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Como a 'Tropa do Urso' venceu rival para dominar o tráfico em Colatina

O grupo criminoso foi alvo de uma operação das forças de segurança na manhã desta quarta-feira (23); seus líderes estão foragidos

Vitória
Publicado em 24/04/2025 às 03h30
faccção colatina
Crédito: Arte - Sabrina Cardoso com Microsoft Designer

Após diversas tentativas ao longo de um ano, os rivais conseguiram por fim a vida de João Vitor da Silva Guimarães, 22 anos. Foi a cartada final que garantiu à Tropa do Urso a hegemonia na atuação criminosa em Colatina, ao eliminar em uma emboscada a liderança do principal grupo de resistência. A cidade, com pouco mais de 120 mil habitantes no Noroeste do Espírito Santo, segundo o Censo de 2022, tem pelo menos dez bairros sob domínio do tráfico.

Embora ainda existam pequenos grupos que se opõem aos criminosos ligados ao Comando Vermelho, era João Vitor quem mais os enfrentava. Ele comandava a “Tropa do Nono”, em referência ao apelido de Bruno Gomes Faria, o único dos três "Irmãos Vera" foragido no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, de onde lidera o Terceiro Comando Puro (TCP) em solo capixaba.

Após tentativas frustradas, algumas até com mortes de terceiros e integrantes de seu grupo, a "Tropa do Urso" armou uma emboscada para João Vitor. Infiltrou na organização dele, com a ajuda de um traidor, uma pessoa de Jaguaré. Ele conseguiu fazer amizades no local e convencer o líder da Tropa do Nono e alguns de seus amigos a participar de um ritual religioso.

Eles foram para o local sem armas, ao contrário do infiltrado, que aproveitou a oportunidade e matou João Vitor no dia 28 de novembro de 2024 com três tiros, no bairro Carlos Germano Naumann. Pelo menos mais uma pessoa foi ferida na ocasião.

Após a morte, o TCP ficou fragilizado na cidade, relata o delegado Deverly Pereira Junior, titular da Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) de Colatina. 

Com o enfraquecimento dos rivais, sob o custo de muitas mortes — incluindo de seus integrantes até em confrontos com a polícia —, e intimidação contra potenciais adversários, a Tropa do Uso conseguiu reduzir a resistência e conquistar a hegemonia criminosa na cidade.

Hoje os principais conflitos ocorrem dentro da própria organização, com a cobrança de dívidas e infidelidade entre os integrantes, que pegam drogas de outros grupos para vender.

Líderes no Rio

As três principais lideranças da “Tropa do Urso”, que atuam em Colatina e outras cidades vizinhas no Noroeste do Estado, fugiram para o Rio de Janeiro, onde se escondem sob as asas do Comando Vermelho. Pelo menos um deles lidera a lista das pessoas com o maior número de mandados de prisão no Espírito Santo. Confira:

  • Bryan Lyrio Deolindo - 13 mandados de prisão - é o número um da Tropa do Urso
  • Hugo Henrique dos Santos - 7 mandados de prisão
  • Vinicius Lung - 3 mandados de prisão

Do Rio, onde se escondem, comandam o tráfico por intermédio, na maioria das vezes, de chamada de vídeo.

Foi o artifício que encontraram para manter a prática do Comando Vermelho de que as principais decisões precisam ser acompanhadas de perto pelas lideranças da facção ou grupo criminosos. Como estão foragidos, usam a tecnologia para coordenar a venda de drogas e até as execuções.

Foi o que ocorreu em janeiro deste ano, segundo denúncia apresentada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) à Justiça estadual. A ordem por chamada de vídeo foi para que retirassem a criança que estava no colo da vítima e a executasse, o que foi feito.

É uma atuação, segundo as forças de segurança locais, que tem mudado o perfil da criminalidade, com aumento no número de homicídios, execuções, invasões de casas seguidas de morte, ataques mais violentos por expansão de território, uso de armamento mais pesado, maior volume de drogas e intercâmbio de criminosos. Um deles matou o principal rival do grupo.

Visando desarticular a atuação da “Tropa do Urso”, na manhã desta quarta-feira (23) foi realizada a Operação Wyoming pelas equipes da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado do Espírito Santo (Ficco), da Polícia Civil e da Polícia Militar que atuam em Colatina, e Ministério Público do Espírito Santo (MPES). Um dos presos foi Douglas Deolindo de Souza, operador financeiro do grupo e primo de Bryan.

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