, da primeira até a sétima versão, as evoluções foram constantes. Por outro lado, da 7ª para a 14ª, isso ficou mais restrito.

"A IA está só começando. Temos tudo para evoluir e crescer. O que percebemos dentro desse contexto, levando em consideração o que precisamos hoje em dia, é que qualquer empresa tem que ter muito claro seus processos. Se as coisas estão acontecendo devagar é porque a empresa está usando a IA de maneira errada ou não está usando. Hoje já existem 1.500 tipos diferentes de IA para poder usar no dia a dia", frisa Juan Pablo.

Na opinião de Melqui Macedo, diretor de inovação do Base 27, um hub de inovação formado por mantenedores de várias grandes empresas capixabas, a inovação como um todo sempre tem objetivo muito claro e entendê-la ajuda a economizar e a remunerar. Quando a inovação não produz resultado prático, a empresa não inovou.

"A inteligência artificial consegue cumprir essa necessidade da inovação e é um motor para gerar resultados. A inovação é algo gerenciável e tem que trazer métricas claras e investimento de longo prazo. Ela pode, sim, mudar o negócio", ressalta.

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