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Justiça marca interrogatório de 12 réus por morte de vereador no ES

Três pessoas acusadas pelo crime permanecem detidas;  candidato à reeleição, Leomar Cazotti Mandato, foi  morto a tiros enquanto fazia campanha

Vitória
Publicado em 31/12/2025 às 03h30
Leomar Cazotti Mandato
Leomar Cazotti Mandato, vereador assassinato. Crédito: Arte - Camilly Napoleão com Adobe Firefly

Foi agendada para maio do próximo ano, a primeira audiência em que vão ser ouvidas as testemunhas e feito o interrogatório de doze pessoas denunciadas pelo assassinato do vereador Leomar Cazotti Mandato (PV), de 43 anos, ocorrido em Governador Lindenberg, no Noroeste capixaba.

No último dia 19, o Juízo da 1ª Vara Criminal de Colatina decidiu ainda manter a prisão de três réus. Uma quarta pessoa, que chegou a ser detida, foi liberada com as chamadas medidas cautelares, as mesmas impostas a outros denunciados.

Elas incluem a proibição de comparecer em comícios e eventos políticos e de ter contato interpessoal com testemunhas e outros acusados não familiares e a obrigação de se apresentar em juízo mensalmente. Os réus também não podem deixar a cidade sem autorização judicial.

Com a decisão, permanecem detidos:

  • Maycon Oliveira Trarbach 
  • Leandro Ferreira de Melo 
  • José Augusto Ferreira de Melo 

Respondem ao processo em liberdade,  com medidas diversas da prisão:

  • Warley Casagrande Nascimento
  • Reinaldo de Oliveira 
  • Gleydstone Oliveira Rodrigues do Amaral 
  • Sérgio Soares Rodrigues 
  • Leonardo Lima Trarbach 
  • Flávio Trarbach 
  • Leopoldo do Rosário Hammer 
  • Wagner Oliveira Goes 
  • Guilherme Koehler Endlich

A audiência de instrução e julgamento foi agendada para o dia 25 de maio de 2025, a partir das 13 horas. As defesas negam as acusações. (veja abaixo)

A morte

O crime aconteceu no dia 30 de agosto de 2024, durante um evento político na cidade. O político, então candidato à reeleição, foi assassinado a tiros enquanto fazia campanha.

Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), descrita em decisão judicial de outubro, Maycom Oliveira Trarbach, supostamente inconformado com as denúncias de corrupção feitas pelo vereador Leomar Cazotti Mandato contra a empresa por ele administrada, planejou o homicídio em conjunto com Warley e Reinaldo de Oliveira. “A fim de silenciá-lo e garantir a impunidade dos desvios de verbas públicas”, diz o texto judicial.

O relato é de que coube a Maycom a coordenação de toda a logística do crime, adquirindo a motocicleta utilizada na execução, contratando os executores Leandro Ferreira de Melo e José Augusto Ferreira de Melo, e providenciando a fuga e o abrigo destes após o crime.

“No dia 30 de agosto de 2024, Leandro e José Augusto aproximaram-se da vítima em uma motocicleta Honda Twister preta e efetuaram disparos de revólver calibre .38, matando-a. No dia seguinte, Warley manteve contatos com um dos comparsas, confirmando sua participação na trama”, é informado no texto judicial.

As prisões começaram a ser feitas em maio deste ano, nove meses após o assassinato do vereador, na primeira e segunda fase da operação Lista Negra. Um dos réus foi localizado em São Paulo.

O que dizem as defesas

A defesa de Reinaldo Soares é realizada pelo advogado Carlos Guilherme Pagiola. Ele destaca que ao longo de toda a investigação foram constatados erros graves e falhas estruturais na condução dos trabalhos.

“O ponto inicial e mais relevante foi a confusão entre pessoas distintas que possuíam apenas o primeiro nome semelhante, mas sobrenomes e CPFs completamente diferentes. Esse erro de identificação levou à indevida inclusão de Reinaldo na investigação e, consequentemente, à decretação de medidas invasivas, como a quebra de sigilos telefônicos e de dados pessoais”, assinala.

Acrescenta que, apesar de todas as diligências, não há provas que indiquem a participação de Reinaldo no crime. “Ele não esteve no local dos fatos, não manteve contato com investigados ou acusados, e não há qualquer registro de vínculo com pessoas supostamente envolvidas”.

Segundo o advogado, Reinaldo nunca manteve contratos com a Prefeitura de Governador Lindenberg, nem participou de licitações ou relações comerciais com o município nos últimos anos.

“Não existe base fática para sustentar qualquer tese de motivação política, que chegou a ser aventada de forma genérica. Diante da ausência absoluta de provas, a defesa vem sustentando, desde a fase inicial, que a permanência de Reinaldo no processo decorre exclusivamente desse erro de identificação”.

Ele adianta que em decorrência desta situação, já foi pedido o afastamento das acusações contra o seu cliente e que será pleiteada asua absolvição sumária.

“Inclusive, a própria magistrada responsável pelo caso reconheceu a fragilidade do conjunto probatório até o momento, registrando a necessidade de uma investigação mais aprofundada, o que reforça a inexistência de elementos mínimos capazes de sustentar qualquer imputação penal contra Reinaldo”, assinala Pagiola.

Sérgio Soares Rodrigues é representado pelo advogado Angelo Gramlich. Ele afirma estar convicto de que seu cliente não teve nenhuma participação nos fatos que resultaram no crime.

“A acusação é uma conjectura de que ele teria auxiliado cedendo a sua propriedade rural - coisa que ele fazia recorrentemente para parentes e amigos - e que lá planejaram o crime. Além disso, no dia e horário do crime, ele estava com a família em uma lanchonete, com álibi, o que está sendo documentado em Investigação Defensiva (investigação realizada diretamente pela defesa)”, assinala Gramlich

Ele acrescenta que inicialmente foi solicitado acesso às provas digitais do caso, o que foi negado. “Mas obtivemos vitória no Supremo Tribunal Federal (STF) para ter acesso a essas provas. Todavia, elas ainda não foram disponibilizadas pela acusação e aguardamos isso para evidenciar a nossa linha para a audiência designada”, finaliza.

Warley Casagrande Nascimento é representado pelo escritório Batista & Dalapicola Advogados Associados. A equipe reitera plena confiança na absolvição do seu cliente.

“Tal convicção baseia-se na análise minuciosa dos autos, que demonstram de forma inequívoca a ausência de qualquer prova que vincule o acusado ao trágico homicídio do vereador Leomar Cazoti Mandato”, informam, em nota.

A defesa de Leopoldo do Rosário Hammer é realizada pelo advogado Antonio Luiz de Souza. Ele informa que confia que, ao final da instrução processual, “os fatos serão devidamente esclarecidos”.

Maycon Oliveira Trarbach, Leonardo Lima Trarbach e Flavio Trarbach são representados pelo advogado Magnus Antonio Nascimento Colli. Em nota ele destaca que “as primeiras investigações apontavam que a vítima Leomar Cazotti Mandato possuía muitos desafetos, havendo diversas denúncias anônimas apontando suspeitos inclusive do alto escalão”.

Contudo, destaca que a investigação foi encaminhada para Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos, e se direcionou “exclusivamente aos denunciados”.

Observa que Maycon foi, ouvido em duas oportunidades pela polícia, teve seu celular apreendido e, mas que nenhuma conversa comprometedora foi identificada.

“Maycon nega de forma veemente qualquer participação e atribui sua menor relevância política e financeira para justificar a acusação contra si, sendo, inclusive, o único ainda preso dentre os apontados mentores, pois tanto que seu tio (Reinaldo) e sócio (Warley Casagrande) se encontram em liberdade”, informa, acrescentando que novas provas inseridas no processo pelas demais defesas e pela polícia tornam “mais evidente o excesso de subjetivismo na acusação, não se sustentando o enredo trazido no IP”.

Em relação a Flavio, aposentado, e Leonardo, caminhoneiro profissional, que são respectivamente pai e irmão de Maycon, relata que provas anexadas ao processo, como imagens do cerco eletrônico, revelam que chegaram à cidade após o dia do crime e que na hora que os fatos ocorreram estavam na serra.

E observa que Flavio comprovou que entre 11/2023 e 11/2024, morava em Cariacica, próximo ao hospital onde sua esposa faz tratamento oncológico.

“São muitas as inconsistências e a defesa acredita na inocência dos seus clientes, não só por suas versões contadas, mas, principalmente, pela frágil e subjetiva prova até então produzida pela acusação que vem sendo desconstruída a cada nova defesa dos demais réus ou novo documento juntado aos autos, sendo que a Instrução servirá para desmontar, em definitivo, a narrativa do IP acerca da participação deles no crime”, assinala o adviogado.

Os demais advogados não foram localizados ou não retornaram a demanda feita pela coluna. O espaço segue aberto às suas manifestações.

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